O governador Camilo Santana (PT) e o senador Eunício Oliveira (PMDB) dividiram palanque, ontem, para a autorização do início das obras do Hospital Regional do Vale do Jaguaribe. Hoje, estarão novamente juntos no Cariri ( Foto: Honório Barbosa )
Antes de realmente ser uma ação administrativa, o evento de ontem no Município de Limoeiro do Norte, no fundo, constituiu-se no primeiro comício, fora de época, da campanha de candidatos a cargos majoritários no Ceará. O Estado, realmente, precisa de mais equipamentos e melhor estrutura de Saúde para minimizar o sofrimento de sua população, notadamente a mais carente, mas, mesmo com a garantia da contratação de empréstimos para construções de hospitais, não tem o erário a garantia de recursos próprios para aumentar o custeio fixo da máquina.
O Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, nos moldes do projetado, custará anualmente, na plenitude do seu funcionamento, não se sabe quando, ao menos R$ 150 milhões a preço de hoje, valores superiores à sua edificação, estimada em aproximadamente R$ 120 milhões.
O Estado ainda não foi capaz de ofertar os serviços programados para o Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim, inaugurado em 2014, no fim da gestão do ex-governador Cid Gomes, portanto há exatos três anos. Hoje, o Hospital de Quixeramobim está atendendo apenas com 33% da sua capacidade, custando mensalmente próximo de R$ 3 milhões. Falta dinheiro para mantê-lo como projetado.
Custeio
Hoje, segundo dados oficiais, ao contrário da década passada, dois terços de todos os recursos para a Saúde saem do erário estadual, ficando a União com apenas um terço. Houve uma inversão nas competências desses gastos. O próprio Estado, nos últimos três anos, reduziu um pouco o seu percentual no custeio da Saúde, caindo de 16% da sua Receita Corrente para 13% atualmente, equivalente a aproximadamente R$ 3 bilhões, segundo dados colhidos pelo presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, o deputado Carlos Felipe, aliado do governador.
Os três maiores hospitais geridos pelo Executivo estadual, através do ISGH (Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar), Hospital Geral de Fortaleza, Hospital Regional do Norte, em Sobral, e o Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, têm despesas de manutenção anual perto dos R$ 700 milhões.
O ISGH também gerencia outros equipamentos do Estado, inclusive as Unidades de Pronto Atendimento, também absorvedores de volumes expressivos de recursos. Sem quadros técnicos próprios, notadamente os do Interior, são substanciais as despesas com pagamentos de serviços médicos através de Cooperativas, motivando até o questionamento, hoje, se vale apena, realmente, ter pessoal terceirizado ganhando muito além dos salários reais do Estado.
A Região do Jaguaribe carece desse empreendimento, como as demais regiões reclamavam os hospitais já construídos, mesmo que talvez só nas proximidades da campanha de 2022 o Hospital de Limoeiro esteja gerando os frutos daquilo que ontem prometeram à população, enquanto a Região Metropolitana de Fortaleza continua aguardando o Hospital Regional que seria construído, no sistema de Parceria Público Privada, no Município de Maracanaú, para desafogar a rede pública da Capital, inclusive na especialidade da traumatologia.
Amaciamento
A ordem de serviço dada, ontem, para o Consórcio Marquise/Normatel iniciar a construção do Hospital Regional do Vale do Jaguaribe marca o início da série de eventos políticos envolvendo o governador Camilo Santana e o senador Eunício Oliveira (hoje estarão novamente juntos no Cariri), até recentemente adversários, posto estarem rompidos desde 2014, quando disputaram o mesmo cargo de governador do Ceará.
Estão fazendo a chamada "construção" da aliança política, o trabalho de amaciamento do eleitorado para aceitar a aliança, já acertada entre os dois, abençoada pelos primeiros apoiadores de Camilo, que reclamam a tal "construção", para evitarem maior volume de reações adversas quando tiverem a necessidade de a tornarem pública oficialmente.
Camilo nada precisa dizer quanto à inclusão de Eunício Oliveira em sua chapa majoritária. Se não bastassem as informações circulantes sobre os encontros de ambos em Brasília, com o prefeito Roberto Cláudio ao lado, os dois últimos eventos públicos oficiais com a participação de ambos calam petistas e pedetistas ainda sonhadores de um lugar de candidato ao Senado no esquema governista. O ex-governador Cid Gomes não só tem a outra vaga de candidato ao Senado, como já declarou ser o governador Camilo Santana o condutor das alianças para a sua disputa por um segundo mandato.
O périplo dos dois pelo Interior cearense, sob o argumento de estarem trabalhando juntos para melhorarem a condição de vida dos coestaduanos, reduz o espaço de atuação dos oposicionistas, incapazes, até o momento, de organizarem uma frente para melhores condições adquirirem no momento de enfrentar a chapa governista.
A oposição só contava com Eunício Oliveira, lamentavelmente. Agora está órfã, embora isso não signifique dizer que está incapacitada de reunir forças para reagir, aproveitando-se do desejo de expressivo segmento do eleitorado sempre disposto a votar contra os governantes de plantão. Com o governador em plena campanha, a oposição está deveras atrasada, chegando no início do ano da eleição sem acordo quanto aos seus nomes para enfrentar os governistas já em plena campanha.
Red; DN