Iguatu. "Este ano não vai ser/Igual àquele que passou/Eu não brinquei/Você não brincou'. Com certeza, o início da letra da inesquecível marchinha 'Até Quarta-Feira' retrata bem a realidade vivenciada, neste ano, pelos municípios do Interior do Estado que enfrentam escassez de água, enormes dificuldades financeiras e decidiram cancelar o Carnaval.
Menos cidades do que em 2015 vão promover a festa. Os moradores do sertão que desejam brincar terão de colocar o pé na estrada e partir em busca da festa em cidades litorâneas. Na região Centro-Sul, cidades que promoviam grandes carnavais como Acopiara, Várzea Alegre e Catarina já anunciaram o cancelamento do evento. Os gestores alegam dificuldades financeiras e priorizaram aplicar recursos no pagamento de salários atrasados e no setor de Saúde.
Para reforçar o espírito de fim de festa, promotores de Justiça e o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) orientam os gestores a evitar gastos com os festejos carnavalescos. "É inconcebível promover Carnaval se os salários de servidores estão atrasados e há outras despesas mais urgentes", disse o presidente do TCM, Francisco Aguiar.
Parece que os gestores ouviram o recado do TCM. Na última sexta-feira, no Portal das Licitações, sete municípios constavam com abertura de processo de concorrência específica para o Carnaval: Aracoiaba, Aracati, Bela Cruz, Granja, Icapuí, Sobral e Ubajara. Outras cidades já anunciaram que vão realizar a festa: Fortim, Orós e Paracuru. Devem aparecer na lista nos próximos dias. Há aquelas que ainda estão por decidir: Beberibe, Ubajara (embora já tenha aberto licitação), São Benedito e Tianguá.
O prefeito de Acopiara, Dr. Vilmar Félix, já priorizou que vai investir recursos para a reabertura do Hospital Geral Suzana Gurgel do Vale e decidiu, portanto, cancelar o Carnaval.
No ano passado, a Prefeitura de Várzea Alegre driblou a crise, privatizando o espaço de evento, mas neste ano a Câmara de Vereadores não votou mensagem autorizando a concessão do espaço público. Além disso, o salário de 1500 servidores da Saúde e da Educação, referente a dezembro passado, está atrasado. Resultado: Carnaval cancelado. Funcionários em greve.
Até mesmo a subvenção que era dada para as escolas de samba Unidos do Roçado de Dentro (Esurd) e Mocidade Independente do Sanharol (MIS), no valor total de R$ 30 mil, foi cancelada pela Prefeitura de Várzea Alegre. "Vamos priorizar o recurso para o pagamento da folha de pessoal", disse o prefeito Vanderlei Freire. Na sexta-feira passada, o prefeito de Catarina, Rafael Paes de Andrade, decidiu suspender o Carnaval, a exemplo do ano passado e justificou: "Há uma crise, dificuldades, e os recursos serão destinados para compra de ambulâncias". Carnaubal também cancelou a festa. O balneário está seco e não há como atrair os foliões.
Outros gestores alegam, entretanto, que é preciso manter a folia para alegria dos brincantes e movimentação econômica da cidade. Dessa forma, o evento seria um atrativo turístico que atrai milhares de pessoas e movimenta a economia local.
O prefeito de Granja, Romeu Aldigueri, disse que a festa é tradicional no Rio Coreaú, gerando emprego, renda e atraindo milhares de pessoas. "Vamos investir cerca de 600 mil reais", anunciou.
Orós vai enfrentar as dificuldades e promover a festa na margem do açude de mesmo nome, com animação do meio-dia às 22 horas. A gestão não anunciou o orçamento da festa. Em Fortim, haverá folia. A previsão é de gastos em torno de R$ 200 mil. Paracuru promete repetir sucessos anteriores, mas não informou o valor a ser gasto.
No litoral, Aracati mantém um dos maiores carnavais do litoral, com participação da iniciativa privada. Há trios elétricos e uma multidão sem fim nas ruas. No sertão, o Ministério Público em Tauá recomendou o cancelamento do Carnaval, mas a tendência é a Prefeitura seguir a vontade dos jovens e manter a realização da festa.
Orientação
O TCM orienta que não basta as prefeituras observarem a questão legal, mas é preciso levar em consideração aspectos sociais e econômicos. Afinal, há em vigor um decreto estadual de emergência e já são quatro anos seguidos de seca. "É preciso observar princípios administrativos de razoabilidade, oportunidade e viabilidade", disse a diretora de fiscalização do órgão, Telma Escóssio. Para Francisco Aguiar a crise econômica deve afetar ainda mais as Prefeituras em 2016 em decorrência de aumento de despesas e queda nas receitas. "O momento é de prevenção, cautela". O presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Expedito Nascimento, disse que a tendência é de cancelamento do Carnaval nos municípios que vinham mantendo a tradição.
Diário do Nordeste