Iguatu. A superlotação das duas celas da Delegacia Regional de Polícia Civil desta cidade, na região Centro-Sul do Ceará, resultou em um motim de 21 detentos, que decidiram iniciar, ontem, uma greve de fome. O clima na unidade é de tensão pois o problema na carceragem perdura há oito meses.
De acordo com a Polícia, os presos jogaram comida nas paredes das celas, batem nas grades e gritam o tempo todo, desde ontem, pela manhã. "Eles reivindicam transferência para a Cadeia Pública e reclamam contra a qualidade da comida fornecida pelo Estado", disse o delegado regional de Polícia Civil de Iguatu, Jerffison Pereira da Silva. "Já comuniquei o caso ao delegado geral da Polícia Civil e à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), mas nada foi resolvido até agora".
O juízo das Execuções Criminais interditou há mais de oito meses a Cadeia Pública, por causa de problema de esgotamento sanitário. Uma empresa foi contratada e teria executado o serviço, mas a unidade não foi liberada pela Justiça. "Na Delegacia não é para permanecer presos por vários dias e eles estão atrás de direitos mínimos, pois não há espaço para sequer se deitarem no chão", disse o delegado. "À noite, eles revezam, uns dormem e outros ficam em pé".
Na Delegacia de Defesa da Mulher há 14 presos, sendo cinco mulheres. "Nos fins de semana, com os flagrantes, a situação piora", disse o delegado. "Aqui não há condições de trabalho". A Delegacia Regional de Polícia Civil ainda não foi oficialmente inaugurada, mas os policiais ocuparam o imóvel, no ano passado, porque o antigo (uma casa alugada) não oferecia condições de permanência.
A unidade nova tem muros baixos e não há cerca elétrica. Já houve flagrantes de pessoas que pularam a parede e chegaram às celas para entregar drogas, serra e chaves de fenda. No Natal passado, houve fuga de presos. O delegado improvisou duas chapas de ferro para fechar área de ventilação nos fundos das duas celas.
Ações
A Assessoria de Comunicação da Polícia Civil disse que, em relação à superlotação, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Sejus e o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) estão desenvolvendo ações para resolver a situação dos presos nas delegacias.
Sobre a permanência de homens na Delegacia da Mulher e a insegurança no prédio da Delegacia Regional, o órgão informou que homens e mulheres estão em celas separadas e que a unidade citada possui circuito de monitoramento eletrônico.
A Sejus informou que desde a interdição diversas melhorias já foram realizadas na Cadeia Pública de Iguatu, como obras no esgotamento sanitário e nas instalações elétricas. A Secretaria ressaltou que o recebimento de novos presos é definido pelo Poder Judiciário e que está dialogando com o juiz para atender às demandas necessárias para a liberação da unidade.
Diário do Nordeste