quarta-feira, 16 de abril de 2014
Jornalista dinamarquês desiste de cobrir a Copa e deixa o Brasil
O jornalista dinamarquês Mikkel Jensen tinha o sonho de cobrir a Copa do Mundo no Brasil, mas não o cumprirá. Segundo ele, que esteve no país desde setembro do ano passado, as mudanças praticadas no país são feitas unicamente para impressionar pessoas como ele e a imprensa internacional. "Eu sou um cara usado para impressionar", justificou, em artigo publicado em seu perfil do Facebook (e que pode ser lido abaixo).
O sonho de Jensen de assistir "o melhor esporte do mundo em um país maravilhoso" terminou a apenas dois meses do pontapé inicial. Em visita a Fortaleza, "a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje", o dinamarquês esteve em contato com algumas crianças de rua. Uma delas lhe ofereceu um pacote de amendoins, e o impressionou.
"Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$ 10.000 e um Master Card no bolso. Inacreditável", relatou Jensen.
O jornalista optou por deixar o país quando se deu conta de que muitas crianças em situação de rua estão desaparecendo para dar aos turistas uma imagem mais "limpa" das cidades-sede. "Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da história em reais – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças", escreveu.
"Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar nopreço real da Copa do Mundo do Brasil", concluiu Jensen, que já está de volta à Dinamarca.
Quase dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um plano e fui estudar no Brasil, aprendi Português e estava preparado para voltar.Voltei em setembro de 2013. O sonho seria cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa eu decidi que não vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.Durante cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.Em Março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a receber um jogo deCopa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo a noite em área com muitos turistas. Por que? Para deixar a cidade limpa para os gringo e a imprensa internacional? Por causa de mim?Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$10.000 e uma Master Card no bolso. Inacreditável.Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.
Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da historia em reais e centavos – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças.Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil.Alguns quer dois ingressos para França – Equador no dia 25 de Junho?Mikkel Jensen - jornalista independente do Dinamarca e correspondente em Rio de Janeiro
Fonte: Placar