Considerando os agentes que estariam envolvidos indiretamente no caso, cerca de 50 policiais são investigados. Controladoria de Disciplina já ouviu 37 testemunhas da barbárie que completa três semanas hoje
Pelo menos 35 policiais participaram diretamente da Chacina da Grande Messejana, que vitimou 11 pessoas e deixou outras sete feridas, no último dia 12 de novembro, em Fortaleza. Considerando agentes que deram apoio ou não intervieram na ação criminosa, pode chegar a 50 o total de servidores investigados pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD). Dois suspeitos já foram identificados.
As informações foram obtidas pelo O POVO junto a fontes que atuam na Segurança Pública e no Ministério Público do Estado (MPCE), que falaram sob a condição de sigilo. Segundo as mesmas, desde que o inquérito sobre a chacina foi remetido à CGD, no dia 18 de novembro, as duas outras linhas de investigação que eram consideradas para o crime haviam sido descartadas. Elas apontavam para mortes em decorrência da disputa de território para o tráfico de drogas
“A priori, nada aponta para a versão de morte por conta do tráfico. O que estão tentando fazer agora é identificar a relação entre esses policiais, as vítimas e seus familiares”, disse uma das fontes.
As investigações da CGD apontam que as mortes seriam uma “demonstração de força” dos policiais em retaliação à morte do soldado Valterberg Serpa, baleado na cabeça durante uma tentativa de assalto, na Lagoa Redonda, poucas horas antes da chacina. Indignados, os agentes teriam se convocado, por redes sociais, para dar uma “resposta” ao assassinato. Em carros descaracterizados e com o apoio de algumas viaturas da Polícia Militar, eles teriam executado as vítimas.
“Todas essas pessoas, mesmo as que não participaram diretamente das execuções, mas também não fizeram nada para impedi-las, devem responder na medida de suas responsabilidades”, detalhou outra fonte. A previsão é que o inquérito sobre as mortes seja concluído até o fim do mês, quando os autores deverão ser indiciados pela CGD e submetidos a procedimentos administrativo e criminal.
Testemunhas
Desde que assumiu o caso, a CGD já ouviu 37 testemunhas. Todas se mostraram apavoradas com a situação. “As pessoas chegam para depor trêmulas, com muito medo, por conta das circunstâncias do crime. Elas se sentem expostas. Relatam a constante passagem de viaturas pela área e que helicópteros costumam sobrevoar a região, iluminando as casas, onde moram as testemunhas”, afirmou uma fonte.
Uma força-tarefa de quatro delegados e três promotores de Justiça está atuando nas apurações. O número de investigadores deve aumentar a partir de hoje, já que a portaria que estabelece a participação de membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPCE foi publicada somente terça-feira, dia 1º. Desta forma, outros promotores também acompanharão
as investigações.
Serviço
CGD
Informações que possam ajudar na identificação dos autores dos homicídios devem ser repassadas à CGD: (85) 3452 3984
Disque-denúncia: 181
Não é necessário se identificar.
Para entender
11/11
21h30min.
O soldado Valterberg Chaves Serpa é morto durante tentativa de assalto na Lagoa Redonda. Por redes sociais, policiais teriam se convocado para vingar a morte do soldado. Muitos estavam de folga. As mensagens começam a ser enviadas a partir do Frotinha da Messejana, onde a morte foi atestada.
12/11
0h20min.
No Curió, são executados: Antônio Alisson Inácio Cardoso, 17; Jardel Lima dos Santos, 17, e Álef Souza Cavalcante, 17.
1h54min.
No Alagadiço Novo, são mortos: Marcelo da Silva Mendes, 17, e Patrício João Pinho Leite, 16.
3h33min.
No Conjunto São Miguel, são assassinados: Jandson Alexandre de Sousa, 19; Francisco Elenildo Pereira Chagas, 41, e Valmir Ferreira da Conceição, 37.
3h57min.
Na Messejana, as vítimas são: Pedro Alcântara Barroso do Nascimento, 18; Marcelo da Silva Pereira, 17, e Renayson Girão da Silva, 17.
O Povo Online