Após 28 dias de trabalho, quando foram tomados 82 depoimentos e realizadas diversas perícias criminais, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e do Sistema Penitenciário (CGDOSPSP) já tem indícios que apontam o envolvimento direto de policiais na chacina que deixou 11 pessoas mortas em Messejana, na madrugada do dia 12 de novembro passado.
Na manhã desta quinta-feira (10), o órgão se pronunciou oficialmente sobre o caso, pela primeira vez desde o início da apuração do massacre. As delegadas de Polícia Civil Adriana Câmara, Reny Sales Filgueiras e Bianca de Oliveira Araújo, concederam uma rápida entrevista coletiva sobre o caso. As três são integrantes da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) da Controladoria e as responsáveis pelo inquérito que investiga a matança.
Com o caso sendo investigado de forma sigilosa, as delegadas responderam às indagações dos jornalistas sem entrar em detalhes da investigação. Segundo Adriana Câmara, titular da DAI e presidente do inquérito, das três hipóteses iniciais sobre a motivação da chacina, duas delas, apesar de não terem sido ainda completamente descartas, já “enfraqueceram”.
Para a CGD, a linha mais robusta de provas e indícios de investigação aponta que a morte das 11 pessoas no mês passado, nas comunidades da Lagoa Redonda, Conjunto São Miguel e Curió, foi uma vingança deliberada de “agentes públicos” pelo assalto que resultou na morte de um policial militar horas antes do massacre.
As outras duas hipóteses já estão praticamente eliminadas. A primeira levantava a suspeita de uma suposta retaliação pelo assassinato de um traficante de drogas no Anel Viário de Fortaleza logo após ele deixar o Presídio do Carrapicho, em Caucaia, onde esteve preso por crime de tráfico de entorpecentes. A segunda, seria um “acerto de contas” entre quadrilhas por conta da prisão de um chefe de quadrilha conhecido por “Castor”, preso com um fuzil calibre 5.56 durante uma operação policial em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Com o “enfraquecimento” das duas hipóteses, restou a certeza de que a morte das 11 pessoas foi praticada por policiais.
As delegadas informaram, ainda, que além dos depoimentos de 82 pessoas, entre testemunhas dos crimes, familiares das vítimas, informantes e de policiais que atenderam às ocorrências naquela madrugada, também foram ouvidas outras vítimas dos atiradores. São, pelo menos, sete pessoas que foram baleadas pelos autores da chacina, mas que conseguiram sobreviver. Estas pessoas estão ainda se recuperando das lesões e seus paradeiros são mantidos em sigilo, assim com suas identidades, por razões óbvias de segurança.
A CGD também informou que a transferência do inquérito para aquele órgão aconteceu no último dia 17, portanto, cinco dias após sua instauração na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). E mais, a Controladoria entrou no caso devido ao surgimento de indícios que realmente apontam “agentes públicos” como responsáveis pela carnificina.
Três promotores de Justiça acompanham o andamento das investigações. As três delegadas requisitaram diversas perícias. Algumas já foram concluídas. Outras ainda estão sendo realizadas pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce), entre elas, análises de vídeos e de conversas telefônicas.
Blog do Fernando Ribeiro