Paris. A França sofreu, na noite de ontem, um dos mais mortíferos atentados da História do país. De acordo com a imprensa local e fontes policiais, pelo menos 150 pessoas foram mortas em sete ataques a tiros e explosões, e outras dezenas ficaram feridas. Dois brasileiros estão entre os que sofreram ferimentos. Testemunhas contaram ter ouvido agressores gritando "Alá é grande!", grito de guerra utilizado por extremistas islâmicos. O grupo radical Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque.
A ofensiva ocorre 11 meses depois do massacre ao semanário satírico "Charlie Hebdo" e a um mercado de produtos judaicos, que deixou 16 mortos, no mês de janeiro. Além dos tiros, foram relatadas três explosões, praticamente simultâneas, próximas ao Stade de France, enquanto jogavam França e Alemanha em uma partida amistosa.
Um dos estouros chegou a ser ouvido dentro do estádio. O presidente francês, François Hollande, que assistia à partida, foi retirado às pressas, de helicóptero, e levado para o Ministério do Interior, onde foi estabelecida uma célula de crise. Após reunião com o primeiro-ministro Manuel Valls e o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, François Hollande declarou estado nacional de emergência.
Também foi decidido o fechamento das fronteiras e cerca de 6.000 homens foram mobilizados, inclusive o Exército, que foi enviado para proteger Paris. Alguns locais públicos e estradas também serão fechados em todo o país. Segundo Hollande, as ações terroristas foram "um horror" sem precedentes.
"São medidas para que aqueles que cometeram esses crimes possam ser presos em nosso território. Nesses momentos muito difíceis, tenho uma mensagem de solidariedade às famílias, a quem peço trocas de compaixão, mas também para se agir com sangue frio", afirmou o presidente francês, pedindo que a França fique unida. "As autoridades devem agir
serenamente. Diante do pavor, temos uma nação que saberá vencer o terrorismo".
Ataques
Os ataques começaram por volta das 21h20m (18h20m em Brasília), em restaurantes, em um teatro e em um dos principais centros comerciais de Paris, o Les Halles, localizados, respectivamente, nos 10º, 11º e 1º regiões, no coração da capital francesa, onde os bairros são numerados de 1 a 20.
A região é onde se localiza também a sede atacada do "Charlie Hebdo". O governo francês declarou "alerta vermelho alfa", que significa atenção para múltiplos atentados. Cinco das 16 linhas de metrô foram fechadas.
De acordo com um repórter do jornal francês "Libération", que estava próximo a um dos locais atacados, o bar Le Carillon, cinco ou seis atiradores, não encapuzados, abriram fogo contra o estabelecimento. Em seguida, os agressores se voltaram para o restaurante Petit Cambodge, do outro lado da rua, em frente ao Carillon.
"Durou um tempo horrivelmente longo. Ele levantou a Kalashnikov e atirou indistintamente contra o Carillon. Podíamos ouvir as pessoas gritando e, depois, vimos uma dezena de corpos no chão", relatou uma testemunha que estava no local.
Na sequência, o lugar atacado foi o Bataclan, que fica a dez minutos a pé do "Charlie Hebdo". A banda californiana Eagles of Death Metal começava uma apresentação no local, que estava cheio. Então, testemunhas contam terem escutado uma "enorme explosão" seguida por dezenas de tiros.
Uma delas contou ter visto dois homens abrindo fogo a partir do terraço de um café na Rua de Charonne, próximo ao local.
"Escutamos mais de cem tiros", disse. Por volta das 23h30m, pessoas que estavam próximas ao centro comercial Les Halles, um dos principais de Paris, relataram ter escutado disparos no local, que fica perto da prefeitura.
Segundo o primeiro boletim divulgado pela polícia de Paris, três pessoas foram mortas em explosões na zona do Stade de France, no subúrbio de Saint Denis, ao norte da capital. Mas, a TV francesa TF1 informou que pelo menos 35 pessoas morreram na região, incluindo dois homens-bomba. Segundo testemunha, uma das bombas seria de explosivos e artefatos metálicos.
No ataque ao Bataclan, dezenas foram feitas reféns. Testemunhas contaram que, na invasão à casa de shows, foi possível escutar os agressores gritando: "Alá é grande! Iraque, Síria, revanche!". No começo da madrugada de Paris, foram ouvidas explosões e tiros perto do Bataclan, no começo da operação das forças de segurança francesas para ocupar o local.
Em seguida, veio a notícia: cerca de 100 reféns foram mortos dentro da casa de shows. Três terroristas que estavam no local foram abatidos.
COP 21
Os ataques a Paris ocorrem um dia depois de duas explosões que deixaram 44 mortos em Beirute, em um atentado reclamado pelo Estado Islâmico. Eles coincidiram ainda com o primeiro dia de alerta policial especial por conta da cúpula
sobre o clima que será realizada na capital, a COP21, entre 30 de novembro e 11 de dezembro - desde quinta-feira, o Acordo
de Schengen, de livre circulação europeu, está suspenso no país. A reunião de cúpula reunirá 40 mil participantes e
delegações de 196 países.
O estado de emergência, anunciado pelo presidente François Hollande, foi interpretado pela mídia francesa como uma
declaração de guerra.
Pelo Twitter, fotos dos pontos atingidos pelos ataques foram compartilhadas pelos internautas. E, a exemplo da hashtag
"#JesuisCharlie", lançada após o atentado contra a redação do "Charlie Hebdo", a hashtag "#PrayForParis" (orem por Paris)
começou a circular ontem. Por segurança, emissoras de TV interromperam transmissões.
Brasil
A presidente Dilma Rousseff usou o Twitter para repudiar os atentados terroristas em Paris, que classificou como
"barbárie". "Consternada pela barbárie terrorista, expresso meu repúdio à violência e manifesto minha solidariedade ao povo