De sexta-feira (2) para sábado (3) foram registrados três linchamentos e uma tentativa, na Capital e Região Metropolitana. Conforme uma fonte da Polícia Civil, que preferiu não se identificar, além das facções criminosas que ordenam mortes com requintes de crueldade, as pessoas que não têm envolvimento com crimes estão participando dos espancamentos que terminam até em assassinatos.
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Discursos de ódio das redes sociais ganham as ruas
"As pessoas são vítimas das altas taxas de criminalidade do Estado, querem ver alguém punido e acabam agindo da forma mais extremada possível. Gente que se diz contra a violência integra essas turbas enfurecidas e espanca um bandido até a morte. Parece que não percebem que a partir do momento que você participa de um linchamento, vira criminoso também. Nessas mortes tem muita gente de facção também. A crueldade é um jeito deles de mostrar poder", afirmou o investigador.
No fim de semana, foram registradas três ocorrências de linchamentos. Três pessoas foram mortas e uma ficou ferida. O primeiro caso se deu na sexta-feira (2), na Comunidade do Lagamar, bairro São João do Tauape. Um detento da facção Comando Vermelho (CV) teria ordenado a execução de um homem suspeito de matar a esposa a facadas. A vítima foi baleada, apedrejada, espancada e teve o corpo queimado.
Durante a noite, dois supostos assaltantes foram mortos, na Rua 3, no Residencial Novo, em Maracanaú. A dupla estaria roubando uma moto, quando foi surpreendida por um grupo denominado 'Os Justiceiros'. Os dois foram baleados e espancados pela população.
Na madrugada de sábado (3), um assaltante foi agredido por um grupo de 20 pessoas, na Rua Padre Mororó, no Centro. Ele saiu da prisão há poucos dias e foi flagrado tentando roubar uma bicicleta.
Preconceitos
De acordo com Luiz Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, "são muitos os preconceitos construídos socialmente que, grosso modo, estruturam as manifestações de quem acha que pode enquadrar o outro no que pensa sobre o mundo".
"O maior perigo dos discursos de ódio é que eles fomentam a intolerância, destruindo a possibilidade de convívio e possibilitando que a violência seja usada de maneira indiscriminada contra os que são considerados 'inimigos'. O objetivo de quem dissemina o ódio é eliminar a diferença, reduzindo o outro ao que ele pensa e acredita ser a verdade", acrescenta o estudioso da violência.
Para além da punição, a discussão social sobre os limites do discurso é necessária. Segundo o sociólogo Luiz Fábio Paiva, a reprodução da raiva cria a incerteza dos limites. "Não há limites para quem dissemina o ódio. Também é difícil dizer até onde uma pessoa imbuída de suas convicções pode ir para estabelecer o que julga ser o certo", aponta.
O delegado Julius Bernardo afirma que cada caso é analisado pela Polícia, de acordo com o teor das ofensas ou agressões. "As penas variam de acordo com cada crime. No caso de ofensas, às vezes, vão além da própria injúria, como o racismo e a misoginia".
Redação DN