Dias antes do 7 de dezembro, grupo de detentos no Cariri já discutia Milagres como potencial alvo de fim de ano. Presos naturais de Alagoas teriam repassado a "dica" para os comparsas soltos. Polícia soube da existência de um mentor em Milagres, cujo paradeiro ainda não se sabe
A quadrilha foi interceptada por policiais militares. Doze pessoas foram mortas
FOTO: ANTONIO RODRIGUES
A dica para o ataque aos dois bancos localizados em Milagres partiu de um presídio em Juazeiro do Norte. Os homens naturais do Cariri tiveram a ideia no cárcere semanas antes e repassaram a informação dos "dois coelhos de uma só tacada" para os comparsas soltos. Na pequena Milagres, de uma só vez, se teria Banco do Brasil e Bradesco no melhor momento: cofres cheios para pagamentos. No entanto, o plano seria frustrado pois o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) de Sergipe avisaria ao Ceará às 8h da manhã de 6 de dezembro do ataque que ocorreria na cidade.
>Tragédia em Milagres
A quadrilha caririense que poderia fazer o roubo estava desarticulada, com a parte de "inteligência" do banco presa havia alguns meses. "A saída foi repassar para colegas de Alagoas e Sergipe que também se encontravam presos, mas com muitos outros 'amigos' soltos e que poderiam fazer o serviço", disse uma fonte (identidade preservada), a partir de conversas entre presos em Juazeiro do Norte.
Do lado de fora, um homem conhecido apenas como "Fernando", morador de Milagres, seria um dos principais idealizadores do ataque. Não participante ativo de facções, é um "acima de qualquer suspeita". O ataque em Abaré, na Bahia, no início do mês de novembro, seria o último antes da empreitada no Ceará. Baseados numa casa, ao lado de um bar no município Barro, cerca de 12 homens se organizavam com pelo menos cinco dias de antecedência em meio a armas e explosivos. A Polícia prendeu o proprietário da casa que deu suporte à quadrilha, e contou detalhes do planejamento. Disse quase tudo.
"Prisões naquela área foram decisivas para perceber toda a operação da quadrilha, mas o elo dessas pessoas de Milagres com a quadrilha de integrantes sergipanos e alagoanos não ficou muito clara ainda", afirma um investigador da Polícia Civil, que não confirma o nome de "Fernando" por faltar maiores avanços nessa parte da investigação. "Infelizmente, essa parte sobre a origem da ação dessa quadrilha não avançou muito. Do que sabemos, há uma dificuldade ainda em documentar".
Questionado pela reportagem sobre informação obtida a partir de fontes do presídio de Juazeiro, o policial confirma que uma das linhas de investigação aponta para alguém de Milagres que teria auxiliado na planejamento. Está solto. Há relatos no cárcere de que, se preso for, não será bem recebido pelos presos da quadrilha que teve membros mortos. "Ficou um sentimento de traição", disse um detento.
Red; DN