O secretário da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, Kleber Carneiro, está animado com o retorno dos animais à feira. Apesar dos escassos recursos financeiros para manter o parque, os currais estão sendo restaurados ( Fotos: Alex Pimentel )
Quixadá. Conhecida como um dos maiores espaços de comercialização de caprinos, ovinos e bovinos do Ceará, a Feira de Animais de Quixadá está recomeçando a conquistar esse status. Após um período prolongado de estiagem e de uma série de regras exigidas pela Agência de Defesa da Agropecuária do Ceará (Adagri), para comercialização de ruminantes, de aves e até de derivados da pecuária, o parque regional está voltando a receber maior volume de criadores e de compradores. O comércio de queijos e aves capineiras também foi liberado.
> Caprinos já são 60% das espécies
Com quase oito décadas em atividade, a "feira dos bichos", como ficou conhecida ao longo dos anos por visitantes de todas as regiões do Ceará e até de estados vizinhos, funcionava como um termômetro econômico rural. Nos meses de pique, após a quadra invernosa, movimentava mais de R$ 1 milhão com a negociação de mais de dois mil animais. O movimento começava na noite da quarta-feira e se estendia no dia seguinte. Quem chegava de longe podia descansar; os animais também. Os mais velhos sentem saudade desses tempos.
O secretário da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, Kleber Carneiro, está animado com o retorno dos animais à feira. Apesar dos escassos recursos financeiros para manter o parque, os currais estão sendo restaurados. Uma balança eletrônica passou a ser utilizada na pesagem do queijo, uma exigência da Adagri, para evitar leso aos produtores. Com as balanças de peso, a perda chegava a mais de 30%, já que a aferição era manual. Até um local específico para pesagem e controle das vendas passou a funcionar. No dia de feira, neste segundo semestre, a média de comercialização é de 600 quilos. O preço varia de R$ 13,00 a R$ 14,00, o quilo.
Franklin Camurça comercializa queijo há quase três décadas. "Ninguém teve como escapar da seca severa dos últimos seis anos. Mas bastou a chuva voltar para as coisas melhorarem novamente. Até o melhor queijo do Ceará, do Vale do Jaguaribe, voltou a aparecer. Quando estamos começando a sentir o gostinho do dinheiro novamente, os fiscais aparecem com mais novidade. Agora vão querer exigir que a gente tenha câmara frigorífica e ainda o ensacamento a vácuo. Alguém vai ter de pagar essa conta", desabafa.
À frente do lugar há pouco mais de um mês, Kleber Carneiro tem o desafio de reestruturar os mais de 10 mil/m² da área situada no bairro Putiú com os recursos do próprio parque. A taxa para ingresso dos animais de pequeno porte é R$ 0,50 e dos maiores, R$ 1,00. Ele ainda está fazendo as contas, mas garante o retorno da negociação de equinos e de suínos, quando o restante dos currais estiverem prontos. Nesse último caso, deverá ser um pouco mais demorado em razão da necessidade de mais cuidados higiênicos.
Outra ideia é implantar às sextas-feiras a comercialização de produtos da agricultura familiar, muito forte em Quixadá e municípios vizinhos. Do artesanato de palha aos ovos de galinha caipira, quem se dedica a essas atividades terá a oportunidade de expor os seus artigos uma vez por semana. Como ocorreu nos anos de 1990 e início desta década, a Feira de Animais pode se tornar novamente um atrativo até para turistas, enfatiza o novo gestor do parque.
Apesar do otimismo as duas pontas desse negócio tradicional, todos reclamam da política adotada pela Adagri em relação às taxas de transporte dos animais. O criador paga em dobro pela venda do animal.
O criador João Ribeiro Farias explica: "Somos obrigados a pagar a Guia de Transporte do Animal, a GTA, do nosso curral até a feira. Quando a gente acaba de vender, é preciso emitir outra GTA, para o transporte do animal até o destino, mas como a maioria dos compradores não paga, o Governo emite e guia novamente no nome da gente. "Se eles não pagarem quando formos emitir outra GTA, temos primeiro que pagar a dívida do comprador", reclama.
Conforme técnicos da Adagri, há desinformação sobre o sistema de controle e emissão dos boletos. Trata-se de uma relação de confiança entre o vendedor e o comprador. Quem leva o animal deve ter a consciência de pagar a conta. Essa é a justificativa da Agência. O custo é calculado em Ufir, O,65 para bovinos e 0,50 para caprinos e ovinos. Entretanto, abaixo de uma Ufir, o equivalente a um boi ou duas cabras ou o mesmo número de carneiros, a taxa não é cobrada. Acima de 20 animais, é reduzida para 0,45 Ufir por cabeça.
Isenção
Criadores da agricultura familiar são isentos até dois bovinos e cinco caprinos e ovinos, mas é preciso comprovar a atividade através do título de propriedade. Quem reside em assentamentos rurais tem isenção total. Esses valores e regras estão estabelecidos na Lei 15.838, de 2015.
Red; DN