Em meio à crise na saúde pública vivida nos últimos meses em todo o Estado, a quantidade de pacientes à espera de atendimento nos principais hospitais do Ceará bateu recorde nesta semana. De acordo com o levantamento diário realizado pelo Sindicato dos Médicos do Ceará, na última quarta-feira (6), 426 pessoas se encontravam internadas nos corredores de grandes emergências da Capital, como o Instituto Dr José Frota (IJF) e o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que, nesta semana, quase suspendeu cirurgias eletivas por conta da lotação. O número é o maior registrado desde a criação do "corredômetro" pela entidade, há duas semanas.
Conforme o relatório, do total de pacientes, 119 estavam acomodados em nove Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza, aguardando transferência para outras instituições. Os centros monitorados pelo Sindicato são os dos bairros Praia do Futuro, Autran Nunes, Messejana, Canindezinho, José Walter, Conjunto Ceará, Jangurussu, Itaperi e Pirambu. Mesmo sendo de atenção secundária, as unidades possuíam, na quarta-feira, 21 pessoas entubadas.
Em seguida, vêm o IJF, com 109 pessoas nos corredores; o Hospital de Messejana (HM), com 78; e o HGF, com 60. Este último solicitou, na última quarta, a paralisação de cirurgias eletivas por tempo indeterminado à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), em decorrência do desabastecimento de insumos básicos e da superlotação das emergências Geral e Obstétrica e da UTI Neonatal. O pedido foi negado pelo órgão e os procedimentos mantidos.
Na lista do "corredômetro", aparecem, ainda, o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e o Hospital São José (HSJ). Nas duas unidades, respectivamente, 50 crianças e dez pessoas estavam nos corredores.
Segundo Paulo Everton, secretário-geral do Sindicato dos Médicos, a quantidade de pacientes internados de forma improvisada nas instituições oscila regularmente, de acordo com o perfil de cada hospital. No entanto, ele destaca que a situação atual das emergências reflete a desestruturação da saúde pública no Estado, marcada por problemas de gestão.
"Não há mais rede de apoio às emergências. De 2003 a 2013, 30 hospitais particulares conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde), que davam suporte e recebiam pacientes transferidos das principais unidades, foram descredenciados. Agora, as pessoas chegam nas emergências lotadas e não têm mais para onde serem encaminhadas, então acabam atendidos de forma precária nos corredores", opina.
Sistema
Trabalhadores do sistema de saúde denunciam as precárias condições. Falta de profissionais, de insumos e de medicamentos são os relatos feitos pelo Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde do Ceará (Sindsaúde). Marta Brandão, presidente da entidade, diz que a situação nos grandes hospitais do Estado é de "caos absoluto".
Em relação ao HGF, uma das médicas da unidade, cuja identidade será preservada, afirma que esta é a pior fase do hospital nos últimos anos. Ela relata a ausência de materiais essenciais para a realização de exames, equipamentos de imagem quebrados. "À medida que não temos condições de fazer exames e dar o diagnóstico de imediato, vai crescendo o tempo de permanência dos pacientes, que já chegam com quadro de alta complexidade", revela.
fonte DN