Com índices alarmantes de violência, a sensação de insegurança é generalizada. A situação é crítica, tanto que nem mesmo dentro de casa as pessoas se sentem mais seguras. Esta realidade se reflete nos dados. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014 - pesquisa divulgada, ontem, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública -, 4.435 mortes violentas foram registradas, no ano passado, no Ceará. Elas incluem vítimas de homicídios dolosos (com intenção de matar) e ocorrências de latrocínios (roubo seguido de morte) e lesões corporais seguidas de morte. O número dá a média de 12 pessoas assassinadas, por dia, em todo o Estado.
A taxa é de 50,4 mortes para cada 100 mil habitantes, deixando Ceará em 2º lugar no ranking dos estados brasileiros com maior número de crimes violentos em 2013, atrás apenas de Alagoas, que lidera com 67,5. Os índices são bastante superiores à média nacional, que apresentou índice de 26,6 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Em cinco anos, o aumento das mortes violentas no Ceará foi de 86,18%. Em 2009, foram registrados 2.382 casos, saltando para 4.435 em 2013.
Perfil
Os jovens são os que mais morrem. Prova disso é que 60,53% das vítimas possuem entre 15 e 29 anos. Outros 36,96% têm 30 anos ou mais, 2% menos de 15 anos e, em 0,49% dos casos, a idade foi ignorada. Com 93,8%, os homens são, em disparado, os que mais são assassinados. Considerando a raça/cor, 48,6% das mortes foram entre pessoas pardas, 5,8% brancas, 0,7% pretas e 44,7% a cor foi ignorada.
O sociólogo Geovani Jacó de Freitas, pesquisador do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência (Covio) da Universidade Estadual do Ceará (Uece), comenta que há um investimento muito alto em segurança pública no Ceará e em todo o País, mas a resposta é muito baixa. "Existem territórios preferenciais e existem formas específicas - como o crime organizado, que é uma das causas dessa violência no Ceará -, os conflitos interpessoais e o uso indiscriminado de armas de fogo, promovida, sobretudo, pelo mercado organizado de armas", destaca.
O especialista acrescenta que existe um conjunto de especificidades que são responsáveis pela criminalidade. Em contrapartida, não observam-se ações de estado específicas que atuem nesses recortes e nem uma formação policial que prepare o profissional para agir nessas múltiplas causas de forma preventiva. "Temos uma polícia que traz na sua formação um papel de combate, não à causa, mas aos criminosos. Essas ações ostensivas se mostraram ineficazes uma vez que a polícia que mata é uma polícia despreparada". Freitas afirma que o Ceará tem um modelo de segurança público mal articulado. "Não é uma política de estado, mas de governo, que cada vez se reproduz em um modelo conservador, tradicional".
Ações
Em nota emitida pela assessoria de imprensa, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) destaca que as ações desenvolvidas pelo órgão e por suas vinculadas - Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Perícia Forense do Ceará - vêm consolidando os resultados obtidos pelo Programa em Defesa da Vida, que teve início em janeiro deste ano.
A Secretaria ressalta que, pelo terceiro mês consecutivo, se comparado com o igual período do ano passado, o número de crimes violentos letais intencionais registrado no Ceará teve queda.
"No mês de outubro, houve redução de 12,2%, superando em 6,2 pontos percentuais a meta de diminuição estabelecida de 6%. No mês passado, foram 375 crimes violentos, enquanto em outubro de 2013, 427 casos. Em setembro último, a queda foi de 22,3%. Já em agosto, a diminuição foi de 15,6%", informa.
Luana Lima
Diário do Nordeste.