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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Ceará tem 1º caso de raiva humana desde 2012

O Ceará registrou um caso de raiva humana, o que não ocorria desde 2012. O paciente em questão é morador da zona rural do município de Iracema, agricultor, de 37 anos. Ele deu entrada no Hospital São José, em Fortaleza, no último dia 20, mas sofria dos sintomas compatíveis com a raiva desde o dia 15 de outubro. 

Relatório assinado por representantes do Ministério da Saúde e da Secretaria da Saúde do Ceará revela que o paciente foi agredido no pé esquerdo por um morcego hematófogo, ou seja, que se alimenta de sangue, enquanto dormia, em 16 de setembro. Ele teria, em seguida, matado e descartado o animal, e não procurou ajuda médica. 

Para certificar-se do diagnóstico da raiva, no dia 21 de outubro foram enviadas ao Instituto Pasteur, em São Paulo, amostras de soro, líquor, folículo piloso e saliva do infectado. Nesta terça-feira (25), o Instituto informou como positivo o resultado laboratorial para a amostra do folículo piloso, compatível com a linhagem do vírus que circula em morcegos hematófagos. 

A equipe médica acompanha o paciente com a administração do soro antirrábico. Em 24 de outubro, seguindo o Protocolo para Tratamento de Raiva Humana no Brasil, o Ministério da Saúde enviou ao hospital o medicamento Biopterina. De acordo com a diretora do Hospital São José, Tânia Coelho, o paciente encontra-se na Unidade de Pronto Atendimento (UTI), em estado grave, porém estável. Ela afirma que os níveis de mortalidade em relação à doença são de quase 100%, no entanto ressalta que há dois casos no Brasil em que o tratamento foi eficaz e reitera que todos os protocolos estão sendo seguidos para tentar salvar o paciente. 

A última morte por raiva humana no Ceará foi em 2012, transmitida por um soim, em Barbalha, no Cariri. A vítima foi uma criança de 9 anos, que passou duas semanas internada no Hospital São Vicente de Paulo. 

A Secretaria da Saúde enviou, no último dia 21, uma equipe de vigilância para, junto à Secretaria Municipal da Saúde de Iracema, buscar outras eventuais pessoas que possam ter sido expostas a agressão de morcegos, realizar alerta aos profissionais de saúde da região, acionar a Agência de Defesa Agropecuária quanto ao controle da espécie animal e realizar ações de bloqueio, como a vacinação de cães. 

Defasagem

O Ministério da Saúde está repassando à Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) apenas 48% da quantidade de doses de vacinas contra raiva humana solicitada de janeiro a outubro deste ano. A Coordenação Estadual de Imunizações solicitou em 2016, conforme critério de incidência de agressões por animais, 150 mil doses nos primeiros 10 meses do ano, o equivalente a 15 mil doses por mês, e recebeu 72.350 doses. A União confirma que a distribuição aos estados está em quantitativo reduzido, conforme os estoques. O MS informou que, em 2015, 102,6 mil doses foram enviadas para o Ceará. 

Em outubro, por exemplo, o repasse foi de apenas 850 doses da vacina humana, insuficientes diante da média mensal de 2,5 mil agressões de animais a humanos. A Sesa informou que o repasse vem diminuindo progressivamente, tendo recebido 14 mil vacinas em janeiro, período com maior quantidade. 

Como o esquema vacinal requer duas, três e cinco doses por paciente, quando há indicação médica, o número deveria ser maior. De acordo com a coordenadora de imunização da Sesa, Ana Vilma Leite Braga, o problema acontece desde 2013, e a justificativa do Ministério é de que os laboratórios não estão entregando o soro necessário e se adequando às práticas exigidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Nós fazemos o pedido e sempre vem um quantitativo menor. A cada ano, essa quantia é menor. Por isso, nós estamos trabalhando de forma bem criteriosa, otimizando para que não falte para quem precisa”. Conforme ela, a expectativa é que, a partir de novembro, a situação esteja regularizada. Em Fortaleza, apenas um posto de saúde, o Paulo Marcelo (na Rua 25 de março), dispõe das vacinas e só o Hospital São José utiliza o soro. Os dados da Sesa apontam que, de 2005 a 2012, foram confirmados cinco casos de raiva humana. Em apenas um deles a transmissão ocorreu através de cão. Os outros quatro foram transmitidos por soins.

Diário do Nordeste