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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Estelionatária aplica golpe até nos advogados em Fortaleza

Ilvia Stela Duarte Batista é apontada pela Polícia Civil como suspeita em dezenas de crimes de estelionato; no TJCE, possui 12 processos ( Foto: JOÃO LUIS/Agência Diário )
Uma mulher, que responde por crimes de estelionato e é monitorada eletronicamente por meio de tornozeleira, é investigada por supostamente ter aplicado um golpe em que as vítimas foram os próprios advogados contratados para representá-la.

Apontada como uma das maiores estelionatárias do Ceará, Ilvia Stela Duarte Batista, 41, estaria continuando a aplicar golpes, mesmo respondendo a um processo em liberdade condicional com medida cautelar.

Uma dupla de advogados, um homem e uma mulher, que preferiram não se identificar, foram procurados por Ilvia para representá-la judicialmente, no começo do mês.

Conforme o Boletim de Ocorrência (B.O.) registrado contra a suspeita, no 19º DP (Conjunto Esperança), os advogados afirmam que foram enganados pela famosa estelionatária e perderam uma quantia superior a 2,5 mil reais.

A advogada relatou à reportagem que Ilvia Stela entrou em contato com ela, por telefone, para contratá-la projetando a defesa em uma audiência que seria realizada na última terça-feira (13), além de fazer a representação dela em outro processo criminal. O nome da mulher de 41 anos está indiciado em 12 processos por estelionato no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), sendo 10 em Primeiro Grau e dois no Segundo Grau.

Ilvia teria conseguido os dados da vítima, como nome e contato telefônico, através da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Depois da primeira conversa entre as duas, a criminosa teria convidado a advogada a ir à casa dela, no bairro Mondubim.

A advogada relatou que resolveu se acompanhar de um colega de profissão. Na residência, Ilvia prometeu pagar 3,3 mil reais pelos serviços que a dupla prestaria e afirmou que já estava pronta para fazer a transferência, mostrando a transação pelo Internet Banking, no celular.

Contudo, a vítima disse que a estelionatária alegou que não estava podendo fazer compras por causa da tornozeleira eletrônica que carrega, e pediu para os advogados fazerem isso em seu lugar, comprometendo-se a ressarcir o dinheiro gasto. A advogada comprou alimentos e um aparelho celular, investindo um valor superior a 2 mil reais. O outro advogado emprestou 500 reais, em espécie, à criminosa.

Espera

Os dias se passaram e o dinheiro prometido por Ilvia Stela não caiu na conta fornecida pelos advogados. À reportagem, a vítima contou que cobrou o valor todos os dias, e a cliente desviou: chegou a dizer que se tratava de um procedimento de câmbio e conversão de valores que estava barrando a transferência do dinheiro. Por fim, simplesmente deixou de responder às cobranças.

Na última sexta-feira (9), a advogada percebeu que estava caindo no mesmo golpe que Ilvia aplica há dez anos e resolveu tornar o caso público. Idosos, supermercados, locadoras de carros e pousadas já foram alvos da estelionatária.

"É uma sensação que eu não desejo a ninguém, de traição. Ela (Ilvia) se aproveita da boa vontade das pessoas. Ela chora, faz um drama e convence qualquer um. Mesmo cumprindo pena, ela continua fazendo golpes e enganando a Justiça. Eu estou contando isso a vocês (imprensa) porque quero alertar a OAB e a sociedade quanto ao perigo que essa mulher representa", afirmou a advogada.

Tornozeleira

Ilvia Stela Duarte Batista está utilizando uma tornozeleira eletrônica como medida cautelar pelo processo que responde por ter cometido um golpe em Guaramiranga, na Serra de Baturité, no ano passado. Segundo a Polícia Civil, Ilvia utilizou cheques sem fundos, notas promissórias e duplicatas sem valor para pagar as despesas em uma pousada da região serrana. Ela fugiu sem quitar a dívida.

A investigação começou naquele mesmo ano e culminou na prisão da estelionatária no último dia 15 de julho, em sua casa, no bairro Mondubim. Ela foi levada ao 19º DP, mas conseguiu responder ao processo em liberdade condicional.

Segundo o titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), delegado Jaime Paula Pessoa Linhares, que acompanha os inquéritos policiais instaurados contra Ilvia Stela desde a década passada, ela "vive disso".

"Ela é recorrente aqui na Defraudações. Você vê o grau de picaretagem da Ilvia. Mesmo com um benefício, usando tornozeleira, ela continua aplicando golpes. Tudo que ela vê oportunidade para tirar dinheiro, ela age. A principal arma da Ilvia é o convencimento", contou.

Vítimas

Em março de 2008, por exemplo, o jornal trouxe matéria informando a prisão de Ilvia, àquela época, por vários golpes aplicados no bairro Parangaba, na Capital. Ali, aos 33 anos, ela já apresentava extensa ficha criminal.

No fim do ano de 2010, Ilvia foi presa por enganar outras duas advogadas que ela contratou para trabalhar, supostamente, para o seu pai, que, na versão da estelionatária, era um rico empresário que traria dinheiro de Miami, nos Estados Unidos.

Ilvia pediu para uma das advogadas abrir quatro contas em bancos diferentes, para receber o dinheiro, o que nunca aconteceu. Para a outra, ela pediu para fazer empréstimos, que não foram pagos. Ilvia Stela foi presa e cumpriu pena no presídio feminino Auri Moura Costa.


A reportagem tentou contato com Ilvia, por telefone, através do número que ela utilizou para conversar com os advogados que se dizem vítimas do golpe de estelionato. Contudo, até o fechamento desta edição, as ligações não foram atendidas.

Diário do Nordeste