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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Desembargador que teve carro alvejado a tiros afirma ter sofrido ameaças


O desembargador Francisco Pedrosa Teixeira, que teve o carro oficial disponibilizado a ele alvejado a bala na noite de 10 de julho, afirmou que foi ameaçado por telefone no começo do ano. Ele afirmou que não estava no carro do momento dos tiros e que o veículo deveria estar na garagem do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) no horário em que ocorreu o fato. Pedrosa disse ainda que já apresentou esclarecimentos junto à Presidência sobre o episódio.

De acordo com Boletim de Ocorrência registrado no 30º DP (Conjunto São Cristóvão), na tarde de sábado (11), o motorista do magistrado afirmou que foi vítima de uma tentativa de assalto no bairro Vila Manoel Sátiro na noite do dia anterior. Na ocasião, o veículo, um Honda Civic de cor preta que estava sem as placas de bronze do TJCE, foi atingido por diversos disparos de arma de fogo.

Em entrevista, na tarde de ontem, no gabinete dele, na sede do Poder Judiciário Estadual, o magistrado contou que uma pessoa dizendo ser traficante telefonou para a residência dele, causando temor pela segurança. "Registrei Boletim de Ocorrência em 14 de janeiro de 2015, por um telefonema anônimo. Quando minha esposa atendeu, disseram que era para falar comigo. Passou para mim, e ele disse em tom ameaçador que era um traficante. Na época eu era presidente da Primeira Câmara Criminal", relatou.

A partir deste momento, o desembargador Francisco Pedrosa diz que passou a tomar medidas de segurança. Dentre elas, substituir a placa de bronze do veículo oficial a ele disponibilizado pelo TJCE pela placa descaracterizada, de cor cinza. "Por questão de segurança, em alguns momentos eventuais, é usada a placa descaracterizada. Diante dessa ameaça, é óbvio que a gente toma alguns cuidados. O meu percurso (voltando para casa) foi recomendado pela segurança do Tribunal, para não seguir o mesmo caminho habitual. Tive de mudar de itinerário", relatou.

De acordo com o desembargador, a presidente do TJCE, desembargadora Iracema do Vale, já foi informada pelo próprio magistrado acerca da versão que ele dá ao que ocorreu naquela noite. Francisco Pedrosa disse acreditar que o episódio que envolveu o carro usado por ele não tenha ligação com as ameaças sofridas no começo do ano.

"Os esclarecimentos já foram prestados à desembargadora presidente do Tribunal. Ela mandou apurar os fatos, notadamente com relação à autoria desses disparos. Até fui indagado se imaginava que os tiros eram para mim. Penso que não, pois não ando por lá (bairro Vila Manoel Sátiro) e imagino que quem quer atingir alguém, antes se informa qual o caminho por onde a pessoa é acostumada (a transitar)", afirmou.

O desembargador ainda garantiu que apenas realizava a substituição das placas quando julgava necessário diante do temor por sua integridade física.

"Eventualmente, utilizava a placa descaracterizada quando, a meu juízo, era para minha segurança. Mas isso era feito perante o setor de transporte, que é a quem a gente deve se dirigir. Na sexta estava (sem a placa de bronze) pois eu fui ao médico. Desembargador também adoece", disse.

Motorista
Pedrosa não escondeu o descontentamento com o motorista José Airton de Oliveira. Conforme o magistrado, a ordem dada a ele naquela sexta era levar o carro para a garagem do TJCE. 

"Ele me faltou com a confiança. Eu comuniquei à Presidência e a desembargadora o demitiu. Só se trabalha com a pessoa até onde se confia", disse.

Após a divulgação do caso pelo jornal, o desembargador Raimundo Nonato Silva Santos renunciou ao cargo de ouvidor-geral do TJCE. Ontem, procurado pela reportagem, ele disse que após tomar conhecimento do fato enviou ofício à Presidência para que tomasse providências.

Santos disse que o motorista de Pedrosa era reincidente em problemas envolvendo os veículos oficiais do Tribunal. "Desde 2010 ele estava dando prejuízo. Avança sinal em alta velocidade, sem a placa do Tribunal, em plena madrugada. Teve dois carros roubados. Cometeu uma série de infrações", afirmou.

Além da renúncia do ouvidor-geral e da demissão de José Airton de Oliveira, o incidente envolvendo o veículo oficial resultou, também, na exoneração do chefe da Assistência Militar do TJCE, tenente-coronel Francisco Coraci Camelo Ponte.

Diário do Nordeste