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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

433 homicídios no Ceará em janeiro.


O número representa um aumento de 8,5 % no índice de assassinatos no Estado, em igual período de 2014

O Estado do Ceará registrou 433 Crime Violentos Letais Intencionais (CVLIs) em janeiro deste ano, o que representa uma média de 14 pessoas assassinadas por dia, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O número é 8,5% maior do que em janeiro de 2014, quando foram registrados 399 homicídios, latrocínios ou lesões corporais seguidas de morte, que englobam os CVLIs.
Além desses assassinatos, aconteceram ainda duas mortes dentro de unidades prisionais e cinco pessoas mortas durante intervenções policiais, o que totaliza 442 vidas perdidas no mês de janeiro em todo o Estado.
Somente na Capital, foram registrados 193 CVLIs em 2015, contra 172 em igual período do ano passado. Uma das vítimas foi o servidor público Francisco Valdenir da Silva de Castro, alvejado a bala e morto, no dia 18 de janeiro nas proximidades da casa de Valdenir. O crime aconteceu em um evento de Pré-Carnaval, no bairro Colônia, Zona Oeste da Capital. Valdenir foi atingido por uma bala perdida.
Nos municípios que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) houve redução, com 91 mortes neste mês contra 100 no ano passado. Já no Interior do Estado foram anotados 149 Crimes Violentos Letais Intencionais em janeiro último, contra 127 de 2014. As Áreas Integradas de Segurança (AISs) que apresentaram o maior número de crimes de morte foram a 2 e a 5, ambas em Fortaleza. Cada uma registrou 47 CVLIs em janeiro. A AIS que apresentou o menor número de delitos foi a 6, que contempla a orla da Capital, com quatro homicídios a bala.
Latrocínios
As estatísticas da SSPDS apontam, ainda, que dez pessoas foram assassinadas durante roubos ou tentativas de roubo, no Estado, no primeiro mês do ano. Sete desses latrocínios (roubo seguido de morte) ocorreram em Fortaleza; um em Juazeiro do Norte, um em Bela Cruz e outro no município de Redenção.
Em comparação com dezembro de 2014, somente as AISs 7, 10, 11 e 17 conseguiram reduzir os índices de CVLIs. Todas estão localizadas no Interior do Estado. No entanto, outras cidades do Sertão cearense também estão sendo atacadas pelo tráfico de drogas e já percebem a tranquilidade ser abalada.
A violência na Região dos Inhamuns, por exemplo, tem sido pauta de pronunciamentos de parlamentares na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), que tem cobrado respostas efetivas contra crimes de pistolagem. Em janeiro de 2014, apenas seis das 18 AISs conseguiram números melhores, ou seja, que indicam redução de CVLIs.
Vulnerabilidade
Para a professora-doutora Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudo da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a vulnerabilidade dos cearenses é maior a cada dia e a matança está generalizada. "As autoridades não podem mais se dar ao luxo de achar que a violência é questão só de Polícia. Não é mais possível admitir essa ameaça contra o nosso direito primordial, que é a vida". De acordo com a professora, é preciso que as estatísticas divulgadas pela SSPDS sejam estudadas para embasar um planejamento específico, que gere resultados efetivos. "Aumentar policiamento não é mais alternativa. Não adianta fazer concurso e colocar nas ruas soldados treinados durante 30 dias. É preciso treinar a Polícia para fazer medição de conflitos e não apenas para prender. Uma espécie de Estado paralelo está sendo estabelecido e é necessário que o tráfico seja enfraquecido e combatido", afirmou.
Conforme Jânia Aquino, as medidas a serem tomadas precisam ser pensadas a longo prazo. "Não dá mais fazer gastos exagerados e colocar em prática medidas sem resultado. A Segurança Pública está em crise no Ceara há anos. É preciso um diagnóstico e um planejamento que funcione e não que sirva como cosmético, que maquia a situação por uns dias, mas depois ela reaparece. Ações desconectadas tendem ao insucesso e já deu para perceber isso com as últimas experiências que tivemos no Estado", salientou.
Secretário
O secretario de Segurança Pública do Ceará, Delci Teixeira, considerou o mês de janeiro um período ruim, mas atribuiu o aumento no índice dos homicídios a questões políticas, como troca de secretariado e uma possível insegurança dos comandos da Polícia em permanecer nos cargos. Em entrevista na tarde de ontem, após solenidade na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp), Teixeira afirmou que os novos desafios da Pasta incluem, além da troca de comandos, uma intensificação nas blitze e, consequentemente, apreendendo mais armas. Investindo no policiamento ostensivo na rua e no trabalho de inteligência. "Havia uma certa insegurança das pessoas se iam permanecer nos cargos e talvez tenha influenciado, mas isso não é desculpa. Houve um aumento considerável. Usamos toda a transparência possível", explicou.
"Quando fechamos o mês de janeiro havia um acréscimo de dez (homicídios), mas depois chegou aos 34. Isso porque ao final do balanço procuramos em todos os hospitais aqueles que haviam se lesionado e saber quem se recuperou ou veio a óbito", detalhou.
Entre as ações adotadas pelo gestor para combater o crescimento dos CVLIs seria o aumento no número de policiais nas ruas, verificação de coletivos e mudanças de gestores nas Áreas Integradas de Segurança (AIS).
O crescimento no número de apreensões é um fator que causa otimismo no secretário. "Tivemos a apreensão de 131 carros agora em fevereiro e 168 motos. E acréscimo nas apreensões de armas de fogo de 7,5 % e de 20% nos e auto s de prisão em flagrante. O que nos deixa otimista sobre isso. É que o mês de janeiro foi muito ruim", reconheceu Delci Teixeira.
Sobre as Áreas Integradas de Segurança que apresentaram maior número de vítimas (AIS 2 e AIS 5), o secretário afirma que não existe um trabalho específico para os pontos críticos e que trabalha o Ceará como um todo, mas citou que houve troca de comando. "Nós temos uma dificuldade grande de baixar os índices tanto no interior Norte, quanto no interior Sul e na Capital, são áreas que têm os maiores índices. Temos feito a troca de comandos. Não significa que sejam incompetentes, mas queremos outras pessoas e com novas ideias, que talvez deem uma revolucionada na maneira como estamos trabalhando",afirmou..
O secretario apontou outra mudança na gestão, que seria uma maneira de normalizar a situação de latrocínios, que neste mês foi preocupante. Essa reformulação será no trabalho da Coordenadoria de inteligência (Coin), da Secretaria de Segurança. "A substituição do coordenador da área de Inteligência. Ele que pediu para sair. Temos problemas de latrocínio (roubo seguido de morte), de assalto a banco e estouro de caixas", diz.
Para o secretario o número ideal de homicídios seria zero, mas como o problema da insegurança é nacional foi estabelecido um percentual de diminuição de 6%. Porém, Delci Teixeira diz que espera que o índice chegue a baixar 10% por ano. "Eu gostaria, torço e espero que chegue a baixar 10% a cada ano. Esse número brutal de assassinatos não pode continuar e nós temos que diminuir isso", salientou.
Márcia Feitosa / Jéssika Sisnando
Repórter / Especial para polícia