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terça-feira, 7 de junho de 2016

MP deve denunciar 45 por chacina em Messejana

Relatos dos laudos cadavéricos, publicados na edição de ontem, mostram que as vítimas foram surpreendidas com tiros na cabeça ou nas costas, tentando fugir

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) projeta que algo em torno de 45 pessoas deverão ser denunciados por participação no episódio conhecido como 'Chacina da Messejana', em que 11 pessoas foram mortas e outras sete ficaram feridas, em novembro do ano passado, na Grande Messejana, em Fortaleza. A denúncia, preparada por uma comissão composta por 12 promotores de Justiça, deverá ficar pronta até o fim dessa semana, conforme revelaram fontes ligadas ao órgão.

O processo corre em segredo de Justiça e, até o momento, nenhum nome, nem patente dos envolvidos foi citado por qualquer dos investigadores do caso.

Ontem, o jornal noticiou dados dos laudos cadavéricos de cinco das 11 vítimas. Conforme os relatos médicos, os laudos apontavam que as pessoas foram executadas com tiros nas costas, nos braços, na cabeça; disparados à curta distância e à queima-roupa.

Em um dos laudos, referente ao adolescente Patrício Pinho Leite, morto com 16 anos, os médicos indicam que a vítima apresentava "uma ferida... Compatível com entrada de projétil de arma de fogo, localizada na região interparietal (cérebro)". A análise pericial constatou ainda uma "hemorragia cerebral" e também que "o projétil descreve uma trajetória no corpo da vítima: de frente para trás e de cima para baixo em linha reta".

Simplificando, os médicos apontam que Patrício foi executado com um único tiro, efetuado no alto da cabeça. Conforme testemunhas, o rapaz estava sentado quando os policiais que cometeram o crime chegaram com o rosto coberto e o atingiram.

Conforme fontes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), com experiência na investigação de centenas de homicídios, apesar da dificuldade em emitir opinião sem ter acesso ao conteúdo completo da apuração, há nos relatos um forte indício de execução. Os ferimentos por arma de fogo na cabeça, com a arma utilizada muito próximo da vítima, são enfatizados como argumentos.

Já nos casos em que as vítimas apresentavam ferimentos nas costas e nos braços, em posição de defesa, uma das fontes da SSPDS afirmou que "tudo indica que eles se depararam com os atiradores, tentaram se proteger e foram atingido nos braços. Depois tentaram fugir correndo e acabaram feridos nas costas".

Celulares

Um dos principais elementos utilizados pelos investigadores para identificar os suspeitos foi o uso de celular. Conforme levantamento e checagem da utilização das antenas da rede de telefonia móvel, identificadas como Estações Rádio Base (ERBs), mostraram que PMs de serviço, outros de folga, e até ex-policiais e seguranças particulares estavam na hora das execuções durante a noite do dia 11 e a madrugada de 12 de novembro, nas ruas dos bairros Curió e São Miguel, na Grande Messejana.

Contudo, a grande dificuldade encontrada pelos investigadores é em relação a quem teria, efetivamente, puxado os gatilhos e quantos suspeitos teriam dado apoio à ação. "Podemos dizer que quase todas as armas que foram usadas (na chacina) eram ilegais (sem registro). Ninguém usa a própria arma (registrada) em uma situação dessa", disse uma fonte ligada à SSPDS.

Revolta

A fonte da SSPDS revelou que os PMs da área da Messejana já estavam revoltados por conta de um episódio ocorrido cerca de uma semana antes da chacina, quando um policial militar foi expulso do Curió por traficantes. Os criminosos teriam descoberto que o PM estaria por trás do homicídio de um adolescente ligado à venda de entorpecentes.

Uma semana depois desse fato, por volta das 21 horas de 11 de novembro do ano passado, o soldado Valtemberg Charles Serpa, é morto com um tiro em uma tentativa de assalto à mulher dele, no bairro Lagoa Redonda. Após a morte do soldado, "os colegas de farda começaram a se articular", afirmou. A chacina teria sido em retaliação aos dois acontecimentos.

Diário do Nordeste