No mês de janeiro deste ano foram feitos 72 pedidos de falência de empresas, segundo dados da Serasa Experian. Dentre elas, 28 são micro e pequenos negócios, 25 médias empresas e 19 de grande porte. No mesmo mês do ano passado foram 46 solicitações do tipo e em 2021 foram 40. Os pedidos de falência geralmente acompanham os de recuperação judicial e refletem as dificuldades financeiras vividas pelas empresas no país. O economista Luiz Rabi, do Serasa Experian, analisa com preocupação esses indicadores, porque demonstram que as empresas não estão conseguindo quitar suas dívidas: “A falência ou a própria recuperação judicial, que é uma forma de evitar a falência, estão crescendo no Brasil. Pelo menos neste início de ano. Sinalizando o agravamento de um quadro anterior, que era de inadimplência. Em primeiro lugar, as empresas vão acumulando dívidas, vão se tornando cada vez mais inadimplentes. Chega em um ponto que a inadimplência está tão alta, tão elevada, que ela acaba entrando num situação de pré ou quase insolvência. É justamente a recuperação judicial ou pedido de falência. E é isso que está crescendo mais recentemente no país. Nós estamos vendo empresas que acumularam uma quantidade enorme de dívidas e, agora, já estão entrando nessa situação de insolvência. Que é algo que preocupa bastante, porque entrar nessa situação significa que o risco de falência aumenta bastante”.
Os setores que mais fizeram pedidos de falência foram comércio e serviços. “A questão de setores depende fundamentalmente do mercado doméstico ou do mercado interno. E nós sabemos que o poder de compra do brasileiro foi muito afetado pela inflação. Na verdade, está sendo ainda afetado pela inflação. Então nós estamos vivendo uma estagnação e, até mesmo, em alguns casos, um retrocesso do mercado interno. Então as empresas ligadas ao setor de comércio e de serviços, que dependem fundamentalmente do mercado interno, acabam tendo maiores dificuldades financeiras nesse ambiente. Diferentemente da empresa do setor primário ou até mesmo do setor industrial, que conseguem exportar uma parte relevante da sua produção. Se o mercado interno está relativamente desaquecido, vamos tentar exportar. Mas essa válvula de escape praticamente não existe nos setores de serviços e comércio”, diz o economista.
Na segunda quinzena de janeiro, as Lojas Americanas entraram em evidência ao fazer o pedido de recuperação judicial com uma dívida declarada de mais de R$ 40 bilhões. Muitas vezes, as empresas entram com pedido de recuperação judicial, tentam criar planos para pagar os credores, mas não conseguem e acabam falindo. Isso ocorreu com a Livraria Cultura, que não conseguiu honrar as dívidas previstas no plano de recuperação judicial e teve a falência decretada pela justiça no começo de fevereiro deste ano. Apesar disso, uma liminar reverteu a falência da companhia. De acordo com especialistas, o número de falências pode continuar a subir ao longo do ano.
Diogo Silva, gerente da prática de restruturação e melhoria de gestão empresarial de consultoria, diz que para as empresas não chegarem a esse ponto, os dados precisam ser bem avaliados em todos os âmbitos operacionais. “Tem que ter a metodologia dos três P, pessoas, processos e produtos. Às vezes, são muito bom em produtos, mas não sabe lidar com pessoas ou eu tem um time muito grande de pessoas, mas não sabe lidar com produtos. Quando a empresa se baseia em gestão, não somente financeira, mas também gestão de processos, fazendo todos os registros de maneira correta dentro do negócio, isso acaba trazendo uma segurança maior, não somente no caixa, que talvez seja o último reflexo e acaba explodindo para fora, mas quando você implanta processos na empresa sem qualquer área dentro do seu negócio, isso acaba refletindo positivamente no seu caixa. E isso também acaba evitando o caminho da falência e da recuperação judicial”, diz o especialista.
Em caso de dificuldades financeiras, a melhor saída, segundo o consultor financeiro, é a empresa manter a transparência. “É preciso ter bom relacionamento. Se a empresa está entrando em dificuldade de caixa, ela precisa ter um bom relacionamento com seus credores, seus parceiros, de maneira que, se por acaso entrar em dificuldade, eles vão ter apoio interno e externo para poder sair desse momento de dificuldade financeira. Então tanto há interesse da empresa que está passando dificuldade de recuperar como também dos credores a receber. Eles querem receber seus pagamentos. Então é bom ter essa transparência, tanto com os envolvidos internos quanto os credores externos. E, assim, evitar o risco de caminho de falência ou recuperação judicial”, pontua.
*Com informações do repórter David de Tarso / Jovem Pan