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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Desaparecimento no Crato: Polícia diz que ex-namorado matou jovem a golpes de faca


O mistério envolvendo o desaparecimento da jovem Rayany Alves Machado, de 24 anos, foi desvendado, ontem, pela Polícia Civil deste município, a 540Km de Fortaleza, após quase três meses de investigação. A peça-chave para elucidar o crime foi o depoimento de uma testemunha que não teve a identidade revelada. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Diogo Galindo, a principal suspeita do crime que recaía sobre o ex-namorado da garota foi confirmada pela testemunha.

Saulo Lopes Custódio, de 30 anos, foi preso na manhã de ontem após uma pessoa afirmar ter presenciado ele matar Rayany com uma facada na cidade de Belém de São Francisco, no Estado do Pernambuco. Em depoimento, concedido na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), em Crato, Saulo negou o homicídio e se limitou a dizer que só falaria em Juízo. Apesar das negativas do suspeito, Diogo Galindo destacou que "não há dúvida que Saulo matou, friamente, a jovem Rayany".

Para o delegado, "há inúmeras contradições em seu depoimento e temos testemunhas oculares que atestam o assassinado. Ele é um homem frio e bastante violento, com histórico de crimes contra mulheres", acrescentou Galindo.

A testemunha, que trabalha com o suspeito, disse aos policiais que Saulo teria raptado a jovem quando ela saía do trabalho, na noite do dia 19 de março e a forçado a entrar em seu caminhão quando seguia para o Pernambuco, Estado onde ele comercializava carvão.

"No dia em que Rayany foi morta, Saulo teria tentado manter relações sexuais com ela para reatar o namoro. Ela se negou e os dois começaram a discutir. Foi quando ele teria desferido golpes de faca na jovem e jogado seu corpo no leito do Rio São Francisco", disse o delegado Diogo Galindo, destacando que tudo ainda será investigado.

Apesar de ter dado o caso como elucidado, a delegada Kamila Brito ressaltou que as investigações seguem com o objetivo de localizar o corpo da vítima. "Amanhã voltaremos à cidade de Belém de São Francisco para tentar encontrar o corpo de Rayany. Já acionamos a Polícia de lá, o Instituto Médico Legal (IML) e os hospitais para o caso de algum corpo ter sido localizado naquela localidade. Ouviremos também outras testemunhas que podem ter presenciado a discussão entre eles e até mesmo o momento do crime", concluiu Kamila.

Tristeza

Bastante emocionada, a mãe de Rayany, que ainda nutria a esperança de encontrar a filha com vida disse que "agora só resta ser feita Justiça". "É uma dor muito grande. Perder uma filha tão nova e de forma tão violenta. Eu sempre sonhei em ver ela entrando pela porta lá de casa e agora recebo a notícia que ela está morta", disse Antonina Alves Machado. A vítima deixou uma filha de quatro anos de idade.

"A família sempre espera a melhor notícia possível né? Agora é juntar forças para encarar esse momento. Só pedimos para o crime não fique impune", lamentou Maria Diva da Silva, amiga da família.

De acordo com Diogo Galindo, o suspeito possui um perfil bastante violento. "Ele já responde por cinco casos de agressão contra mulher, alguns dele já foi inclusive apenado", revelou o delegado. Ainda de acordo com Galindo, Saulo é "extremamente violento e perverso".

Segundo a delegada, o suspeito "já quebrou nariz de uma mulher e já bateu nas costas de outra com uma 'pimba de boi' deixando fortes marcas, enfim, é violento, frio". Kamila Brito disse ainda que Saulo é suspeito de ter assassinato um homem na cidade do Crato. "Estamos em pose das informações e vamos investigar", finalizou Kamila.

Protesto

Membros de grupos de luta contra a violência de gênero, familiares e amigos da vítima se reuniram em frente à Delegacia da Mulher onde realizaram um protesto enquanto o suspeito era ouvido pelas autoridades policiais. Eles expuseram faixas, cartazes e colocaram diversas cruzes com nomes de outras mulheres assassinadas na região. Na saída, quando Saulo foi levado à Cadeia, o grupo clamou por justiça.

Segundo a presidente do Conselho Municipal de Defesa da Mulher Cratense (CMDMC), Verônica Carvalho, estatísticas ainda a serem confirmadas pela Polícia, em 2015, 14 mulheres foram assassinadas.

Neste ano já são quatro casos, incluindo a morte de Rayany. Verônica ressalta que as estatísticas poderiam ser ainda mais assustadoras, uma vez que ainda não há números que tratem sobre desaparecimentos, apesar de ser "uma realidade bastante presente". Em resposta à violência contra mulher na região, foi lançado no ano passado o Observatório da Violência Contra a Mulher do Cariri, que atua em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus).

Segundo o primeiro levantamento realizado pelo órgão, de janeiro de 2005 a janeiro de 2015, foram 186 mulheres assassinadas, sendo que a grande maioria dos assassinatos foi ocasionado pelo próprio companheiro da vítima.

Diário do Nordeste