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domingo, 1 de março de 2015

Morte de siamês separado comove médicos: ‘Como se fosse da família’


Arthur morreu devido a duas paradas cardíacas após cirurgia, em Goiânia.
Heitor não respira mais com ajuda de aparelhos e também não tem febre.


A morte do menino Arthur Ledo Rocha Brandão, de 5 anos, que passou por cirurgia de separação do irmão gêmeo, Heitor, abalou a equipe médica do Hospital Materno Infantil, em Goiânia. “Era como se fosse alguém da minha família”, disse, abalado, o médico Zacharias Calil, que acompanha os garotos desde o nascimento. Segundo a unidade de saúde, o paciente sofreu paradas cardíacas e não resistiu.
A amizade e carinho dos dois irmãos comoveu toda equipe da Unidade de Terapia Intensiva do hospital. “No momento em que o Arthur estava piorando, o Heitor se movimentou muito, mesmo sedado. O grupo todo percebeu o quanto eles eram ligados, então isso é muito forte”, disse a coordenadora da UTI, Sônia Rasmussen.
Os pais das crianças, Delson e Eliana Brandão, optaram por enterrrar Arthur na Bahia, onde a família do casal mora. Acompanhados de familiares, eles partiram em uma van para o estado nordestino por volta das 12h30 deste sábado.
Heitor ainda não sabe da morte do irmão. Amiga da família, Marla Rodrigues conta que o casal contará ao filho quando ele estiver mais recuperado da cirurgia. "Não contaram para não piorar a situação dele, tem que esperar uma hora em que ele estiver melhor", disse ao G1.
O paciente apresentou uma melhora na tarde deste sábado. Os aparelhos de respiração foram retirados e, agora, Heitor respira apenas com ajuda de oxigênio inalatório. Além disso, ele não apresenta mais febre há 12 horas.
“Isso é importante, é uma melhora no estado de saúde, anima a gente. Mas ainda é preciso ter cuidado para ver se ele vai apresentar alguma complicação ao processo cirúrgico”, disse Calil ao G1. Ainda segundo o médico, após a retirada dos tubos de oxigênio, Heitor fez sinal de positivo com a mão para os médicos. Apesar da melhora, o estado de saúde dele ainda é considerado grave.
A família tambám está muito abalada com a morte de Arthur. Delson postou nas redes sociais homenagens ao filho. Ele escreveu que este é o momento “mais doloroso” que já passou e agradece ao menino por ter transformado a vida deles.
“Obrigado Tuka! Painho irá carregar você dentro de mim como sempre vinha carregando. Painho só tem que agradecer por tudo que fez em minha vida. Te amo como sempre te amei. Te amo do tantão do universo dos planetas de Deus”, escreveu Delson.
Siameses
A mãe dos siameses se mudou de Riacho da Santana para Goiânia um mês antes do nascimento dos filhos para que eles tivessem acompanhamento desde o parto, em maio de 2009. Após o nascimento, ela voltou para a terra natal por um período e, desde 2010, mora em Goiânia com os siameses. O marido e a filha mais velha, de 7 anos, continuaram no Nordeste.
Os gêmeos eram unidos pelo tórax, abdômen e bacia, compartilhando o fígado e genitália. Desde que nasceram, eles eram preparados para a cirurgia de separação. Os siameses passaram por 15 procedimentos cirúrgicos, entre eles alguns para implantação de expansores no corpo para que tivessem pele suficiente para a separação. Os meninos só alcançaram as condições necessárias para a cirurgia neste ano.
A cirurgia de separação durou mais de 15 horas e envolveu 51 profissionais. Os médicos informaram que o procedimento transcorreu dentro do esperado. Inclusive, eles tiveram uma boa notícia, pois, diferentemente do que acreditavam, cada um dos gêmeos tinha um intestino, uma bexiga e uma vesícula.
Horas antes de Arthur morrer, a mãe e o pai visitaram as crianças e viram Heitor acordado pela primeira vez. Eles se emocionaram ao ver o filho abrir os olhos e chamar por Arthur. "Fiquei muito emocionada, sem palavras. Não dá para descrever tamanha emoção, apenas sentir. Não esperávamos vê-lo acordado. Quando chegamos e falei o nome dele, ele abriu os olhos. Levei-o para ver o Arthur e ele jogou beijos para o irmão, que estava dormindo", contou.
fonte G1