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sexta-feira, 14 de julho de 2017

Breno Calixto relembra passado como traficante e fala de bastidores de torcida organizada


Breno Calixto

Morador do bairro Parque São José, em Fortaleza, o jogador do Náutico, Breno Calixto, de 24 anos, falou de sua realidade difícil na favela, em entrevista ao Uol Esporte. O atleta contou que foi um dos poucos que conseguiu se realizar profissionalmente entre seus amigos. Só em 2017, ainda segundo ele, oito amigos seus morreram. "Da época do crime, se eu for fazer uma conta hoje, foram mais de 30".

"Na verdade, é que eu não tenho muitos amigos. A maioria morreu. Na época em que eles eram vivos, eu era o orgulho do bairro". 

Ainda de acordo com o site, Breno foi traficante de drogas até os 22 anos, quando já atuava como jogador profissional. Ele também integrou a torcida organizada do Fortaleza e participou de brigas com rivais. 

"Acho que matar eu não matei ninguém, mas com sequela a gente já deixou bastante gente. É uma coisa normal. Todo mundo que é de torcida tem sequela. Já deixei, já levei. Já deixei bastante nego com cabeça aberta e olho inchado". 

Breno relembra que o crime entrou em sua rotina ainda na infância, quando tinha "nove ou dez anos". "No decorrer do tempo, mesmo jogando na base, continuei. Sempre fazia meus bicos por fora". 

O jogador foi criado pelo pai, que conseguiu na Justiça esse direito. No entanto, como o progenitor era motorista de ônibus, passava a maior parte do tempo com sua avó. "Ela já era idosa e não era muito ligada. Saía na hora que eu queria e voltava quando queria. Eu falava que ia jogar bola e ia para a favela". 

Ele ainda detalhou bastidores de quando fazia parte da torcida organizada do Fortaleza Leões da TUF. Breno treinou para participar das brigas. Aos 17 anos, foi considerado um "linha de frente". "Para ser linha de frente você precisa ser mais forte, no mínimo. Exige de você bastante violência. Nunca fui um cara de beber muito. A gente bebia para ter mais coragem. Você já não estava consciente e era melhor para fazer alguma coisa".

O jogador também falou de sua relação com a maconha. Ele usou a erva, ainda segundo a reportagem, dos 10 aos 20 anos. "Sempre gostei. Não chegava a ser um víco, mas eu usei bastante. Na boca dos bandidos, maconha não é droga. Eles consideram uma erva normal, que não leva a mal nenhum".

"A intenção era ir para brigar"

O zagueiro relata que independente do resultado dos jogos, a intenção dos participantes da torcida organizada era ir para brigar. "Se não tivesse briga era a mesma coisa que não ir. Já tiveram vários clássicos (Fortaleza x Ceará) em que a gente foi e não rolou nada. A gente voltava meio triste por não ter acontecido nada, mas quando rolava briga era como uma sensação de pegar uma mulher dos seus sonhos". 

Breno já perdeu as contas de quantas brigas se envolveu e revela que já transformou vários materiais, como barras de ferro e faca, em armas para os confrontos. "É a mesma coisa de ter um filho: você tem de cuidar e não pode deixar ninguém fazer mal. Não tinha consciência nenhuma. Se ganhasse briga era como se fosse um trófeu. A gente não tinha remorso. Era como ganhar uma guerra". 

Apesar dos episódios, ele nunca foi preso. "Só detido, mas por briga de torcida. Passei 24 horas e fui liberado. Nem meu nome eles anotaram. No crime eu nunca fui pego".

Mudança de vida

Um técnico chamado Bira Lopes, que conheceu em Fortaleza, por meio de seu pai, o ajudou a mudar de vida. Foi ele que arranjou times em outros estados para Breno jogar bola e, com isso, minimizar a influência do crime em sua vida.

Um amigo próximo, Renê, que após ser desligado da categoria de base do Santo André, devido a uma grave lesão nos ligamentos, morreu assassinado ao retornar para Fortaleza, também fez Breno repensar seu caminho. "A gente nasceu e se criou junto". Em seu velório, prometeu que daria o nome do amigo ao primeiro filho, que nasceu há nove meses: Renê Simeone. "Renê é homenagem. Simeone eu coloquei porque achei bonito mesmo". 

Espírito de grupo

Apesar do passado, Breno é visto pelos colegas do Náutico de forma positiva. "Percebemos uma convivência muito pacífica com todos os companheiros. Ele demonstra muito espírito de grupo e vem se destacando pela liderança", afirmou Emerson Barbosa, vice-presidente de futebol do Náutico. 

"Eu me sinto um sobrevivente. Me sinto um vencedor. Passei por muita coisa ruim na vida, mas hoje estou firmão e bem. Conto minha história para que sirva de exemplo e para que os outros não façam isso". 

Blog Erivando Lima / DN