O Ceará registrou, de janeiro a março deste ano, 2.679 casos de dengue, número 23,7% menor que em igual período do ano passado, quando 3.514 confirmações foram feitas pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Apesar da diminuição, chama a atenção o aumento dos casos graves da doença. Foram 77 de janeiro a março de 2015, 102,6% a mais que em igual período do ano passado - 38. O crescimento preocupa, principalmente porque as ocorrências com complicações são as com maiores chances de resultarem em óbito.
Três pessoas morreram, só neste ano, vítimas de dengue no Ceará. Todas elas por registros graves ou por complicação da doença. Porém, para o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Anastácio Queiroz, a quantidade pode ser ainda maior, já que podem ter ocorrido óbitos nos quais a doença não foi detectada.
"É possível que esse número seja superior ao apresentado. Às vezes, a pessoa está com quadro de dengue e, na necropsia, consta outra causa. Na maioria das ocorrências é uma doença simples, mas pode levar à morte", alerta o médico.
Ele explica que o Ceará convive com a dengue desde 1986. Neste período, já circularam os quatro tipos de vírus. E, como muitas pessoas já tiveram pelo menos um dos tipos, as chances de terem por outro tipo é maior. Para piorar a situação, quando a pessoa é acometida pela segunda ou terceira vez, a chance de vir mais agressiva é maior.
Abordagem
Queiroz comenta que os casos graves às vezes passam despercebidos, pois os sintomas facilmente podem ser confundidos com outras patologias. Por isso, enfatiza a importância dos pacientes serem bem avaliados clinicamente e no laboratório. "É preciso que os médicos se perguntem: será essa uma apresentação grave da doença? Até falta de ar pode ser sintoma de dengue grave. Essa abordagem criteriosa permitirá um tratamento adequado evitando que caminhe para complicação. Os doentes, principalmente os que retornam à emergência, devem ser avaliados detalhadamente".
Márcio Garcia, coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa, confirma que o aumento das ocorrências graves é motivo de preocupação. Para ele é um alerta não só à população, que não deve banalizar a doença, já que ela pode levar a óbito, como também para todas as unidades e profissionais de saúde, que deverão estar atentos aos sinais graves evitando que o paciente evolua para complicação.
Prevenção
O gestor afirma que a forma de prevenir a dengue não mudou. "É uma ação de competência dos municípios, com o trabalho diário de combate à dengue, com visita dos agentes de endemias de casa em casa e nas escolas. Esse, sem sombra de dúvidas, é o serviço que traz melhores resultados. Nos casos nos quais as ações de rotina, estão sendo feitas, mas não surtem efeito, a Secretaria da Saúde aciona o fumacê, que entra como complemento para reforçar o controle da doença.
A dengue está presente em 79 dos 184 municípios cearenses (53%), com destaque para Hidrolândia, Ipu, Jacás, Pires Ferreira, Porteiras e Arneiroz, com incidência acima de 300 por 100 mil habitantes. Já a Capital concentra 547, dos 2.679 registros confirmados no Estado. Chama a atenção a discrepância na distribuição dos registros. Enquanto a Regional VI centraliza 229 casos, a Regional II apenas 32.
Carlos Alberto, coordenador de Ações e Controles Vetoriais da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informa que a diferença se deve à densidade populacional e ao fato de a Regional II já ter concentrado um grande número de casos. "Se, nesse período, as pessoas já tiverem desenvolvido a doença, elas estão imunizadas", justifica. Ainda assim, informa que, por causa do alto índice, as ações na Regional VI estão sendo intensificadas. O gestor diz que a SMS trabalha em quatro frentes: controle fiscal, materializado pela visita domiciliar do agente; controle químico, com aplicação de inseticida; controle legal, com notificação dos imóveis; e ações de educação em saúde e mobilização social, com palestras em escolas, creches e empresas.
Mais informações:
Para solicitar serviços relacionados à dengue é só ligar 0800.275.1520
Luana Lima
Repórter
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FONTE DN