Recado do procurador federal Deltan Dallagnol é uma das principais preocupações do ex-governador do Ceará.
O cenário político do ex-governador Cid Gomes é de desolação. O procurador federal Deltan Dallagnol - um dos cabeças do Ministério Público Federal (MPF) - anunciou que a Operação Lava Jato entrará em uma nova etapa. Passará a intensificar as investigações sobre corrupção com desvios bilionários das verbas federais nos estados.
O recado dado na sexta passada (3) tirou o sono de Cid, mesmo com a imprensa cearense sonegando essa informação de que a Lava Jato está chegando ao Ceará. Com a homologação das delações dos 77 executivos da Odebrecht, complicou demais a situação de Cid. Seu processo com a suspeita de recebimento de R$ 200 mil de propina deverá ser transferido pelo novo relator da Lava Jato, ministro Edson Fachin, para o
juiz federal do Ceará, Danilo Fontenele.
Cid sabe que sua vida se complicou
Além da investigação da Odebrecht, que inclui fraudes milionárias no Sistema Adutor do Castanhão, Cid está apavorado com a delação do presidente da Galvão Engenharia, Dario Galvão. Há, também, a delação do presidente afastado da OAS, Léo Pinheiro, que pode afetá-lo com pagamento de propina na Transposição das Águas do São Francisco, durante a gestão de Ciro Gomes no Ministério da Integração Nacional, e a lista é extensa: Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Engevix e EIT, que mesmo falida pode, ao abrir o que sabe, comprometer o ex-governador e suas obras faraônicas.
Confissão de Cid assusta aliados
Derrotado e ciente que seu destino pode ser o mesmo do colega Sérgio Cabral - acabar preso na CPPL 3, em Fortaleza, onde há celas para detentos de regime especial -, Cid confessou a diversos aliados que efetivamente recebeu uma grana da Odebrecht. Reconheceu que o então presidente nacional do PSB, governador falecido Eduardo Campos, o telefonou falando de uma doação legal.
Nada de irregular.
Agora, a história verdadeira: o dinheiro supostamente doado a Cid era propina, e ele não sabia. Como provar essa verdade com Eduardo Campos morto. Cid teme acabar condenado e preso pelo juiz Danilo Fontenele. Com a Lava Jato chegando ao Ceará, a verdade começa a aparecer.
Lava Jato não é a única dor de cabeça
O silêncio de Cid Gomes gera pânico a sua família e o sentimento de que a carreira do chefe está seriamente comprometida para seus aliados, especialmente o governador Camilo Santana. Faz 30 dias desde que o ex-governador teve aceita, pela Justiça Federal, a denúncia de corrupção, por um empréstimo fraudulento superior a R$ 1,3 milhão no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), e Cid não se defende. Não vem
a público mostrar sua inocência. Não concedeu uma única entrevista. Não compareceu nem ao velório nem ao enterro de dona Marisa, esposa de Lula. Não se envolve em nada na administração do irmão Ivo Gomes, em Sobral, e nem quer saber das decisões adotadas por Camilo, como condená-lo para a história do Ceará como um político megalomaníaco. Camilo cancelou, sem direito a nunca mais se falar nesse assunto, a construção de uma ponte estaiada em Fortaleza. Já havia enterrado o delírio cidiano do aquário.
Processo penal está bem acelerado
Cid está depressivo. O julgamento cível de Cid avança e, com as provas recolhidas pelo Ministério Público Federal, especialmente a delação de gerentes do BNB, as chances do ex-governador não ser condenado a oito anos por improbidade administrativa são reduzidas. Cid também ficaria inelegível. Mas, o pior está por vir: Cid
está ciente que o processo penal está tramitando rapidamente.
Se for condenado aqui, não precisará nem temer uma punição pela Lava Jato, a cadeia chega mais cedo por desviar verbas ilegalmente do BNB. Esse temor já o assusta: nunca mais poderá fazer publicamente o discurso que é um homem limpo, honesto e que nunca teria se locupletado do dinheiro do povo. O empréstimo fraudulento aprovado no BNB para beneficiar a sua empresa, Corte 8 Empreendimentos, provoca um debacle em sua imagem, com riscos de ser definitivo.
Texto publicado na Coluna Rebate desta semana do Jornal do Cariri.