O réu Ernandes Lopes Pereira foi condenado a 16 anos de prisão, mas vai recorrer da sentença em liberdade
Nove anos depois da morte do delegado da Polícia Civil do Ceará, Cid Peixoto do Amaral Júnior, o procurador de Justiça aposentado Ernandes Lopes Pereira foi condenado a 16 anos de prisão, pelo homicídio duplamente qualificado. O réu, no entanto, vai recorrer da sentença em liberdade. O júri popular a que ele foi submetido aconteceu na 1ª Vara da Comarca do Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O crime aconteceu no mesmo município, no dia 13 de agosto de 2008, na residência do procurador.
O julgamento, realizado no Plenário Zenóbio Leandro Evangelista, na Câmara Municipal do Eusébio, contou com a presença de familiares e amigos da vítima e reforço no efetivo policial, para resguardar a segurança, principalmente do réu - que está solto desde 3 de dezembro de 2009, quando teve habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
> Acusado foi preso enquanto dormia
A acusação esperava que o réu fosse condenado por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e surpresa). Os familiares pediam Justiça. "Lutamos por Justiça. A gente quer que, após esses nove anos, consigamos diminuir, ao menos um pouco, da dor da morte do meu pai", disse o filho da vítima, Augeanio Lucas do Amaral, pouco antes do júri começar.
A defesa de Ernandes Pereira, patrocinada pelo advogado Maurício Pereira, alegou que o tiro que matou o delegado foi disparado acidentalmente, que não havia motivo para o procurador matá-lo, afinal os dois eram amigos de infância. Segundo a defesa, uma prova disto é o fato de o réu ter entregue a arma municiada à mãe da vítima, após o crime.
O filho de Cid Júnior rebateu a tese da defesa de que o tiro foi acidental. Segundo Augeanio Lucas, a morte do pai "desestruturou toda a família". "Ele era muito família, muito apegado a todos os filhos. Foi de surpresa. Ele estava muito bem de saúde. E deixou a gente muito traumatizado mesmo", relatou.
Testemunhas
Seis testemunhas do homicídio foram ouvidas, durante o dia de ontem, perante o júri, presidido pelo juiz titular da 1ª Vara do Eusébio, Henrique Botelho Romcy. A primeira testemunha a ser interrogada pelo Ministério Público do Estado (MPCE) e pela defesa foi o irmão da vítima, o desembargador Jucid Peixoto do Amaral.
Nos questionamentos do órgão acusatório, Jucid foi provocado a relembrar o relacionamento entre Cid Júnior e Ernandes Pereira e as duas famílias. O desembargador surpreendeu as duas partes ao revelar um suposto homicídio que o réu teria cometido em 1969. A vítima seria um motorista, que Ernandes achava ter sido o responsável pela morte de um irmão dele. Mas, segundo o magistrado, o crime aconteceu dentro da própria família, tendo um outro irmão do procurador sido o autor da execução do familiar.
Ao ser interrogado pela defesa sobre o motivo de Ernandes assassinar Cid, já que eram amigos de infância, Jucid Amaral afirmou que o desejo do réu por cometer homicídios "é de sangue". "Todo mundo da família matou alguém. Os irmãos dele também mataram", completou.
Em seguida, o ex-motorista do procurador, Carlos Alberto Bezerra Herculano, conhecido como 'Cancão', hoje policial militar, ratificou o que já tinha dito durante a investigação policial. Ele contou que estava com o acusado e com a vítima, quando o patrão perguntou: "Cancão, você já matou alguém?". Pouco depois, o tiro fatal foi disparado.
De acordo com 'Cancão', o disparo se deu após Ernandes 'golpear' a arma, ação de quem quer retirar o cartucho. A defesa também questionou se a testemunha acreditava que o procurador tinha atirado intencionalmente. "Ele não cumpriu as medidas de segurança, porque golpeou a arma direcionada para a vítima", respondeu o PM.
Red; DN