A família do agricultor Washington de Araújo Cintra, 62 anos, que está desaparecido desde o dia 21 de fevereiro, denuncia que o homem foi levado de casa por quatro policiais militares durante a madrugada daquele dia, na localidade de Curupati, no município de Jaguaribara, no Vale do Jaguaribe. Um dos familiares, que preferiu não se identificar por medo de represálias, informou que o corpo encontrado no último sábado (27), em Morada Nova, sem a cabeça, com um dos braços decepado e, parcialmente queimado, seria o do idoso desaparecido.
A Delegacia Municipal de Morada Nova, que está investigando o caso, informou que ao lado do cadáver foi localizada uma carteira de identificação com o nome do agricultor.
No entanto, a Polícia Civil ainda não confirmou se o corpo é realmente o de Washington de Araújo Cintra.
Segundo informações de um familiar, o homem havia sido levado por quatro pessoas que se identificaram como policias militares da composição de Jaguaribara. Eles estariam fardados e utilizando balaclavas.
Viatura
"Os homem chegaram na casa por volta das duas da madrugada. Eles disseram que eram policiais e que ele (Washington de Araújo) teria que acompanhá-los até a Delegacia. Ele pegou os documentos e entrou dentro de uma viatura, mas até agora não retornou para casa", descreveu o familiar da suposta vítima. No dia seguinte, os familiares se dirigiram à Delegacia Municipal de São João do Jaguaribe na tentativa de obter respostas sobre o sumiço do agricultor. No entanto, a Polícia informou a um dos parentes que o idoso não chegou ao local e não foi registrada nenhuma ocorrência.
"Tentamos registrar um Boletim de Ocorrência (B.O), mas os policiais da Delegacia informaram que não seria possível por que não havia se passado o mínimo de 48 horas do desaparecimento. Ficamos sem saber o que fazer e não tínhamos nenhuma notícia dele", contou.
Na noite do último sábado (27), a família recebeu a informação de que um corpo havia sido encontrado nas proximidades do Canal da Integração, no município de Morada Nova. O cadáver estava em decomposição, sem a cabeça, com um braço arrancado e com partes do corpo queimadas. A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) compareceu ao local e realizou os primeiros levantamentos acerca das causas da morte.
O corpo foi conduzido à sede da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Pefoce, em Fortaleza, para a realização dos exames cadavéricos e de identificação que poderão dizer se o corpo é realmente de Washington Cintra. Na manhã de ontem, os restos mortais foram submetidos aos trabalhos de análises, através das impressões digitais da vítima. Porém, o estado do corpo não possibilitou uma leitura conclusiva das digitais.
DNA
Um familiar do agricultor revelou ao Diário do Nordeste que será realizado um exame de DNA para tentar identificar se o cadáver é mesmo do agricultor. O resultado deverá ficar pronto nos próximos 15 dias. "Como arrancaram a cabeça, não foi possível realizar o exame pela arcada dentária. Com isso, o IML (Pefoce) fez o exame pela digital, mas como o corpo estava queimado também não foi possível confirmar a identificação. Vamos entrar em contato com os advogados para acompanhar o caso. O que não podemos é deixar esta morte impune e sem nenhuma resposta concreta", relatou.
Vingança
Ainda de acordo com informações de familiares do idoso, a motivação do homicídio teria sido o fato de Washington de Araújo Cintra ser pai de Willame Diógenes Cintra, 26. O homem está preso, suspeito de ter participado do assassinato do soldado da PM Hudson Danilo Lima, ocorrido em janeiro deste ano, durante um tiroteio na Zona Rural de Jaguaretama.
"Nós já vínhamos recebendo ameaças após a morte do policial, mas meu pai não tinha nada haver com o caso. Ele era um trabalhador, que morava na fazenda e não fazia nenhum mal. Se ele (Willame Diógenes) cometeu o crime, ele tem que ser punido e pagar pelo que fez, mas meu pai não tinha nenhuma relação com isso", acrescentou.
Apesar das informações preliminares, a Delegacia Municipal de Morada Nova informou somente que estão sendo realizados os primeiros levantamentos sobre o caso. Nenhuma das hipóteses estão descartadas, porém nada indica que o homem foi morto por represália à morte do soldado da PM ou por vingança de grupos rivais.
A reportagem tentou o contato com o delegado que passará a investigar o caso, mas as ligações não foram atendidas. A Polícia Militar também não se pronunciou oficialmente sobre as denúncias feitas pelos familiares do agricultor desaparecido. O relações pública da PM, coronel Andrade Mendonça, chegou a atender o celular à tarde, mas a ligação caiu e depois as chamadas não foram mais atendidas.
Diário do Nordeste