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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Ameaça de guerra do PCC nos presídios do Ceará é investigada

Um áudio de 15 minutos em que um homem que se identifica como 'Irmão Alê' dá instruções aos detentos do Ceará de como agir, para que não ocorra um "derramamento de sangue" nos presídios cearenses chegou à Polícia. As investigações começaram e envolvem diversas células da Polícia Civil. Na gravação, o criminoso diz ser integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e garante que para continuar comandando as unidades prisionais cearenses não se importará de entrar em "guerra" contra grupo rival.

Conforme uma fonte vinculada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que participa das apurações, o suspeito de gravar o áudio foi identificado. Ele seria o paraense Francisco Alexandre Pinto de Lima, o 'Cara de Peixe'. Segundo o investigador, a última notícia sobre ele, era que estava recluso na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), em Itaitinga.

A permanência dele no Sistema Penitenciário do Ceará ainda está sendo checada junto à Secretaria de Justiça e Cidadania do Ceará (Sejus), segundo a fonte. A declaração reiterada de 'Irmão Alê' de que seria membro do PCC também está sob investigação. No entanto, o agente da SSPDS ouvido pelo jornal disse que é inconteste a presença e o domínio da facção nas unidades prisionais cearenses.

"Ele foi preso pela Polícia Civil do Ceará e mandado pela Sejus para a CPPL II. Estamos entrando em contato com a Sejus para saber se ele continua lá, se migrou para outro regime, ou se foi transferido para outro Estado. Não podemos afirmar que ele seja do PCC, acredito que se for, não seja uma liderança. Eles são discretos, não gostam de se expor. De qualquer forma, não podemos dizer que não é, porque não dá para negar a presença do PCC no Ceará. Estão aqui e são muito poderosos nos presídios, temidos por todos os detentos", declarou a fonte.

No ano de 2015, 25 detentos foram mortos no Sistema Penitenciário do Ceará. A quantidade de mortes é uma das coisas que faz com que 'Irmão Alê' se diga indignado e compare a CPPL I a um açougue. Conforme é dito por ele, uma outra facção estaria tentando se instalar no Estado e ordenando a matança.

"Se quiser paz vai ter paz, se quiser guerra vai ter em dobro. (...) Deus abençoe, porque Deus tá com nós (sic), se é pra ter guerra nós vamos nos armar pra guerra. Somos todos homem, criminosos e bandido. (...) O que o PCC tem é responsabilidade com o crime, responsabilidade com a massa carcerária", diz o homem em um trecho do áudio obtido pela reportagem. O criminoso reforça as promessas que faz aos comparsas de que o PCC protegerá a todos e fará alianças com "guardiões" do crime no Ceará. "Procurem o PCC, esse sim é o Comando que está aqui no Estado. Nós chegamos primeiro. A disciplina, a ideologia é nossa e é pra ser respeitada e vai ser respeitada, nem que pra isso tenha que haver derramamento de sangue. (...) Vamos fazer alianças com os 'guardiões' do Estado. Vamos aliar com um companheiro que chegou aí, um fundador de uma facção. Vamos multiplicar nossa família". 

Em outro trecho do áudio o homem diz que dois homens já estão "decretados" para morrer, porque mataram a mãe de um comparsa e outro criminoso protegido da facção. "Vamos começar a pendurar nossos decretados. Esses sim são decretados porque mataram nossos irmãos e nossa mãezinha. Esses não têm conversa não. Pode se meter quem quiser na frente", afirma o suposto aliado do PCC.

Prisão

'Cara de Peixe' foi preso por uma equipe da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), em maio de 2014. Conforme o delegado titular da Especializada, Raphael Vilarinho, quando ele foi capturado não fez nenhuma menção a fazer parte do PCC e não havia indicativos disto. 

"Ele veio para o Ceará para participar do sequestro de um gerente de banco. Foi preso antes do crime ser realizado, em uma casa na Sapiranga.

Já era foragido do Estado do Pará e é especialista neste tipo de roubo, conhecido como 'sapatinho'", declarou.

Na gravação, 'Irmão Alê' cita a morte do traficante e homicida Carlos Alexandre Alberto da Silva, o 'Castor', ocorrida em dezembro, na Unidade Prisional Luciano Andrade Lima (antiga CPPL I). Ele afirma que ia apurar a execução, mas foi 'brecado' pelos superiores.

O delegado George Monteiro, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga a morte de 'Castor', disse que ele era líder de uma facção local e que não havia informes de ser filiado ao PCC, mas não descarta a possibilidade que esta facção menor tenha feito algum tipo de aliança com a organização criminosa paulista.

"Estamos investigando a procedência das informações do áudio. A origem e a veracidade do que é dito ainda estão sendo checadas. Sobre a morte do 'Castor', a DHPP tem uma linha consistente de apuração, que está bem avançada. A execução pode ter sido determinada por rivais que 'Castor' fez na disputa de área do tráfico", disse Monteiro.

Sejus

Em nota enviada ao jornal, a Secretaria de Justiça jus informou que "toda denúncia levada ao conhecimento da Instituição é investigada de forma rigorosa, inclusive no sentido de atestar a autenticidade das informações veiculadas. O caso em questão (áudio) está entregue ao Setor de Inteligência da Secretaria".

Diário do Nordeste