O delegado Claudio Rossi, da Delegacia Sede de
Guarujá, no litoral de São Paulo, informou que cinco pessoas suspeitas de participação no linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, no sábado (3), em Guarujá, no litoral de São Paulo, estão sendo identificadas. Segundo o delegado, um suspeito detido nesta terça-feira (6) já teve a prisão temporária decretada.
Fabiane foi atacada por uma multidão depois da publicação de um retrato falado em uma página no Facebook de uma mulher que realizava rituais de magia negra com crianças sequestradas. A dona de casa morreu na manhã de segunda-feira (5) após passar dois dias internada no Hospital Santo Amaro.
Valmir Dias Barbosa, de 48 anos, foi detido no bairro Morrinhos, a mesma região onde a vítima morava e foi atacada. Segundo a polícia, ele confessou a participação na agressão que acabou resultando na morte de Fabiane. O homem foi reconhecido após as imagens do linchamento terem sido entregues à polícia. Outras duas pessoas foram levadas à delegacia. Segundo a polícia, elas testemunharam os fatos, conheciam a vítima e o homem que foi preso.
Barbosa foi encaminhado para a Delegacia Sede de Guarujá no início da noite, depois que sua prisão temporária foi decretada. Ele alegou que tem filhos e que participou da ação por acreditar que as acusações à vítima, de que sequestrava crianças para rituais de magia negra, eram verdadeiras. 'Aconteceu e aconteceu. Não posso fazer mais nada', disse ele.
De acordo com o delegado, Barbosa é o principal suspeito do crime, já que teria sido ele quem acertou a cabeça de Fabiane com um pedaço de madeira. "Dá a impressão que aquilo piorou a situação dela, o que contribuiu e reforçou que seja ele o principal autor desse homicídio", afirma
O delegado diz que, após a morte de Fabiane, começaram a ser veiculadas na internet e na mídia várias imagens, já que havia cerca de 200 pessoas no local. "Hoje veio a informação do indivíduo que teria dado uma paulada na vítima, que aparece mais em destaque. Tínhamos o endereço dele, os policiais do 1º Distrito Policial de Guarujá, coordenados pelo delegado Lara, foram ao local, prenderam o indivíduo e o conduziram à delegacia. Ele prontamente confessou a sua participação. Também foram localizadas duas testemunhas que estavam com o Valmir. Elas confirmaram essa versSegundo o delegado, outras cinco pessoas aparecem em algumas imagens e a polícia depende da identificação e do endereço desses suspeitos para encontrá-los. "A população está colaborando, estão informando, viram que cometeram um absurdo, uma barbaridade. Até mesmo as pessoas que estavam no local aplaudindo, concordando, gritando, depois viram a realidade, viram que tinham cometido uma injustiça e estão colaborando conosco", diz.
Como havia muitas pessoas no local, Rossi explica que algumas não serão identificadas. "Alguém vai sair sem ser punido, sem ser identificado nesse caso. Todos que, de alguma forma, participaram, deveriam respondem por crime de homicídio, mas sabemos que alguém vai deixar de ser responsabilizado", lamenta. Ele afirma ainda que a polícia tem a obrigação de identificar os suspeitos, mas também há o cuidado de não cometer injustiças.ão. Uma delas tirou Valmir do local. Essa pessoa foi ouvida", explica.
Enterro
Centenas de pessoas acompanharam, na manhã desta terça-feira, o enterro de Fabiane, que deixa marido e dois filhos, um de 12 anos e outro de 1 ano. A cerimônia reuniu familiares e amigos que não se conformam com a crueldade do crime.
O enterro foi realizado no cemitério Jardim da Paz, no bairro Morrinhos. O marido de Fabiane, Jaílson Alves das Neves, disse que não sente ódio dos suspeitos. “Para mim a ficha não caiu. Apesar da brutalidade, não guardo ódio, não guardo esse sentimento ruim no coração. Espero que não aconteça com mais famílias. Essas pessoas que agrediram ela e as que assistiram e não tiveram a coragem de salvar uma pessoa inocente não deram nem tempo de defesa para minha esposa. Quero que eles reflitam e que isso não aconteça nunca com a família deles”, explica.
Protesto
Após o enterro de Fabiane Maria de Jesus, dezenas de amigos e familiares realizaram uma passeata no bairro Morrinhos. A população não quer que a imagem do local fique manchada por causa do crime brutal.
Maria José Dias era amiga da vitima há 25 anos e foi a última a ver Fabiane ainda com vida. “Ela foi buscar uma bíblia que tinha esquecido na igreja. Tinha pedido para que eu não esquecesse de rezar por ela. Ela estava bonita no sábado, tinha acabado de cortar e pintar o cabelo. Ela se despediu e disse que ia ao médico. A Fabiane nunca fez mal a ninguém. Tiraram o direito de uma bebê crescer ao lado da mãe. Isso não se faz. Essas pessoas chutaram uma mãe indefesa”, afirma.
Os manifestantes levaram faixas e cartazes com pedidos de justiça. “Minha maior revolta é que eles fizeram com que a imagem do meu bairro fosse destruída. Eles acabaram com a imagem das pessoas que moram aqui e que são Revolta de internautas
Dezenas de usuários da rede social criticaram duramente o administrador da página e um deles chegou a dizer que a página seria tão culpada quanto os agressores.
Em uma postagem feita no fim da tarde de segunda-feira, o dono da página afirma que está colaborando com as investigações e que não irá se pronunciar a respeito do caso para não atrapalhar o trabalho da polícia. Em alguns comentários, os usuários condenaram a publicação do retrato falado, mesmo sabendo que se tratava apenas de um boato.
De acordo com o delegado Luiz Ricardo Lara, que está à frente do caso, ainda é cedo para apontar a responsabilidade do administrador da página Guarujá Alerta. “Caso, durante a instrução do inquérito policial, seja vislumbrado que, de alguma forma, ele colaborou com o crime, na medida em que propalou esses boatos, enfim, que praticou uma infração penal, ele será responsabilizado por aquele ato”, afirma.honestas e de bem”, explica.
Confusão
De acordo com o inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma mulher passando com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela suspeita. A vítima estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho em um posto de saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela mulher.
FONTE G1