Provocar cortes no próprio corpo é uma alternativa dolorosa encontrada por jovens e adolescentes para expressar problemas emocionais, mas nem sempre pais e familiares estão atentos aos sintomas do distúrbio e nem sequer sabem que se trata de uma doença psicológica que tem tratamento. O problema foi chamado no Brasil de “escarificação”. Em inglês, ganhou o nome de “cutting”, que significa corte.
Os casos de pessoas que provocam ferimentos nas pernas, braços ou barriga ficaram conhecidos depois que famosos expuseram o drama nas redes sociais. Paris, a filha mais velha de Michael Jackson, chegou a ser internada em um hospital, em junho do ano passado, depois de cortar os pulsos. A menina, de 15 anos, passa por tratamento de uma profunda depressão. Antes do estopim, já dava sinais de que algo não ia bem. Ela chegou a postar fotografias em que pessoas se cortavam ou provocavam situações de sofrimento a si mesmas.
A cantora teen Demi Lovato também expôs as dificuldades que enfrenta desde o início da adolescência. Ela sofria de depressão e passou a provocar ferimentos nos braços e até no rosto como forma de autopunição. Depois da exposição, a “escarificação” deixou de ser tratada como um problema de celebridade.
A professora de psicologia da Universidade Católica de Brasília, Kátia Brasil, explica que o problema não se restringe à adolescência, mas aparece, muitas vezes, nessa etapa da vida porque é a fase de adaptação e o corpo é uma forma de manifestar os pensamentos e o sofrimento.
É uma tentativa dolorosa de dizer “não estou conseguindo estar no mundo se não for pelo registro da dor e do sofrimento”.
É uma tentativa dolorosa de dizer “não estou conseguindo estar no mundo se não for pelo registro da dor e do sofrimento”.
Essa foi a sensação que o estudante Eduardo Soares sentiu aos 13 anos, quando começou a fazer cortes na própria pele com lâminas. Descobriu que, dependendo da forma como manuseasse o aparelho de barbear, poderia provocar pequenos ferimentos no rosto.
— Eu me lembro de procurar isso da dor de várias formas, eu gostava de me machucar e acabei descobrindo que era possível eu me machucar sem ser um acidente. Eu não buscava o prazer da dor, eu buscava a distração pela dor e queria a atenção que eu recebia quando acontecia.
— Eu me lembro de procurar isso da dor de várias formas, eu gostava de me machucar e acabei descobrindo que era possível eu me machucar sem ser um acidente. Eu não buscava o prazer da dor, eu buscava a distração pela dor e queria a atenção que eu recebia quando acontecia.
Falta de atenção dentro de casa ou relações familiares conturbadas podem ser alguns dos motivos que levam adolescentes a apresentar problemas emocionais. Kátia Brasil explica que há uma necessidade dos pais de lidarem melhor com as questões dos filhos.
— A gente olha os problemas como são vistos na vida adulta, mas para o adolescente aquilo é um grande problema. Nós estamos em um mundo em que os jovens são submetidos a muitas pressões.
Um contexto de pressão sobre si mesmo fez com que Eduardo, seis anos depois, aos 19 anos, voltasse a ter crises de automutilação. Ele se sentia culpado pelo fim de um relacionamento e se punia provocando cortes. Neste momento, extraía a lâmina de aparelhos de barbear e andava com os objetos para utilizá-los sempre que se encontrasse em situações com as quais achava que não podia lidar. Depois de anos de sofrimentos, procurou ajuda de um profissional e foi diagnosticado com depressão. Hoje, ele considera o problema controlado.
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