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segunda-feira, 21 de março de 2016

Latrocínios representam 1,96% dos homicídios registrados no Ceará


O Ceará registrou 13.473 assassinatos desde 2013, quando as estatísticas de mortes passaram a ser divulgadas como Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). Deste total, 264 casos se deram durante assaltos. São os chamados latrocínios, os roubos seguidos de morte. O número representa 1,96% do universo de CVLIs, que incluem ainda os homicídios e as lesões corporais seguidas de morte. Mas, apesar da disparidade significativa entre a somatória dos casos, especialistas afirmam que, entre os crimes citados, são os latrocínios que geram o maior impacto na sensação de segurança.

Isso explicaria o esvaziamento da praça Engenheiro Pedro Felipe Borges, conhecida como praça Oficina do Senhor, no Cocó, após o roubo seguido de morte que vitimou o juiz aposentado Edvalson Florêncio Marques Batista, 77, no último dia 8. Justificaria também o medo que as pessoas adquiriram de transitar pela Via Expressa, em Fortaleza, que tem histórico de ações semelhantes. Foi lá que o jornalista do O POVO Valdemar Menezes, 70, sofreu uma tentativa de latrocínio, no dia 5.

A teoria resumiria ainda o porquê de, mesmo após uma sequência de redução nos crimes dessa modalidade, nos três últimos anos, a sensação de insegurança não diminuiu. Em 2015, foram 65 roubos seguidos de morte no Estado, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Com relação a 2013, houve queda de 45%. Mas, a cada nova ocorrência, o medo suplanta as estatísticas e remonta a percepção de que “poderia ter sido com qualquer um”. Deste janeiro último, 16 latrocínios foram registrados.

“Embora o número seja baixo, comparado ao CVLI geral, esse tipo de crime muito nos preocupa, uma vez que as pessoas que morrem são, realmente, vítimas da violência. Sem generalizar, obviamente, mas nos homicídios e lesões, de certa forma, as pessoas mortas se envolveram em situações que levaram a esse resultado”, analisa o coronel Lauro Prado, secretário adjunto da SSPDS.

Percepções

Para o coronel, a influência na sensação de segurança pelos latrocínios se dá pelo “histórico de vida” das vítimas. “Quando morre alguém numa comunidade, muitas vezes, o comentário é ‘menos um’. Isso porque grande parte das mortes decorre de tráfico de drogas. E isso também nos preocupa”, frisou, apontando que há, também, preconceitos na percepção.

Coordenador do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência (Covio) da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Geovani Jacó avalia que o chamado “histórico das vítimas” é baseado em um “repertório moral”, que interfere diretamente na percepção que as pessoas têm dos crimes e, principalmente, das vítimas. Isso faz com que o homicídio seja encarado com ambiguidade.

“O fato de as maiores vítimas dos homicídios serem jovens, pobres, da periferia e muitas vezes envolvidos com o tráfico de drogas mobiliza dispositivos classificatórios, que são meramente morais.

Apontam os jovens como sujeitos perigosos, enquadrados na sujeição criminal e, portanto, predispostos a serem mortos. Isso não repercute no imaginário social porque essa morte, perversamente, é até desejada no esquema de assepsia social”, lamenta.

13.473 assassinatos foram registrados no Ceará desde 2013

264 destas vítimas foram mortas durante assaltos

Saiba mais

Para o sociólogo Marcos Silva, professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), os latrocínios interferem na sensação de segurança também pelas características do crime, que, muitas vezes, se dão de forma banal, cruel ou decorrem de reações de defesa provocadas por uma descrença no sistema de segurança.

“Uma vida humana ser tirada por conta do bem material gera clamor. Afeta muito mais a parte da população que detém bens e valores. Foge aos parâmetros do comum criados para os homicídios, que são seletivos. Provoca efeitos colaterais diferentes. E por mais que os homicídios sejam elevados, uma parte da população não é afetada diretamente”, afirmou Marcos, que é também pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A Capital concentrou a grande maioria dos casos de latrocínio. Entre as Áreas Integradas de Segurança (AISs), a que mais registrou ocorrências foi a AIS-5, encabeçada pela Parangaba, com 31 casos. Este ano, porém, nenhum caso foi registrado na área.


A AIS-12 aparece em 2º lugar, com 25 ocorrências. Puxada por Sobral, a região já registrou três casos desde janeiro. Já as AISs 1 e 2, lideradas pelo Centro e pelo Conjunto Ceará, na Capital, registraram, 23 latrocínios cada. O coronel Lauro Prado afirmou que a SSPDS atua na prevenção dos crimes com ações ostensivas e apreensão de armas. “Recolhemos cerca de 20 armas por dia no Estado”, disse.

O Povo Online