O Ministério Público Estadual (MPE) aprofunda as investigações acerca do envolvimento de um advogado com as ações do crime organizado no Ceará. Preso há três semanas, e já liberado através de uma audiência de custódia e com o uso de uma tornozeleira eletrônica, o advogado Alaor Patrício Júnior poderá ir para a cadeia em breve. O MP já requereu que sua prisão em flagrante seja convertida em preventiva.
De acordo com a investigação, o advogado estaria atuando nos presídios que fazem parte do Complexo Penitenciário de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como uma espécie de “pombo-correio” do crime organizado, levando e trazendo informações sobre o planejamento de fugas e da movimentação e contabilidade do tráfico de drogas, entre criminosos presos e soltos.
Além do advogado, estão sendo investigados, ao menos, quatro criminosos que hoje estão isolados na ala de segurança máxima da Casa de Privação Provisória da Liberdade Agente Elias Alves da Silva, a CPPL 4, em Itaitinga.
São bandidos de alta periculosidade identificados como Antônio Rômulo Soares dos Santos, José Wangleison Batista de Castro, Alan Marcos Azevedo Rocha e Valdemberg Rodrigues da Silva. Os quatro seriam clientes do advogado e respondem a uma lista volumosa de crimes como assassinatos (homicídios), tráfico de drogas, formação de quadrilha, roubo, receptação, associação para o tráfico de entorpecentes e organização criminosa nas comarcas de Fortaleza, Caucaia e Itaitinga.
Preso em flagrante quando escondia na cueca bilhetes dos criminosos para serem entregues fora da cadeia, Alaor Patrício Júnior foi suspenso pelo Tribunal de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE). A princípio, está proibido de exercer a profissão por cerca de 12 meses. A medida é preventiva enquanto o processo disciplinar tramita e poderá terminar na cassação de sua carteira da OAB, o que o impedirá de advogar.
Na audiência de custódia realizada no dia 2 de outubro e presidida pelo juiz de Direito Christiano Silva Sibaldo de Assunção, o Ministério Público chegou a solicitar de pronto a decretação da prisão preventiva do acusado para o “resguardo da ordem pública”, popis, de acordo com o relato da direção do presídio, “o advogado Alaor Patrício Júnior estaria auxiliando líderes de facções criminosas ao levar informações destes para fora da Casa de Privação (CPPL 4)”.
O juiz entendeu que não havia elementos para a caracterização do crime previsto na Lei das Organizações Criminosas, para se convenceu de que o advogado está envolvido no crime de associação para o tráfico de drogas. Além de suspenso pela OAB, Alaor Patrício Júnior foi obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica para permanecer em liberdade, enquanto o MP segue no aprofundamento da investigação da relação dele com o crime organizado no Ceará.
(Fernando Ribeiro)