A Polícia Federal deflagrou ontem, em Fortaleza, São Paulo e Goiânia, a Operação Tira-Teima, com oito mandados de busca e apreensão, para apurar o pagamento de propinas de campanhas eleitorais por meio de notas frias. Desdobramento da Lava-Jato, a operação foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da procuradora geral da República, Raquel Dodge.
Foram oito mandados cumpridos por cerca de 40 agentes da Polícia Federal. De acordo com a PF, a operação "investiga pagamentos de vantagens indevidas por parte de um grupo empresarial a políticos, para obter benefícios, considerando a notícia de doações de campanha abalizadas através de contratos fictícios".
Os alvos são pessoas que teriam ligação com o presidente do Senado, Eunício Oliveira. O senador nega qualquer envolvimento com a operação que é parte da Ação Cautelar 4.380, autorizada pelo Ministro Edson Fachin.
No Ceará, as buscas ocorreram na sede do grupo M Dias Branco. Uma nota, assinada pelo vice-presidente de Investimentos e Controladoria, Geraldo Luciano Mattos Júnior, afirma que "em conformidade com o parágrafo 4º do artigo 157 da Lei nº 6.404/76 e com a Instrução CVM nº358/02, comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral, que a Polícia Federal realizou, nesta data, medida de busca e apreensão em sua sede, em cumprimento à ordem judicial proferida pelo Exmo. Sr. Dr. Ministro Edson Fachin, nos autos da Ação Cautelar nº 4.380. A companhia cearense encerra a nota dizendo que "tem colaborado com as autoridades e continuará a fazê-lo".
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, as buscas Em Fortaleza, São Paulo e Goiânia têm por finalidade fazer o caminho inverso das propinas que teriam abastecido campanhas eleitorais. As investigações teriam como ponto de partida a delação do ex-diretor de Relações Institucionais do Hypermarcas Nelson Mello.
A empresa, hoje com o nome de Hypera Pharma, sediada em São Paulo, também foi alvo da Operação 'Tira-Teima'. O ex-diretor afirmou ao Ministério Público Federal, ainda em 2015, ter repassado mais de R$ 26 milhos para o PMDB na campanha eleitoral de 2014. O intermédio seria o lobista Milton Lira.
Em 2016, Mello afirmou em seu depoimento à Procuradoria-Geral da República que pagou R$ 30 milhões a dois lobistas com trânsito no Congresso para efetuar repasses de propinas milionárias para senadores do então PMDB, entre eles o ex-presidente do Congresso Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Eduardo Braga (AM).
A Hypera Pharma se manifestou sobre a ação. "Nesta manhã, há operação de busca e apreensão no escritório da Companhia em São Paulo para colher documentos relacionados à colaboração do ex-diretor de Relações Institucionais da Companhia, Nelson Mello. A Companhia reitera que não é alvo de nenhum procedimento investigativo, nem se beneficiou de quaisquer atos praticados isoladamente pelo ex-executivo, conforme já relatado ao longo do ano de 2016 em vários comunicados".
Segundo Mello, um lobista lhe informou que um emissário do senador o procuraria em 2014. Então, um sobrinho do senador, de nome Ricardo, pediu ajuda financeira à candidatura. Esse sobrinho seria Ricardo Lopes Augusto. "Pagou despesas de empresas que prestavam serviços à campanha de Eunício Oliveira; que ajudou mediante contratos fictícios", disse o executivo da Hypermarcas na delação.
A assessoria do senador Eunício Oliveira informou, por meio de nota, que não há nenhum envolvimento seu no caso: "ele não foi alvo da Operação Tira-Teima. Tampouco pessoas ou empresas ligadas a ele foram alvo, ou sequer abordadas", disse sua assessoria em nota. (Com informações das agências)
Red; DN