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terça-feira, 19 de julho de 2016

Ordens para ataques partiram do presídio; SSPDS identifica mandantes


Pelo menos oito pessoas, algumas custodiadas em penitenciárias da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estariam ordenando os recentes ataques às forças de Segurança do Estado, a prédios públicos e transporte coletivo. A afirmação é do secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), delegado federal Delci Teixeira, em entrevista à reportagem na tarde de ontem. Os principais líderes por trás das ações criminosas já foram identificados pelos setores de Inteligência da SSPDS.

O estopim para a atual onda de atentados a delegacias, viaturas e o mais grave, a policiais militares fardados ou não, seria a apreensão de 500 aparelhos celulares e mais de mil chips na Unidade Prisional Agente Luciano Andrade Lima, a antiga CPPL I. A penitenciária e a CPPL do 'Carrapicho', em Caucaia, abrigam os principais e mais perigosos detentos custodiados no claudicante Sistema Penitenciário do Estado do Ceará.

"A apreensão dos celulares (na última quinta-feira) desencadeou uma reação em que a nossa Inteligência aponta que as ordens para esses ataques estão partindo realmente de dentro do presídio. Já identificamos as lideranças. Não só identificamos as lá de dentro como as de fora, que são as pessoas que têm a responsabilidade, a missão de contratar os executores das ações, que são menores (adolescentes), praticando", disse.

A Secretaria de Segurança Pública afirmou que os setores de Inteligência vêm monitorando os suspeitos. Já na noite de ontem, cinco deles foram capturados, na Praia de Iracema, em um Chevrolet Celta, com drogas. Nos celulares deles foram encontradas mensagens relacionadas a mortes de policiais. Haveria, ainda, indicativos de que eles seriam membros de uma facção criminosa. O grupo foi levado para o 2º DP (Aldeota) e autuado por desobediência e associação criminosa.

Além da apreensão dos celulares, Delci Teixeira apontou que as ações do aparato da Segurança em um ano e meio incomodaram o crime. Segundo Teixeira, de 1º de janeiro de 2015 a 31 de julho deste ano, foram realizadas mais de 39 mil prisões, cerca de 13 mil apreensões de adolescentes e aproximadamente 9,5 mil armas tiradas das ruas.

O elevado número de prisões realizadas, por sua vez, deu início ao problema da superlotação nos presídios cearenses. "Essa crise obrigou a Polícia a deslocar suas tropas especiais e aí colocamos o BPChoque, o BPRaio, FTA (nos presídios). Tivemos de deslocá-los para dar apoio aos agentes penitenciários da Sejus. Nós temos uma situação em que estamos procurando retomar o controle dos presídios. E isso está incomodando a criminalidade", ponderou o secretário.

Crime organizado

Inicialmente, o Estado negava a atuação do crime organizado no Ceará. Ontem, no entanto, Delci Teixeira disse que nos presídios eles estão organizados em facções e, quando saem, continuam trabalhando para esses grupos. Teixeira definiu o que considera crime organizado, tomando como exemplo experiências que teve enquanto delegado da Polícia Federal. O secretário de Segurança indicou que, no Ceará, ainda não há organizações criminosas como se vê em atuação em outras regiões do País.

"Aqui (no Ceará) se criou uma sopa de letrinhas de facções. No Rio de Janeiro, temos as facções. Lá é o crime organizado pois dominam determinada área, um morro, favela. Quando me refiro que não há o crime organizado aqui é que não há um bairro em que a Polícia não possa entrar. Essas facções dentro de presídios têm em todo o Brasil. Você só vai se organizar no crime para ganhar dinheiro. Só para praticar violência é idiotice. Pegar meia dúzia de maluco, sair dando tiro pra tudo quanto é lado, não é crime organizado", explicou Teixeira.

Apesar da negativa, o secretário de Segurança admitiu que as facções existentes dentro das unidades penitenciárias cearenses controlam parte dos bandidos que estão agindo nas ruas. "Como temos muita gente sendo presa, vamos raciocinar que de 39 mil presos, pelo menos 21 mil passaram um período e tiveram contato com as facções e estando aqui fora vão prestar serviço, vão realizar algumas tarefas. Aí se pode dizer que lá de dentro eles determinam o crime aqui". O secretário afirmou, ainda, que as investigações continuam e os líderes dos atentados devem ser presos nos próximos dias.

Diário do Nordeste