Com as mãos trêmulas, a mulher de 33 anos, cujo nome será preservado pelo O POVO, contou ontem como foi expulsa por traficantes do bairro Vila Velha e passou dois dias dormindo em quintais de pessoas que a acolheram em bairros vizinhos.
No 34º Distrito Policial, a empregada doméstica, mãe de três meninas e um adolescente, lembrou que se viu desesperada após o envolvimento do filho de 17 anos em um roubo. Os traficantes da área deram ao adolescente uma arma e uma moto para que ele fizesse um assalto. O jovem aceitou a proposta e, após o crime, foi apreendido junto com o material. Os filhos são criados sem ajuda do pai, que, após a separação, parou de ajudar a família.
Segundo a vítima, após um ano, os traficantes descobriram que o rapaz está próximo de ter liberdade. Na última sexta-feira, 4, ela disse, foram até a residência dela e afirmaram que a família deveria ir embora caso não pagasse pela moto e a arma. A mãe questionou o fato de os traficantes terem envolvido o filho em um roubo e foi jurada de morte por “falar demais”.
A mulher, nascida do interior do Estado, não é alfabetizada, não tem eletricidade em casa por falta de dinheiro e não teria como pagar os traficantes. Com muita dificuldade, ela disse, paga a mensalidade da residência do projeto Minha Casa Minha Vida: R$ 25.
Depois de deixar as filhas de 12, 14 e 15 anos em casas de conhecidos, ela ficou nos quintais. “Os vizinhos tinham medo de me receber”. Na tarde de ontem, a mulher procurou a delegacia, no Centro, onde encontrou o inspetor Marcos Cavalcante, que a levou de volta à residência com o apoio da Unidade Tática Operacional, da Polícia Civil, que conseguiu retirar os poucos pertences da família. A noite de ontem a mulher e as filhas passaram em um abrigo.
“Todos os dias eles vão lá de madrugada olhar se a gente está na casa. Por mais humilde que eu seja, mas é muito bom a gente ter a casa da gente”, lamentou. Segundo o inspetor, as investigações serão aprofundadas para que os responsáveis pelas ameaças sejam presos.