Uma nova rebelião, definida pelo juiz titular da 5ª Vara da Infância e Juventude de Fortaleza, Manuel Clístenes, como “a pior do ano”, adensou a crise no sistema socioeducativo do Ceará. Cerca de 350 internos dos centros educacionais São Francisco e São Miguel, no Passaré, se rebelaram na manhã de ontem.
A revolta terminou com os dois centros destruídos e dois adolescentes baleados. De acordo com Clístenes, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, enviará um assessor para ficar a par da situação.
Por volta das 10h30min de ontem, após passarem por vistoria, os adolescentes do São Francisco iniciaram a revolta, conseguindo derrubar as grades das celas, atear fogo em colchões e eletrodomésticos, pular o muro e invadir o São Miguel, centro educacional vizinho.
Antes mesmo de o Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) chegar, o que aconteceu cerca de uma hora depois do começo da rebelião, o defensor público Aldemar Monteiro, que estava no local, relata ter ouvido disparos de arma de fogo. Sete dos adolescentes foram encaminhados ao Instituto Doutor José Frota (IJF) - dois com ferimentos de armamento letal. De acordo com Clístenes, que fazia o acompanhamento do caso até a noite de ontem, um dos jovens estava em estado grave e passaria por cirurgia. Os demais feridos, com escoriações leves, tiveram atendimento no centro.
Desdobramentos
“Os dois centros ficaram completamente destruídos. Era um palco de guerra. E até as 18h30min não havia um posicionamento de para onde os adolescentes seriam levados”, descreve o juiz.
Com a chegada do BPChoque, a rebelião foi contida e os adolescentes foram despidos e enfileirados. Para o defensor público, esse não deve ser o procedimento padrão. “É preciso que se faça uma revista, para a segurança, mas não despir e deixá-los assim”.
Conforme Clístenes, o ato “é vexatório e fere a intimidade e a dignidade humana”. “Para mim, foi dada a explicação de que, por causa da rebelião, os policiais não tiveram tempo de vistoriar cada adolescente um por um”, disse.
Para Mara Carneiro, coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), o Governo deve tomar medidas emergenciais. “É preciso garantir que as famílais sejam informadas do estado de saúde de cada adolescente. Além disso, água e comida de qualidade devem ser fornecidas, as obras dos centros em Sobral e Juazeiro aceleradas, deve haver afastamento de profissionais acusados de tortura, seleção de novos funcionários e se decretar estado de emergência”, reinvindica.
Em nota, a Secretaria do Trabalho e Defesa Social (STDS) afirmou avaliar “alternativas para transferência dos jovens”. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou estar apurando em que situação os jovens foram feridos. “O comando da Polícia Militar determinou a apresentação de todos os policiais que estiveram no local e nas proximidades. A Polícia Civil deve instaurar imediatamente inquérito”.
O Povo Online