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sábado, 25 de junho de 2016

Um em cada três açudes cearenses está seco ou no volume morto


O que restou de espelho d’água já não é suficiente para atrair o sertanejo. Os moradores de distritos e sedes urbanas até sabem apontar o caminho até os açudes dos municípios. Mas não têm muito a fazer por lá. No Ceará, mais de um terço dos 153 reservatórios chegou aos níveis mais críticos de armazenamento. Trinta e sete deles estão no volume morto, situação que ocorre quando o nível fica abaixo da tubulação feita para liberar a água acumulada. Outros 21 estão secos — quando a água está em quantidade mínima e não tem possibilidade de uso, conforme diferencia a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).

Antes da parede do açude São Mateus, em Canindé (a 120 quilômetros de Fortaleza), há uma pequena mercearia fechada. “A gente vendia as coisas para quem vinha tomar banho. Agora não tem ninguém”, lamenta o aposentado Messias Miranda, 81, diante do açude seco. Localizado na sede do município, o açude esteve cheio pela última vez em maio de 2011. Era época em que não faltava água em casa, lembra Messias, que vive em uma das moradias próximas ao reservatório. “Agora está muito difícil. Chega água na torneira só em um dia da semana”.

Outros três açudes estão fora de utilização em Canindé. O Escuridão também está seco. O Salão e o Sousa estão no volume morto. O abastecimento no município é possível com a adutora que sai do açude General Sampaio e com cerca de oito poços profundos injetados diretamente na rede.

A cidade é dividida em três setores, num racionamento em que, teoricamente, cada parte fica com água dois dias sim, quatro não. Mas a restrição enfrenta fatores agravantes. Nos bairros mais altos, como Palestina e Canindezinho, a água demora mais a voltar, explica Francisco de Sousa Rocha, presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) na cidade. Há ainda problemas com a adutora do açude General Sampaio. “Está funcionando precariamente. Aparecem furos nos tubos, que geram vazamentos. A Cogerh tem nos dado apoio fazendo a troca do material e cobrando a empresa responsável”, indica.

Tentar suportar as dificuldades até o próximo ano, na esperança de boas chuvas, é o que resta ao autônomo Adriano Vieira, 28. Ele mora na estrada de terra que leva ao Escuridão e diz ainda utilizar água do açude. “Ela não é boa. Não dá pra cozinhar nem tomar banho”, especifica. O poço que havia na comunidade está com a bomba queimada. Agora, a solução é comprar água de cisterna na localidade de Jacurutu, a cerca de dois quilômetros.

Saiba mais

Castanhão

Como o volume morto ainda permite uso da água, a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) iniciou estudos para aproveitamento do Castanhão, caso ele desça aos 250 bilhões de litros e 2017 se anuncie como mais um ano de seca. A ação foi uma dentre outras apresentadas pelo titular da pasta, Francisco Teixeira, em visita à Assembleia Legislativa no último dia 22.

Bacia do Curu

O último açude a entrar no volume morto foi o Frios, no município de Umirim. Ele tem capacidade para 33 bilhões de litros e sangrou quatro vezes desde 2004. A última vez foi em junho de 2011. Desde então, o volume tem caído com exceção de pequenos aportes. Atingiu volume morto na última sexta-feira, 24.

General Sampaio

A adutora emergencial saindo do açude General Sampaio foi inaugurada em dezembro de 2014 para socorrer Canindé e o distrito de São Domingos, em Caridade. 


Furos na tubulação e vazamentos são problemas apontados para a irregularidade do abastecimento prometido. Desde janeiro, segue em segredo de Justiça na 21ª Vara Cível processo da Cogerh contra a empresa Cimencol Construções e Serviços, contratada para a montagem da adutora.

O Povo Online