Como será a sensação de ter dois corações batendo no peito? Para a menina Victoria, é esperança em dobro!
O Fantástico começa com a incrível história de Victoria, um caso raríssimo na medicina brasileira. Aos 13 anos já sofreu quase 70 paradas cardíacas, mas hoje pode finalmente dizer que está voltando a viver.
Quem vê a adolescente vaidosa e sorridente não imagina os dias difíceis que ela já enfrentou. “Ela teve uma febre aos cinco meses de idade. Levei no 24 horas. Chegamos lá, o médico começou examiná-la e viu que o coração dela tinha uma batida diferente e, realmente, detectou que ela tinha um problema no coração”, explica a mãe da menina, Tatiana Fernanda da Silva.
Victoria nasceu com uma doença rara chamada anomalia de Ebstein, um problema congênito em uma válvula do coração, a tricúspide, responsável pela passagem do sangue do átrio direito para o ventrículo direito. É dali que o sangue é enviado para o pulmão, onde vai ser oxigenado.
“Quando ela começou crescer a gente começou a perceber que ela não acompanhava as outras crianças nas brincadeiras de correr. Ela sempre se cansava com mais facilidade”, conta a mãe de Victoria.
No ano passado, o problema piorou e ela precisou ser internada.
“A pressão dela era baixa, ela mal conseguia pentear os cabelos. Então, era uma situação muito crítica. Existia a possibilidade de ela ser colocada em uma máquina depois e, eventualmente, ser transplantada”, comenta o cirurgião do Hospital Beneficência Portuguesa - SP, José Pedro da Silva.
“Foi como se tivesse acabado o mundo pra gente”, relembra a mãe da menina.
Ela foi internada. Ao todo por 150 dias em um hospital em São Paulo, 30 deles em coma. Victoria esteve à beira da morte.
"Nós nunca perdemos a esperança. Nunca perdemos a confiança que ela iria melhorar”, conta o pai da Victoria, Marco Antônio da Silva.
Victoria passou por oito procedimentos cirúrgicos, mas continuava em estado muito grave. Chegou a ter cerca de 70 paradas cardíacas. Então os médicos optaram pelo transplante e colocaram um coração novo para ajudar o da Victoria enquanto ele se recupera.
"Essa foi uma decisão tomada no centro cirúrgico. E foi baseada no fato de que o coração dela, embora não estivesse recuperado totalmente, ele tinha melhorado, não estava mais apresentando arritmia. Então, nós julgamos que haveria uma possibilidade dela recuperar o coração próprio", conta o médico de Victoria.
A menina vive agora com dois corações, um caso raro na medicina.
O coração transplantado foi colocado do lado direito do peito de Victoria. Ele fica de costas para o coração original. Os dois são ligados pelos átrios esquerdo e direito, pelas aortas e pela artéria pulmonar.
“Eles são conectados de tal forma que cada um deles possa trabalhar em conjunto, mas também possa trabalhar separadamente. Por exemplo, se um coração falhar, o outro assume a circulação. E ela pode ficar bem mesmo com a parada de um dos corações”, explica o Dr. José Pedro.
Neste tipo de transplante, porém, o órgão doado funciona apenas como um apoio, um tempo extra que o coração de Victoria ganhou para se reestabelecer.
“É uma expectativa boa nesse sentido, especialmente, porque os últimos exames dela, antes de sair do hospital, o coração tinha melhorado mais ainda depois desse procedimento”, comemora o Dr. José Pedro.
Para Victoria, acordar depois do coma com dois corações no peito foi estranho. “Um belo dia eu perguntei pra minha mãe. Ela me explicou. Nossa! Eu fiquei apavorada. Gente, como que cabe? Sei lá! Eu não sabia o que eu pensava”, ela conta.
Fantástico: O que você sente dentro do seu peito? Você sente que tem dois corações aí?
Victoria: Não, eu sinto que nem antes, normal. Só um coração.
Fantástico: Você só sente um batendo?
Victoria: É.
Fantástico: Eles batem juntos?
Victoria: Batem.
Victoria: Não, eu sinto que nem antes, normal. Só um coração.
Fantástico: Você só sente um batendo?
Victoria: É.
Fantástico: Eles batem juntos?
Victoria: Batem.
É difícil perceber a diferença até na hora dos exames. Uma imagem mostra o coração nativo e a diferença com o coração do doador.
Recuperada, ela teve alta e voltou para Ribeirão Preto, onde mora, no interior de São Paulo. Aos poucos, retoma a vida normal.
O Fantástico chegou antes das seis da manhã à casa da Victoria para acompanhar desde bem cedinho a volta dela à escola, depois de tantos dias de internação.
Café da manhã com a família, maquiagem e pronto. Hora de reencontrar os amigos. No colégio, todos estão ansiosos, mas por enquanto ainda é necessário tomar alguns cuidados.
Fantástico: Por que que as pessoas não podem beijá-la, abraçá-la?
Dr. José Pedro: Todo paciente que é transplantado precisa tomar alguns medicamentos para evitar que tenha a rejeição. Esses remédios, além de evitar a rejeição, diminuem um pouco a reposta às infecções do corpo.
Dr. José Pedro: Todo paciente que é transplantado precisa tomar alguns medicamentos para evitar que tenha a rejeição. Esses remédios, além de evitar a rejeição, diminuem um pouco a reposta às infecções do corpo.
Victoria ainda recupera os movimentos das pernas, prejudicados por uma lesão cerebral decorrente das paradas cardíacas. Mas para ela isso é o de menos. Agora é hora de matar a saudade dos amigos.
“Nós passamos por um momento muito difícil com a Victoria longe da gente. Então, acho que esse momento é só de agradecimento, né gente? Muito feliz por você estar aqui com a gente, minha querida”, comemora a professora.
Fantástico: O que vocês têm para dizer para ela?
Amiga: Que a gente tá muito feliz por ela voltar, que ela é uma vitoriosa.
Amiga: Que a gente tá muito feliz por ela voltar, que ela é uma vitoriosa.
É tanto mimo que só mesmo com dois corações para dar conta.
Mãe: Eu já até perguntei isso pra ela: se eu estou nos dois corações.
Fantástico: Para quem que vai esse amor todo desses dois corações?
Victoria: Para todo mundo.
Fantástico: Para quem que vai esse amor todo desses dois corações?
Victoria: Para todo mundo.
Fonte: G1