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terça-feira, 10 de maio de 2016

Após reviravolta, Senado votará cassação de Delcídio hoje

Delcídio do Amaral admitiu envolvimento no petrolão e fechou acordo de delação premiada, implicando 74 pessoas no esquema

Indignado com o novo adiamento do processo de cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) na Comissão de Constituição e Justiça, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conseguiu acelerar a conclusão do caso após ameaçar não colocar em votação o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff nesta quarta, como estava previsto.

Com a pressão do peemedebista, a cassação de Delcídio foi marcada para hoje às 17 horas, no plenário do Senado. Diante a ameaça do presidente da Casa, senadores, principalmente da oposição e do PMDB, reagiram e decidiram apresentar um requerimento para que o caso fosse tratado com urgência, o que determinou o seu envio diretamente para o plenário. Um pedido, neste sentido, foi apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais aliados do vice-presidente Michel Temer, e foi aprovado em votação simbólica.

Os integrantes da CCJ se reuniram extraordinariamente no próprio plenário do Senado e aprovaram o parecer do Conselho de Ética, que já havia decidido, na semana passada, favoravelmente à cassação de Delcídio por quebra de decoro parlamentar. O relator na CCJ, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) leu o relatório e os parlamentares fizeram uma votação simbólica. Assim, o caso ficou liberado para análise do plenário.

Em reunião à tarde, a comissão havia decidido adiar a votação do parecer após ter acatado um pedido da defesa de Delcídio para que o colegiado requeresse à Procuradoria-Geral da República o compartilhamento de informações referentes a um aditamento da denúncia contra o senador feita na semana passada.

O requerimento de informação sobre o aditamento foi apresentado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e foi aprovado pela comissão com o voto contrário apenas do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Assim que foi informado da decisão, Renan reagiu. “Acho que algumas pessoas querem que o senador Delcídio participe da sessão do impeachment, mas eu manterei a minha isenção”, afirmou Renan. “Não é competência da CCJ produzir provas. É sim dizer se foi ilegal o trâmite do processo. Compreendo as razões da CCJ, mas qualquer medida para produzir provas entendo como procrastinação. Isso é papel do Conselho de Ética”, completou.

O peemedebista também argumentou que, por ser uma matéria cuja tramitação teve início antes do impeachment de Dilma chegar ao Senado, deveria ser analisada primeiramente. Se o adiamento da CCJ fosse mantido, Delcídio poderia votar no processo de impeachment de Dilma, previsto para ocorrer hoje.

Após ser preso por tentar atrapalhar investigações da Lava Jato, Delcídio admitiu envolvimento no petrolão e fechou acordo de delação premiada, implicando 74 pessoas no esquema.

Repercussão internacional

“Decisão surpreendente”

A mídia internacional repercutiu imediatamente a decisão do presidente interino da Câmara, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que anulou as sessões parlamentares que culminaram na aprovação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT). A decisão do parlamentar foi chamada de “surpreendente” e que leva o Brasil ao “caos”. Confira abaixo alguns destaques

The Guardian (Inglaterra)

“O novo presidente da Câmara dos Deputados anulou a votação do mês passado contra Dilma Rousseff em uma reviravolta que abalaria a credibilidade até de um episódio de House of Cards, inicia a matéria do tradicional jornal The Guardian, que chama o ato de um “movimento surpresa” e que leva a “legislatura para o caos”.

Corriere della Sera (Itália)

O jornal Corriere della Sera chamou a situação de “jogo de cena”, mas que “existem dúvidas sobre se essa decisão pode ser tomada de maneira retroativa”. “Segundo grande parte dos analistas, o jogo de cena pode atrasar o acontecimento, mas dificilmente salvará o posto da presidente Dilma Rousseff”, escreveram os italianos. 

Le Monde (França)

Já o jornal francês Le Monde tentou explicar o caso e disse que a situação do processo de impeachment “tomou um rumo inesperado”. “Para surpresa geral, Waldir Maranhão, o presidente interino da Câmara dos Deputados brasileira, anulou a sessão que aprovou o processo de impeachment”, continuou. 

La Nación (França)

O argentino La Nación também chamou a situação de “nova e surpreendente reviravolta na crise política brasileira”. “A notícia tomou Brasília com a mais absoluta surpresa e gerou a maior confusão sobre o futuro de Dilma Rousseff”, escreveu.

The New York Times (Estados Unidos)

O The New York Times informou aos seus leitores que a decisão de Maranhão “criou o maior tumulto da história no meio da luta pelo poder no maior país da América Latina”. O jornal descreve que Maranhão é um “obscuro” deputado, que assumiu o comanda da Câmara depois que o STF afastou Eduardo Cunha na semana passada.

El País (Espanha)


No El País, a notícia ganhou a manchete. Com o título “O presidente do Congresso brasileiro suspende o processo” de destituição de Dilma Rousseff, a matéria lembra que o passo seguinte do processo de impeachment seria a votação no Senado, marcada para a próxima quarta-feira, e que agora, “o cumprimento deste calendário é uma incógnita”.  Fala ainda que o enredo virou novamente “um imbróglio institucional”.

O Povo Online