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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Fóssil achado no Ceará revela que serpente tinha patas

Espécime provavelmente saiu contrabandeado do Brasil. Traz evidências de que cobras surgiram a partir de lagartos que viviam em tocas no chão
Vista geral da cidade do Crato, no cariri cearense, e ao fundo a chapada do Araripe

Um fóssil de 120 milhões de anos que foi levado para fora do Brasil em circunstâncias misteriosas, provavelmente escusas, é o primeiro exemplar conhecido de serpente primitiva com quatro patas. A descrição da espécie extinta está na edição desta semana da revista especializada Science, de Nova York. O trio formado pelo britânico David Martill, o norte-americano Nicholas Longrich e o alemão Helmut Tischlinger afirma que a criatura, descoberta na chapada do Araripe, no Ceará, traz evidências de que as cobras surgiram a partir de um grupo de lagartos que viviam em tocas no chão.

Esses ofídios primitivos, de acordo com eles, caçavam pequenos vertebrados por meio da técnica da constrição, enrolando-se em torno deles para esmagar a presa, mais ou menos como fazem as jiboias de agora. De fato, o fóssil foi preservado com restos de um animalzinho, talvez um sapo ou lagarto de pequeno porte, em seu intestino.

É possível ver claramente pequenas patas dianteiras e traseiras no fóssil, batizado de Tetrapodophis (”Serpente de quatro patas”, em grego). Apesar de minúsculos, os membros podem ter sido funcionais. Talvez fossem úteis para agarrar parceiros durante o acasalamento, propõem os paleontólogos.

Embora o bicho fosse terrestre, acabou se fossilizando cercado por inúmeros flocos de fezes de peixe petrificadas. Durante a era dos dinossauros, o Araripe era uma região costeira repleta de lagunas de água salobra. “Achamos que o corpo pode ter sido levado para dentro dessas lagunas por rios. Por outro lado, muitas cobras sabem nadar, então não é impossível que ela tenha pulado dentro d’água em busca de presas”, diz Martill.

O trio que descreveu a espécie afirma que a Tetrapodophis passou décadas nas mãos de um colecionador particular antes de ser repassada para um museu na Alemanha, e que faltam registros detalhados sobre como e quando foi obtida por seu dono original. Desde 1942, fósseis brasileiros são considerados bens da União por lei e são proibidos de comercialização. 

(das agências de notícias)