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terça-feira, 17 de maio de 2016

IJF inicia a semana com 68 pacientes nos corredores

Acompanhantes de pacientes relatam que o
corredor próximo aos elevadores,
que ainda não era usado para alocar enfermos,
 já estava sendo usado ontem
Os corredores do Hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), maior hospital de urgência e emergência do Ceará, continuam lotados com pacientes sobre macas. Na manhã de ontem (16), acompanhantes indignados com a situação enviaram fotos ao Diário do Nordeste que registram a situação na unidade municipal.

Dessa vez, as muitas macas postas nos corredores chegaram a impedir o acesso aos elevadores de serviço, onde, segundo os acompanhantes dos pacientes, não era comum a presença de doentes. Além deste descaso, também foi relatado que apenas dois elevadores estão funcionando e que o serviço de Tomografia Computadorizada (TC) só está em atividade para a realização de exames craniais.


Conforme o "Corredômetro das Emergências" - instrumento do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará e da Associação Médica Cearense (AMC) que mede a lotação das unidades públicas de saúde de Fortaleza e de outros hospitais do Estado -, havia 68 pessoas instaladas nos corredores do IJF até a manhã desta segunda-feira, o que representa aumento comparado com a última sexta-feira (13), quando havia 60 pacientes nessa situação.

No entanto, a situação exposta pelos acompanhantes não é exclusiva do IJF. Segundo o levantamento das instituições, outros cinco hospitais do Ceará estão superlotados, sendo o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) aquele que apresentava o maior número de pacientes nos corredores: até o fim da tarde de ontem (16) eram 80 pessoas.

Em seguida, vinham o Hospital de Messejana, com 56 pacientes; o Hospital Regional do Cariri, com 56; o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), com 29; e o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, com 22 pessoas. Com isso, há um total de 311 pacientes no corredômetro

Segundo o Dossiê da Saúde 2016, elaborado pelo Sindicato dos Trabalhadores no Serviço de Saúde de Fortaleza (Sintsaf) e divulgado no fim de março deste ano, os pacientes espalhados pelos corredores do IJF correm o risco de contrair infecções pós-operatórias por falta de alocação adequada.

A presidente da Associação dos Servidores do IJF (Assijf), Ana Miranda, salienta que a superlotação da unidade é inadequada para pacientes, acompanhantes e para os próprios profissionais da saúde. "Quando você trabalha com superlotação, você se sente no dever de atender mais do que pode. Esse descaso nos corredores impossibilita um bom trabalho da equipe de enfermagem, o serviço fica insatisfatório e não é capaz de atender às necessidades personalizadas do paciente", acrescenta. Ela relata que muitos acompanhantes vêm do Interior do Ceará e não têm condições de pagar alguma forma de hospedagem. Por isso, chegam a dormir sobre papelões estendidos no chão. Tanto as macas quanto esses dormitórios improvisados atrapalham o transporte de materiais hospitalares e a movimentação de outros pacientes dentro das dependências da unidade.

Problema externo

"O problema da superlotação passa por fora do IJF, não adianta achar que o problema é interno. Ele passa pela atenção básica e pelos hospitais de média complexidade, porque o IJF é de alta complexidade. É necessária uma reestruturação dos hospitais secundários, para que eles tenham condições de atender a suas demandas", afirma.

A assessoria de comunicação do IJF informou que, desde 2013, áreas do hospital passaram por reformas e readequações para melhor atender a vítimas de trauma acolhido na Emergência. Sobre os registros dos acompanhantes, o Instituto esclarece que os pacientes que aguardavam, próximo à saída de Emergência, foram transferidos para outras unidades.

Em resposta, a assessoria do IJF ainda ressaltou que "nos setores prioritários, como no Núcleo de Imagens, responsável por tomografias e radiografias, manutenções preventivas periódicas garantem a continuidade do serviço e diminuem o tempo de permanência do usuário no hospital. Desde o início do processo, não há relatos de pacientes do IJF sem acesso a exames".

Locomoção

A nota traz ainda a afirmativa de que manutenções preventivas e corretivas também são realizadas nos quatro elevadores principais do prédio, garantindo locomoção segura aos usuários. Com isso, foi dito à reportagem, que, durante os trabalhos, em nenhum momento o transporte de pacientes é impossibilitado, já que os procedimentos são realizados de forma intercalada.

Sobre os demais hospitais superlotados, estes de responsabilidade da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), a Pasta diz que a demanda de pacientes é crescente em função de diversos fatores. A longevidade é um dos fatores elencados pela Secretaria junto à afirmação que este é um período do ano, propício para o aumento de casos de doenças, entre elas as infecciosas e, isto, resulta em uma sobrecarga "as emergências dos hospitais e as UPAs 24h. O aumento de pacientes nas UPAs 24, em Fortaleza, chega a 30%. Em média, estão sendo feitos 500 pacientes em cada UPA, na capital". 

FIQUE POR DENTRO

Crise na Saúde é agravada em maio de 2015

A crise na Saúde Pública no Estado do Ceará foi agravada em maio de 2015, a partir da divulgação dos números de pacientes atendidos nos corredores dos principais hospitais públicos do Estado. Os relatos culminaram na saída do então secretário da Saúde do Estado, Carlile Lavor. O governador do Ceará, Camilo Santana, chegou a encontrar-se a presidente Dilma Rousseff, e conseguiu o incremento anual de R$ 113 milhões para o orçamento das unidades de saúde pública.

Além disso, na tentativa de amenizar o problema, a Prefeitura de Fortaleza anunciou, no início de junho do mesmo ano, a construção do IJF 2, que deve ofertar 206 novos leitos, distribuídos em quatro pavimentos. No mesmo período, o prefeito Roberto Cláudio anunciou a realização do concurso público para a contratação de 110 médicos, além da reforma dos três frotinhas: Messejana, Parangaba e Antônio Bezerra.

Diário do Nordeste