Torneira pingando, luzes acesas sem necessidade e alimentos comprados e consumidos sem planejamento. Estes são apenas alguns sinais de que o seu dinheiro está indo para o ralo todos os meses. Na ponta do lápis, o desperdício pode levar de 10 a 20% do orçamento doméstico, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abef).
“Não é preciso estar com dificuldades financeiras para começar a identificar onde os gastos são feitos sem necessidade. Quem não usa racionalmente a água e a luz, por exemplo, pode deixar de usufruir de outros bens e serviços por causa do desperdício”, afirma Louise Porto Freire, educadora financeira. “Ninguém fica feliz ao pagar uma conta de energia mais cara, mas fica satisfeito em poder ir a um restaurante com a família ou ao comprar uma roupa nova com o dinheiro que sobra no orçamento. Apesar de óbvio, muitos ainda não analisam que medidas simples de contenção propiciam bons resultados”, alerta.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o preço da tarifa de água e saneamento no Brasil é considerado baixo para os padrões internacionais, o que motiva comentários de especialistas que acreditam que se a conta de água fosse mais cara, o consumo seria mais racional. Segundo a Global Water Intelligence, instituição que é referência global em análises sobre a indústria de águas, a tarifa média no País em 2013 estava em torno de US$ 1,50 por metro cúbico (R$ 3,43), cerca de 1/5 do valor cobrado no Primeiro Mundo.
Ainda de acordo com a ONU, apesar do Brasil apresentar bons níveis de cobertura de água potável, cerca de 40% do potencial hídrico é desperdiçado no abastecimento.
Em Fortaleza, a tarifa mínima atual varia de acordo com a faixa de consumo do cliente e a categoria (domiciliar, residencial e industrial, dentre outras), indo de R$ 0,80 a R$ 5,42.
Estrago à mesa
E o estrago também chega à mesa. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da produção ao consumidor, um em cada três alimentos é jogado fora, o que causa mais de US$ 750 bilhões anuais de prejuízo no mundo todo.
“A compra no supermercado é onde o problema começa, mas o principal fator para o desperdício é mesmo a falta de manuseio correto dos produtos, o que prejudica o consumo final e faz com que o alimento seja jogado no lixo”, aponta Lidiane Andrade Fernandes, nutricionista do Mesa Brasil, programa do Serviço Social do Comércio (Sesc-CE) que integra empresas, instituições sociais e voluntários para redistribuir alimentos excedentes e em condições de consumo. “Ainda é comum se descartar cascas e talos de frutas e verduras, partes ricas em vitaminas e minerais, só porque as pessoas não sabem que eles também podem ser consumidos”, afirma.
“Temos que criar hábitos pra aprender a economizar. A questão da água é dramática há tempos. Se não aprendermos pelo respeito à natureza, vamos compreender pela necessidade financeira. Toda produção tem um custo, e ele está ficando cada vez mais alto e inacessível a uma grande parcela da população”, aponta João Saraiva, economista e ambientalista. “Nunca seremos um país competitivo se não reduzirmos nossos desperdício. Precisamos mudar nosso jeito de agir. É uma mudança feita a partir de casa”, cobra.
Fonte: O Povo