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sábado, 18 de junho de 2016

Quatro pessoas são presas por feminicídio; Polícia busca corpo

Saulo Custódio foi preso pela Polícia Civil. Além dele, outros três homens foram detidos. A defesa de Saulo afirma que ele é inocente. Para os investigadores, depoimentos de testemunhas foram fundamentais para esclarecer o crime ( FOTO: ANDRÉ COSTA )

O feminicídio que mobilizou a população do Crato em torno das buscas à jovem Rayany Alves Machado, 24, cujo corpo permanece desaparecido há mais de dois meses, está praticamente esclarecido, segundo a Polícia Civil. Quatro pessoas que teriam participado da morte e da ocultação do cadáver foram presas. Além do suposto autor do crime, Saulo Lopes Custódio, três ajudantes dele foram capturados e as responsabilidades de cada um estão sendo analisadas.

O inquérito foi enviado à Justiça pedindo a prorrogação do prazo para ser relatado. A Polícia tenta descobrir onde está o corpo da vítima. A delegada Kamila Brito, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) do Crato, disse que esteve em Belém do São Francisco, onde Rayany teria sido morta. Existe a possibilidade que a vítima tenha sido jogada nas águas ou enterradas às margens do Rio São Francisco. "Estamos montando uma operação com a Polícia de lá em busca do corpo", afirmou Kamila.

O delegado Diogo Galindo, da Delegacia Regional do Crato, disse que Saulo Custódio responde a outros cinco procedimentos contra mulheres, por razões passionais. Além de ser processado por uma extorsão mediante sequestro e ser investigado por dois homicídios.

"Ele tinha muitos outros procedimentos. Já havia sido autuado por lesões graves contra mulheres. Uma destas mulheres teve as costas dilaceradas por uma faca. Ele quebrou os dentes e o nariz de outra. É uma pessoa realmente fria, perversa", afirmou o delegado.

Conforme Galindo, os outros dois homicídios pelos quais ele é investigado, também foram cometidos no Crato, mas as apurações acontecem em sigilo. O delegado informou que as investigações apontam para que Rayany Machado tenha sido raptada pelo suspeito, no dia 19 de março.

Pernambuco

Conforme a Polícia, a vítima foi levada por Custódio até a cidade de Belém do São Francisco, em Pernambuco, onde ele pegava o carvão que revendia. A reportagem teve acesso ao depoimento de uma das testemunhas que disse ter visto Rayany ser colocada à força no carro por Saulo, na noite que desapareceu.

Eles teriam discutido durante todo o percurso até Pernambuco. Quando o caminhão já era carregado, o homem disse que ouviu gritos de socorro, mas não ajudou porque temia pela própria vida. A testemunha declarou ainda, em depoimento à Polícia Civil, que após a discussão Saulo voltou molhado e teria dito, "matei aquela pilantra". O homem afirmou que o suposto agressor trazia um punhal e teria golpeado a jovem.

Segundo a Polícia, Rayany Machado tinha relatado aos familiares que estava receosa com a forma que Saulo agiu nos últimos contatos que tiveram, já que ele tinha feito ameaças. A quebra do sigilo telefônico do suspeito foi solicitada à Justiça. Kamila Brito afirmou que fará acareações entre os envolvidos, para elucidar informações que permanecem desencontradas.

Saulo Custódio nega que tenha qualquer envolvimento com a morte de Rayany Machado. Ele disse em seu depoimento que sabia que ela voltava do trabalho para casa de carona e acredita que possa ter sido levada por alguma dessas pessoas. Ele afirmou também, que não tinha um relacionamento firme com a vítima e nem motivos para matá-la. O suposto autor do crime conta que no dia em que Rayany desapareceu estava em uma festa na Cidade de São José do Belmonte. "Deus é fiel, tudo isso vai passar", afirmou à Polícia. O advogado Carlos Alberto Alencar, que representa o suspeito, disse que acredita na defesa de Saulo e os depoimentos das testemunhas são inconsistentes. "Nos primeiros depoimentos, eles disseram coisas diferentes. O Saulo não estava nesse lugar que a Polícia diz que aconteceu a morte e ele tem álibis. A Polícia não está trabalhando para encontrar a verdade, mas para incriminar Saulo", declarou.

O advogado disse ainda que vai entrar em contato com as pessoas que estavam com Saulo no dia do desaparecimento, para que elas possam comprovar que ele está falando a verdade. O advogado ingressará com um pedido de revogação da prisão preventiva do suspeito.

Histórico

Aos 30 anos, Saulo Custódio tem um histórico de confusões. Segundo um amigo de infância do suspeito, ele "teve uma vida conturbada, por opção". Nascido em uma família de classe média, sempre foi aluno de bons colégios particulares da Região do Cariri. Filho de pais separados alternava temporadas morando na casa do pai e da mãe.

Terminou o ensino médio e ainda chegou a ingressar na universidade, mas abandonou o curso. Atualmente, tinha um caminhão e atuava como microempresário negociando carvão. É pai de cinco crianças com cinco mulheres diferentes. Duas destas mulheres, registraram queixa contra ele por agressão.

"Saulo não era agressivo. Foi um garoto tranquilo, brincalhão. Não é fácil achar uma explicação para o rumo que tomou. Ele foi se distanciando dos amigos e mudando de atitude. O pai dele reclamava dos novos amigos, alertou várias vezes, mas a decisão sempre foi dele. Não se pode negar, os pais fizeram o possível para que tivesse uma vida diferente", afirmou um amigo de infância do suspeito.

O amigo de Saulo disse que acompanhou a mobilização para encontrar Rayany e ficou surpreso quando soube quem era o suspeito. "Não sei em que momento da vida ele se transformou e nem porquê. Essa violência, essa raiva que ele sente das mulheres que gostam dele não tem explicação".

FIQUE POR DENTRO

Feminicídio é previsto em Lei há um ano

A lei 13.104/15 alterou o Código Penal para incluir mais uma modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio, em março de 2015. O crime está na lista dos hediondos. O novo tipo criminal prevê punições diferenciadas para quem comete um assassinato contra uma mulher por razões da condição de sexo feminino. A legislação considera dois casos específicos para que mortes sejam consideradas feminicídios, são elas: violência doméstica e familiar; menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A lei estabeleceu também, que para fatos desta natureza a pena será aumentada de 1/3 até a metade se for praticado durante a gravidez ou nos três meses posteriores ao parto; contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; na presença de ascendente ou descendente da vítima.

Diário do Nordeste