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terça-feira, 24 de maio de 2016

Presídio em construção recebe internos transferidos

Agentes penitenciários seguem nas unidades tentando controlar as rebeliões e também atendendo familiares em busca de notícias ( FOTO: NATINHO RODRIGUES )

A Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL V), que ainda não estava pronta, foi ocupada por detentos retirados de outras unidades do Complexo Penitenciário de Itaitinga. A denúncia foi feita durante entrevista coletiva, pelo presidente do Sindicato dos Agentes e Servidores no Sistema Penitenciário do Ceará (Sindasp-CE), Valdemiro Barbosa. Segundo ele, o equipamento ainda não tinha condições de abrigar internos.

Um operário que trabalha na obra confirmou que a estrutura está em construção. "As paredes das celas já estão feitas, mas não têm as trancas ainda. Acho que por isso colocaram os presos nas duas quadras. Devem ter medo que eles quebrem tudo antes de inaugurar, como fizeram com as outras. Em quase nenhum lugar de lá tem energia".

O operário, que não quis ser identificado, disse que conhece pessoas que moram nas proximidades do Complexo e estão apreensivas. "Todo mundo morre de medo. Eles escutam gritaria, quebradeira, veem a fumaça dos incêndios. Não digo nada a eles, mas sei que não tem garantia nenhuma que esse povo está preso mesmo". A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) foi procurada, mas não se manifestou sobre a ocupação.

Repúdio

O presidente do Sindasp-CE disse que repudia as declarações feitas pelo secretário de Justiça, Hélio Leitão, em relação aos agentes penitenciários. "Estão querendo transferir as responsabilidades da Sejus para a categoria. A culpa não é nossa, o estopim dessa confusão não foi nossa greve, foi o anúncio dos bloqueadores de sinal de celular sem estabilizar o Sistema antes. O secretário fez uma declaração irresponsável dizendo que os agentes impediram as visitas. Isso não é verdade, quem impediu a entrada das visitas e do efetivo dos agentes que estavam lá para cumprir os 30% previsto em lei, foi o BPChoque da PM".

Valdemiro Barbosa declarou que não havia recebido notificações sobre a ilegalidade da greve decretada pela Justiça e que já tinha comunicado ao Estado do movimento. "Avisamos que apenas os serviços essenciais (água, comida, alvará de soltura e socorro imediato) seriam mantidos. Mesmo assim, de forma irresponsável, a Coordenadoria do Sistema Penitenciário (Cosipe) ligou para as visitantes dizendo que as visitas estavam garantidas no fim de semana, quando na realidade isto não é um serviço essencial e sim uma regalia", afirmou.


O presidente do Sindasp-CE disse que esteve várias vezes reunido com representantes do Governo, que garantiram melhorias à categoria e não cumpriram, por isto a greve foi deflagrada. "O Estado desprezou o Sistema Penitenciário como um todo. O tratamento que o Estado dá ao preso nessas grandes unidades é desumano. Uma cela para abrigar seis presos têm 20. Tem preso dormindo em pé. A alimentação é de baixa qualidade, falta água, o ambiente é insalubre, falta remédio, há proliferação de doenças. Tudo isto foi aumentando a instabilidade", disse.

Diário do Nordeste