-->

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Dilma, Aécio e Campos unem partidos que vão se confrontar nos estados

Os partidos da base de apoio de cada um dos candidatos a presidente na eleição deste ano vão se confrontar nas eleições estaduais. Levantamento feito nos 26 estados e no Distrito Federal mostra que a maioria das alianças regionais não reproduz a coligação nacional. Pelo contrário: em todos os estados há pelo menos uma disputa entre partidos que apoiam o mesmo candidato à Presidência.

A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, não tem todos os seus partidos de apoio unidos em nenhum estado do país.  Aécio Neves só consegue reunir todas as siglas de sua base em uma mesma coligação em Minas Gerais. Em São Paulo, o PTB deixou de última hora a chapa, mas não irá migrar para nenhum dos opositores.

No Maranhão, o candidato Flávio Dino, do PC do B, um dos mais fiéis partidos da base de Dilma Rousseff, tem em sua coligação o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos. Na prática, isso significa que ele poderá receber no palanque os três presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas.

O PSD, de Gilberto Kassab, que participa da chapa de Dilma, só está presente em quatro coligações estaduais com o PT. Com o PSDB, rival dos petistas, forma 13 alianças.

O PSB, que decidiu lançar candidato próprio à Presidência neste ano, é outro exemplo de como nos estados a situação é diferente. O partido está junto com o PT em quatro estados e com o PSDB em 11.

Fim da verticalização

A mistura nas coligações é decorrência, entre outros fatores, de a legislação não obrigar os partidos a seguir as mesmas alianças celebradas no plano presidencial – a chamada verticalização, que deixou de valer nas eleições de 2010. Desde então, o cenário nos estados tem contrastado cada vez mais com o da eleição nacional.

Para se ter uma ideia, em 2010, PMDB e PT estavam juntos em 13 coligações estaduais. O número caiu para nove. Principal partido da base aliada do governo, o PMDB estará junto do PSDB no Acre, na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo, em Pernambuco, no Piauí, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Norte e em Roraima.

Para a cientista política Silvana Krause, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fenômeno não é novo.

“O sistema eleitoral brasileiro cria uma situação que faz com que haja subsistemas estaduais. Apesar de uma estrutura organizativa nacional, os partidos têm uma realidade estadual muito distinta. As dinâmicas partidárias são muito regionalizadas”. Para ela, o comportamento dos partidos indica uma necessidade de acomodar forças para "ampliar o mercado eleitoral”.

“Há uma legislação que deixa os partidos bastante livres para tomar decisões. Para as executivas nacionais, também não é interessante, a não ser em situações muito constrangedoras, impor uma lógica nos estados”, diz Silvana Krause, uma das organizadoras do livro “Coligações Partidárias na Nova Democracia Brasileira - Perfis e Tendências”.

O cientista político Yan Carreirão, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que um dos problemas é a “fragmentação” no sistema partidário no país.

 “O fato de, no Brasil, a legislação favorecer os partidos pequenos, que conseguem o mínimo de representação, com recursos de poder como tempo de TV e fundo partidário, faz com que eles sejam cobiçados no momento das eleições.”

Segundo ele, no entanto, os acordos também revelam que os partidos “cada vez menos se diferenciam ideologicamente”.

"Entre os relevantes, a distância diminuiu. Mesmo entre PT e PSDB, ela já foi maior. Então fica difícil para os eleitores diferenciarem os partidos e as coligações. O eleitor tem uma tarefa bastante complicada na hora do voto.”

Sobre a divisão da base de apoio dos candidatos, Carreirão diz que é muito difícil evitar que isso aconteça. "Claro que o ideal para um candidato a presidente é ter em cada estado um palanque composto por todos os partidos da coligação nacional. Mas hoje, devido ao grau de fragmentação e pelas diferenças estaduais do partidos, é algo inviável."

Fonte: G1