A reação da presidente Dilma Rousseff (PT)na corrida eleitoral fez com que a Bolsa brasileira registrasse a maior desvalorização diária em três anos.
O Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, fechou o dia com queda de 4,52%, a 54.625 pontos, o menor patamar desde 10 de julho deste ano. Além disso, foi amaior desvalorização percentual diária do Ibovespa desde 22 de setembro de 2011, quando o índice caiu 4,83%.
O mau humor do investidor também fez com que o dólar disparasse nesta segunda-feira (29). O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,03%, a R$ 2,446, no maior patamar desde 9 de dezembro de 2008. O dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,69%, a R$ 2,457, também no maior nível desde 9 de dezembro de 2008.
Para analistas, o fortalecimento da candidata petista nas eleições é a principal explicaçãopara a desvalorização da Bolsa nesta segunda-feira (29). "O mercado financeiro não gosta da Dilma e, por isso, quando ela tem bom desempenho nas pesquisas, ele coloca isso no preço. Mas minha avaliação é que [o mercado] não colocou tudo no preço, [a Bolsa] pode cair mais", afirma Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus Research.
"O Ibovespa abriu em forte queda como reflexo da pesquisa Datafolha de sexta-feira (26), mas à tarde os mercados se acalmaram. A pesquisa CNT/MDA que confirmou a reação de Dilma, porém, causou essa resposta negativa do mercado", completa a equipe de analistas da Socopa.
A pesquisa CNT/MDA mostra a atual presidente mais distante da segunda colocada, Marina Silva (PSB). Dilma tem 40,4% das intenções de voto no primeiro turno, contra 25,2% da ex-ministra do Meio Ambiente. Aécio Neves (PSDB) surge com 19,8% da preferência.
No segundo turno, Dilma tem 47,7% das intenções de voto. Marina aparece com 38,7%. Na semana passada, as duas candidatas estavam tecnicamente empatadas. A candidata petista tinha 42% das intenções enquanto a pessebista estava com 41%.
Na sexta-feira (26), a pesquisa Datafolha já confirmava a recuperação de Dilma no cenário eleitoral. Nesse dia, o Ibovespa subiu 2,23%, impulsionado pela alta de mais de 5% nas ações da Petrobras, pois havia expectativa no mercado financeiro de que a pesquisa Datafolha fosse ser favorável à oposição ou desfavorável ao governo.
"Como o resultado foi contrário, quem tinha comprado ações na sexta-feira com essa expectativa teve que vender hoje [segunda, 29]", disse Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora. Essa reversão da expectativa acabou empurrando o índice para baixo.
62 ações fecharam o dia no vermelho
A maior desvalorização ficou com os papéis da Petrobras. Os papéis das estatais são os mais sensíveis à atual disputa eleitoral. Isso porque parte dos investidores acredita que uma vitória da oposição significaria uma diminuição na intervenção do governo na empresa. Logo, quando Dilma sobe nas pesquisas, os papeis da companhia se desvalorizam.
As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, encerraram o dia com queda de 11,46%, a R$ 18,56. Os papéis ordinários, com direito a voto, perderam 10,75%, a R$ 17,69. Os papéis do Banco do Brasil encerraram o dia com queda de 8,98%, a R$ 27,15.
Entre as sete que subiram nesta segunda-feira (29), a maior alta foi da Cielo, com valorização de 1,97%. Os papéis da BB Seguridade subiram 1,76% e os da Fibria Celulose, 1,92%. A Embraer encerrou o dia com alta de 1,11%.
Os papéis dessas duas últimas empresas foram favorecidos pela valorização do dólar, afirma Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. "São empresas exportadoras e que se beneficiam desse novo patamar do dólar, mais alto", diz.
A troca de comando da Usiminas também repercutiu no mercado. Na semana passada, a siderúrgica anunciou a destituição do presidente da companhia, Julián Eguren, em meio a um conflito entre os acionistas Ternium e Nippon Steel.
Em relatório, a Magliano Corretora diz que analistas que acompanham o papel esperam que a empresa convoque novas eleições em breve, mas destacaram que o evento foi inesperado e trouxe ainda mais incerteza ao cenário que já é negativo para a companhia.
"Os profissionais avaliam que a retração de demanda por aço no mercado interno e a queda do preço do minério de ferro, que colocou em xeque os planos de verticalização da empresa, já eram suficientes para pressionar as suas ações. Agora, o conflito entre os acionistas e a dúvida sobre quem será o novo líder da empresa colocam ainda mais pressão sobre a companhia", afirma a corretora.
Os papéis ordinários da Usiminas caíram 5,18%, a R$ 6,95, enquanto os preferenciais tiveram baixa de 6,00%, a R$ 6,89.
Alta do dólar
A valorização do dólar deve continuar nos próximos dias, prevê Raymundo Magliano Neto, da Magliano Corretora. "O dólar hoje foi praticamente só efeito eleitoral. Houve desvalorização de outras moedas em relação ao dólar, mas nada como o real. Pensando que os estrangeiros vão sair do país se a reeleição se confirmar, eles vão precisar comprar dólares para levar seu dinheiro embora e isso vai pressionar o dólar ainda mais", diz.
É a mesma percepção de Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus Research. "O dólar tende a ir para cima, estamos em meio a um processo de ajuste, com tendência de alta da moeda; os fundamentos macroeconômicos apontam desvalorização da moeda. Além disso, há ganho de valor do dólar contra outras moedas", ressalta.
Para conter a alta da moeda, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio nesta sessão, vendendo os 4.000 contratos de swap cambial -equivalente à venda futura de dólares.
Foram vendidos 1.700 contratos com vencimento para 1º de junho e 2.300 para 1º de setembro de 2015, com volume equivalente a US$ 197,5 milhões.
O BC também vendeu a oferta total de até 15 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em outubro e, com isso, rolou praticamente todo o lote total, que corresponde a US$ 6,677 bilhões.
Vale lembrar que nesta terça-feira é dia de formação da Ptax -taxa calculada pelo BC que serve de referência para diversos contratos cambiais e é divulgada no início da tarde do último dia útil de cada mês. Por isso, o dólar deve continuar volátil no próximo pregão.
Fonte: Diário do Nordeste