Os cearenses tratam os animais domésticos e até mesmo silvestres como membros da família. Os cães e gatos ainda são os mais encontrados nas residências, mas há quem prefira os exóticos como os saguis, os famosos 'soins'. O problema é que muitos desses bichos transmitem doenças. Em abril deste ano, o Diário do Nordeste divulgou uma pesquisa inédita que revelou a detecção do vírus zika (ZIKV) em macacos do Ceará.
Neste mês, a novidade é que o estudo elaborado por especialistas do Instituto Pasteur, em São Paulo, e da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) segue avançando em 25 municípios. O texto inicial do trabalho foi divulgado no portal científico Biorxv.
A preocupação se situa, agora, na forma de transmissão, pois ainda não foi possível confirmar como se deu a contaminação dos primatas, segundo a pesquisadora científica do Instituto Pasteur, Silvana Regina Favoretto, doutora em ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP).
"Considerando que as coletas foram realizadas no período de epidemia de zika no Ceará e que estes animais foram capturados sempre em contato próximo com a população humana, a hipótese mais provável é que a fonte de infecção foram os próprios humanos, tendo o mosquito como vetor", avalia Silvana.
De acordo com a pesquisadora, que vem mensalmente ao Ceará, os moradores são normalmente receptivos, permitindo a entrada em suas propriedades para colocação das armadilhas e realização das capturas. Durante o processo de visita nas residências, a comunidade colabora com a pesquisa respondendo questionários em relação à presença de animais silvestres e conhecimentos a respeito da raiva. A previsão inicial é que o encerramento do estudo ocorra em abril de 2017. Segundo os pesquisadores paulistas, a Sesa é parceira deste projeto de pesquisa e tem fornecido total apoio à realização. O objetivo da produção científica é discutir a epidemiologia do vírus da raiva e do zika nas espécies animais em estudo a fim de fornecer informações para um melhor entendimento das doenças.
Análise
Os primeiros macacos encontrados com vírus foram capturados nas regiões de Tabuleiro do Norte, Quixeré, Limoeiro do Norte, São Benedito e Guaraciaba do Norte. O estudo inédito coletou amostras de sangue e saliva de saguis (Callithrix jacchus) e macacos-prego (Sapajus libidinosus). Os testes iniciais tiveram início em julho com conclusão em novembro de 2015, nas áreas de maior índice de epidemia do Ceará.
Os primatas foram marcados com microchips e lançados de volta aos seus habitats originais. Na análise preliminar do material, houve registro de 29% de positividade.
Para validar o estudo, os cientistas sequenciaram e amplificaram a amostra coletada dos macacos. O diagnóstico apontou que os bichos tinham ZIKV com 100% de semelhança com outras ZIKV da América do Sul. Conforme o estudo, "permanece como uma advertência para a possibilidade de que eles poderiam atuar como reservatórios, semelhante ao ciclo silvestre da febre amarela no Brasil".
Espécies
A descoberta dos primatas com o vírus preocupa os órgãos de proteção aos animais. Para o coordenador de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Ceará, Miller Holanda, a situação se complica pelo fato de a população residente em áreas de vegetação e urbana criar os primatas como animais domésticos. "Muita gente pega esses bichos ainda filhotes. Orientamos, mas não respeitam a legislação", declara. Outro fator visto com temor é a questão do tráfico que traz primatas de outras regiões para o Ceará.
De acordo com levantamento do Ibama, entre janeiro e outubro deste ano, o órgão apreendeu 65 animais que viviam em residências, sendo 42 saguis e 23 macacos-prego. O número foi o mesmo em todo o ano passado, com 48 soins e 17 macacos-prego. Para Miller, apesar de a quantidade se manter, a situação não é a correta. "Anualmente, passam 5 mil animais no Centro de Triagem do Ibama. Desse total, pelo menos 10% são de primatas. O ideal seria zerar".
Ainda segundo o gestor, nos últimos dois anos o Estado perdeu sete criadouros de animais devido ao descumprimentos de normas de saúde pública. Atualmente, apenas 13 criadouros e mantenedores possuem licenças válidas para cuidar de macacos. "Os ambientes que funcionam hoje são de conservacionistas que utilizam os locais para contemplação dos bichos. São pessoas com bons recursos financeiros que o Ibama tem ciência dos cuidados".
No Estado, segundo o Ibama, os primatas vivem em regiões com mata atlântica remanescente e áreas de caatingas com maior incidência de população como em Serra Grande, Serra das Almas e Floresta do Araripe.
Diário do Nordeste
Neste mês, a novidade é que o estudo elaborado por especialistas do Instituto Pasteur, em São Paulo, e da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) segue avançando em 25 municípios. O texto inicial do trabalho foi divulgado no portal científico Biorxv.
A preocupação se situa, agora, na forma de transmissão, pois ainda não foi possível confirmar como se deu a contaminação dos primatas, segundo a pesquisadora científica do Instituto Pasteur, Silvana Regina Favoretto, doutora em ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP).
"Considerando que as coletas foram realizadas no período de epidemia de zika no Ceará e que estes animais foram capturados sempre em contato próximo com a população humana, a hipótese mais provável é que a fonte de infecção foram os próprios humanos, tendo o mosquito como vetor", avalia Silvana.
De acordo com a pesquisadora, que vem mensalmente ao Ceará, os moradores são normalmente receptivos, permitindo a entrada em suas propriedades para colocação das armadilhas e realização das capturas. Durante o processo de visita nas residências, a comunidade colabora com a pesquisa respondendo questionários em relação à presença de animais silvestres e conhecimentos a respeito da raiva. A previsão inicial é que o encerramento do estudo ocorra em abril de 2017. Segundo os pesquisadores paulistas, a Sesa é parceira deste projeto de pesquisa e tem fornecido total apoio à realização. O objetivo da produção científica é discutir a epidemiologia do vírus da raiva e do zika nas espécies animais em estudo a fim de fornecer informações para um melhor entendimento das doenças.
Análise
Os primeiros macacos encontrados com vírus foram capturados nas regiões de Tabuleiro do Norte, Quixeré, Limoeiro do Norte, São Benedito e Guaraciaba do Norte. O estudo inédito coletou amostras de sangue e saliva de saguis (Callithrix jacchus) e macacos-prego (Sapajus libidinosus). Os testes iniciais tiveram início em julho com conclusão em novembro de 2015, nas áreas de maior índice de epidemia do Ceará.
Os primatas foram marcados com microchips e lançados de volta aos seus habitats originais. Na análise preliminar do material, houve registro de 29% de positividade.
Para validar o estudo, os cientistas sequenciaram e amplificaram a amostra coletada dos macacos. O diagnóstico apontou que os bichos tinham ZIKV com 100% de semelhança com outras ZIKV da América do Sul. Conforme o estudo, "permanece como uma advertência para a possibilidade de que eles poderiam atuar como reservatórios, semelhante ao ciclo silvestre da febre amarela no Brasil".
Espécies
A descoberta dos primatas com o vírus preocupa os órgãos de proteção aos animais. Para o coordenador de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Ceará, Miller Holanda, a situação se complica pelo fato de a população residente em áreas de vegetação e urbana criar os primatas como animais domésticos. "Muita gente pega esses bichos ainda filhotes. Orientamos, mas não respeitam a legislação", declara. Outro fator visto com temor é a questão do tráfico que traz primatas de outras regiões para o Ceará.
De acordo com levantamento do Ibama, entre janeiro e outubro deste ano, o órgão apreendeu 65 animais que viviam em residências, sendo 42 saguis e 23 macacos-prego. O número foi o mesmo em todo o ano passado, com 48 soins e 17 macacos-prego. Para Miller, apesar de a quantidade se manter, a situação não é a correta. "Anualmente, passam 5 mil animais no Centro de Triagem do Ibama. Desse total, pelo menos 10% são de primatas. O ideal seria zerar".
Ainda segundo o gestor, nos últimos dois anos o Estado perdeu sete criadouros de animais devido ao descumprimentos de normas de saúde pública. Atualmente, apenas 13 criadouros e mantenedores possuem licenças válidas para cuidar de macacos. "Os ambientes que funcionam hoje são de conservacionistas que utilizam os locais para contemplação dos bichos. São pessoas com bons recursos financeiros que o Ibama tem ciência dos cuidados".
No Estado, segundo o Ibama, os primatas vivem em regiões com mata atlântica remanescente e áreas de caatingas com maior incidência de população como em Serra Grande, Serra das Almas e Floresta do Araripe.
Fonte: Ibama/Ministério do Meio Ambiente |
Diário do Nordeste