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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Deputado e doleiro são citados em caso de corrupção de 1999 no PR




O doleiro preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, desencadeada pela Polícia Federal em março deste ano e o deputado federal André Vargas são coadjuvantes de um caso de corrupção na Prefeitura de Londrina, que aconteceu em 1999. De acordo com o Ministério Público, o caso envolveu o desvio de R$ 12 milhões, em valores da época. A situação culminou na cassação do então prefeito da cidade, Antônio Belinati.

Conforme o promotor Claudio Esteves, Youssef foi processado por lavar R$ 120 mil, desviados pelo grupo que comandava as licitações da antiga autarquia municipal responsável por cuidar do meio ambiente. Já André Vargas teria recebido outros R$ 10 mil do total desviado. Esse dinheiro foi parar no financiamento da campanha do então candidato a deputado federal, Paulo Bernardo, que hoje é ministro das Comunicações.

Esteves explica que, embora os casos tenham sido gerados no mesmo escândalo, à época não foi possível estabelecer qualquer relação entre Youssef e Vargas. O envolvimento deles se deu, segundo o promotor, em duas licitações irregulares da autarquia, publicadas na mesma data. As investigações mostraram que eles tiveram envolvimento com o desvio de dinheiro em cada uma dessas licitações.

“Nos dois casos, o dinheiro foi parar na conta de um empresário, que usava uma conta fantasma do Youssef no Banestado para lavar o dinheiro”, diz o promotor. Segundo ele, o doleiro chegou a ser preso na ocasião, devido ao envolvimento. “A outra licitação foi parar na mão do principal assessor do prefeito, que trocou cheques e deu uma parte para o André Vargas colocar na campanha do Paulo Bernardo”, conta Esteves.


À época do caso, Vargas já era membro do PT, mas não possuía nenhum cargo público. Ele e o doleiro foram processados, mas cada um responde uma ação distinta na Justiça. “Eles são produto da ação do mesmo grupo que comandava a prefeitura, o [Antônio] Belinati, o [José] Janene (ex-deputado federal)”, lembra o promotor.

O processo contra Vargas chegou a ser julgado em primeira instância e o deputado foi condenado a devolver os R$ 10 mil, mas ele recorreu da sentença. Já a ação contra Youssef ainda não foi julgada. Conforme o promotor, a Justiça não acatou a denúncia contra Paulo Bernardo, já que não foram encontradas provas do envolvimento dele com o recebimento dos R$ 10 mil desviados.

Esteves diz ainda que Vargas chegou a se comprometer a devolver a quantia. "O interessante desse caso é que o Vargas, quando foi ouvido por nós, disse de maneira cabal que devolveria o dinheiro se fosse comprovada a origem ilícita, mas até agora ele não devolveu", conta o promotor que garante ter uma declaração assinada pelo deputado, confirmando o compromisso.

O G1 procurou o deputado Vargas para comentar a situação. A assessoria dele ficou de responder os questionamentos levantados pela reportagem. Até a publicação deste texto, ainda não havia nenhuma resposta.


Promotor surpreso

A investigação da Polícia Federal que culminou na prisão de Youssef apontou também que ele e André Vargas mantinham contato frequente por telefone. Em um trecho divulgado pelo jornal "Folha de S. Paulo", a PF constatou que o deputado viajou com a família em um jatinho pago pelo doleiro. No fim de semana, outro trecho divulgado pela revista "Veja" traz trechos de uma conversa entre os dois, supostamente fazendo acertos para um contrato de uma empresa usada por Youssef para lavar dinheiro com o Ministério da Fazenda.

Embora o próprio deputado tenha reconhecido em discurso na Câmara que já conhece Youssef há cerca de 20 anos, o Ministério Público não encontrou nenhum indício de ligação entre o doleiro e Vargas. Para Claudio Esteves, os resultados obtidos pela PF causam surpresa.

Licença

Com a pressão, o deputado acabou pedindo uma licença de 60 dias do cargo de deputado, na segunda-feira (7). Ele alega ser vítima de um “massacre midiático”. Ele diz que nesse período vai tentar se defender das denúncias de ligação com o doleiro que têm sido divulgadas pelos veículos de comunicação.

No mesmo dia da licença, o juiz federal Sérgio Fernando Moro determinou à PF que encaminhe ao Supremo Tribunal Federal (STF) os trechos da investigação sobre Youssef que tratam da relação com o deputado. Segundo o juiz, a polícia terá 10 dias para levantar todos os dados. A medida foi tomada porque Vargas possui foro privilegiado e a justiça em primeira instância não tem competência para apurar e julgar eventuais desvios de conduta de parlamentares que possam ser encontrados na investigação.


Fonte: G1