Até agosto de 2016, as mais de 6 toneladas de produção de alimentos esperadas não chegaram a 3, gerando uma perda de 52,8% segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), além de um prejuízo de R$ 3,4 milhões para a economia local.
“O milho e o feijão não renderam. O arroz que historicamente rendia bem, também não teve colheita. A banana foi quem ainda salvou”, diz Joaquim Virgolino de Oliveira, coordenador regional da Ematerce em Iguatu.
Neste ano, a chuva na cidade ficou 19% abaixo da média, que é de 933 milímetros. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), esse ano não foi dos piores, mas bem abaixo do volume de precipitações de 2010, quando foram registrados 1.357 mm.
Em 2016, de julho a novembro, São Pedro nem sequer trabalhou, apesar de os meses de janeiro e março terem registrados chuvas acima da média mensal, que é de 128 mm.
Apesar tudo, a esperança começar a surgir. Nas localidades de Aroeiras e Riacho da Areia, agricultores familiares já estão colhendo cebolinha, cenoura, alface, beterraba e coentro. Além de ajuda na mesa, o bolso dos agricultores vem ganhando alívio. Tudo isso por conta de um sistema de irrigação feito com palito de pirulito, prego e arame.
A inovação foi criada por estudantes do curso de Tecnologia em Irrigação e Drenagem do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE) da cidade de Iguatu. Chamado de projeto Mudas, o sistema é aplicado em comunidades rurais, associações e escolas municipais, visando a melhoria da qualidade de vida, através de técnicas de produção segura e sustentável, uso eficiente da água, redução na perda de alimentos, promoção da educação nutricional e comercialização.
Após as pesquisas iniciadas em 2014, o Mudas já começou a transformar a vida de agricultores da região. “Comandamos ações baseadas em um planejamento que envolve capacitações técnicas, produção de alimentos, comercialização de produtos além de um feito incrível que é a criação de duas tecnologias inovadoras conhecidas como Pirotec e Irrigas, duas maneiras mais baratas que o convencional de irrigar e controlar a umidade no solo”, explica o líder do time Enactus IFCE Iguatu, Kevin Brasil, técnico em Irrigação e Drenagem e também estudante de Química.
O Pirotec é o sistema em si produzido com prego, palito de pirulito e arame. Ele é 95% mais barato que outros sistemas de irrigação de baixo custo disponíveis no mercado. Já o Irrigas, é o sensor de umidade criado com madeira e seringas com um custo de R$ 8.
Neste ano, a área de 502 metros quadrados irrigada com o projeto Mudas já beneficiou 8 famílias com uma renda extra de R$ 880. Além disso, as 20 mulheres passaram por um treinamento de produção de polpas, doces e geleias. Como ramificação do projeto, alunos da escola Marta Maria Sobreira e da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Iguatu receberam palestras sobre alimentação e reciclagem.
Para 2017, Kevin Brasil e sua equipe querem ir mais longe. “Iremos mecanizar a produção de aves para essas famílias. Já desenvolvemos uma chocadeira artesanal 25% mais barata que a de mercado. Outro fato importante será o empoderamento das mulheres através de uma fábrica de doces, polpas e geleias e, por último, iremos distribuir o Pirotec e o Irrigas para mais de 3.000 famílias de todo Ceará”.
Red DN