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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Três delegados e 13 inspetores são alvos de operação da PF



Três delegados e 13 inspetores da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), da Polícia Civil, foram alvos de mandados de condução coercitiva durante a deflagração da Operação "Vereda", da Polícia Federal (PF), realizada ontem, para apurar uma série de crimes praticados na Delegacia, como extorsão e corrupção. Dois dos policiais investigados chegaram a ser presos em flagrante, mesmo destino de outros quatro suspeitos. Ao total, 25 pessoas foram alvos da Operação. Um homem que também estava sendo investigado foi assassinado a tiros na última sexta-feira (1º), no bairro Ellery, em Fortaleza.
Conforme decisão do juiz federal substituto da 12ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Ceará, Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, dez agentes de segurança foram afastados das funções da Polícia Civil por 90 dias, com recolhimento de armas, identidade funcional e distintivos; enquanto os outros seis serão removidos compulsoriamente para outras unidades em em funções administrativas.
Apesar de a PF não divulgar os nomes dos envolvidos, a DCTD possuía exatamente três delegados. A reportagem apurou que a diretora da Especializada, Patrícia Bezerra, e o delegado adjunto Lucas Aragão foram afastados da Polícia Civil; já a delegada Anna Cláudia Nery será removida para uma função administrativa.
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Ontem, na sede da PF, o secretário da Segurança, André Costa; o superintendente da PF, Delano Bunn; o delegado Geral da Polícia Civil, Everardo Lima; e o delegado Gilmar Santos deram detalhes da operação
Segundo o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, o que determinou a decisão da Justiça sobre o destino dos policiais foi "o maior e o menor envolvimento nas suspeitas de atuação". "Queria deixar claro que a DCTD é composta de muitos outros policiais, esse quantitativo é a minoria do efetivo lá. Muitos policiais não foram envolvidos", enfatizou o secretário.
O delegado geral da Polícia Civil, Everaldo Lima, ponderou que o caso repercute negativamente para a imagem da Instituição, mas que a Pasta irá contribuir para a investigação e para a punição desses crimes. "Já que nós temos a incumbência de combater o crime, mais do que nunca devemos estar atentos a ocorrências delituosas dentro da nossa própria Instituição", disse Everardo Lima.
"A gente tem que fazer uma reflexão e diferenciar o que é a Instituição, que tem pessoas corretas, de bem, que trabalham todos os dias e vão continuar combatendo o crime, do que são alguns integrantes que desviaram a conduta. Senão, a gente vai criar um ambiente de condenar a Instituição, que não pode acontecer de maneira nenhuma. A gente está tratando de um grupo bem pontual", afirmou o superintendente da Polícia Federal no Ceará, Delano Cerqueira Bunn.
O secretário de Segurança adiantou que a delegada Socorro Portela irá assumir a direção interina da DCTD, com liberdade para escolher quais policiais serão mantidos, removidos e incorporados ao quadro da Especializada. "O nosso grande foco agora é manter o trabalho da DCTD. Temos danos para gerenciar, é o que já estamos procurando fazer. Por ser um setor fundamental para a segurança pública, que é a especializada em combater o tráfico de drogas, a gente sempre vai tentar priorizar o efetivo, recursos logísticos, vamos dar todas as condições à doutora Socorro Portela", revelou.
Esquema
Segundo o presidente do inquérito que resultou na Operação Vereda, delegado federal Gilmar Santos Lima, os policiais civis investigados entravam em negociação com suspeitos de tráfico de drogas e tiravam vantagem para si. Os agentes de segurança subtraíam ou pediam dinheiro ou mesmo material ilícito, como drogas e anabolizantes, em troca de relaxar o flagrante ao criminoso. Os investigados que não são policiais foram qualificados pela PF como 'colaboradores' ou 'informantes' nas negociações.
Os investigados podem vir a responder pelos crimes de peculato, concussão, corrupção passiva, associação criminosa, tráfico de drogas, comercialização ilegal de anabolizantes, falsificação de moeda e posse ilegal de arma de fogo.
Durante as diligências, a Polícia Federal prendeu em flagrante seis investigados - dentre eles dois policiais civis - por portarem dinheiro falsificado, drogas e armas de fogo irregulares. Os outros 19 suspeitos foram conduzidos à sede da PF, prestaram depoimento e foram liberados em seguida.
A PF mobilizou 150 policiais federais para cumprir 27 mandados de busca e apreensão e os 25 mandados de condução coercitiva, expedidos pela 12ª Vara Federal. As medidas judiciais foram cumpridas na sede da DCTD, no bairro de Fátima, e em residências dos suspeitos, na Capital e nos municípios de Caucaia e Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). As buscas resultaram na apreensão de R$ 340 mil em espécie, cédulas de dinheiro falsas, armas de fogo e aparelhos celulares.
A SSPDS acompanhou e contribuiu com a investigação. "Sempre trabalhamos de forma integrada com a Polícia Federal. Nesse caso específico, prestamos apoio que foi solicitado à Polícia Federal através da Coordenadoria de Inteligência (Coin). Confiamos no trabalho da PF, feito com isenção", garantiu o secretário André Costa.
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"Em uma investigação como essa, precisamos de colaboração interna, porque a gente está tratando de uma outra instituição policial, e muitos levantamentos precisavam ser feitos pela própria Secretaria da Segurança Pública, que não seriam possíveis por parte da PF", destacou o superintendente Regional da Polícia Federal no Ceará, Delano Cerqueira Bunn.
A movimentação foi intensa na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas, durante a manhã de ontem. Policiais federais inspecionaram computadores e documentos e, com a ajuda de um cão farejador, buscaram drogas em veículos de policiais e em automóveis apreendidos, no estacionamento do prédio. Policiais civis que não estavam sendo investigados e funcionários terceirizados da Especializada foram liberados da função, enquanto os portões da Especializada foram trancados.

Delação premiada de português levou à esquema

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O português Carlos Miguel de Oliveira Pinheiro fechou acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF)
A investigação da Polícia Federal (PF) que resultou na Operação "Vereda" começou com a delação premiada de um português que foi preso em duas oportunidades pela Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), por vender anabolizantes oriundos da Europa.
Carlos Miguel de Oliveira Pinheiro entrou em acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em 2016, e relatou que teve bens subtraídos por policiais civis em duas ocasiões.
A reportagem apurou que, segundo a delação, o primeiro episódio aconteceu em 18 de maio de 2015, quando os agentes de segurança teriam entrado no apartamento do português para efetuar uma busca e recolheram R$ 90 mil, anabolizantes avaliados em R$ 50 mil, perfumes, lençóis e celulares. Na sequência da investigação, a DCTD chegou a dois comparsas de Carlos Miguel e prendeu apenas um deles, já que o outro pagou R$ 15 mil exigidos pelos policiais.
Em 16 de outubro de 2015, em nova diligência à residência do português, os policiais da Especializada teriam apreendido mais anabolizantes e exigido R$ 25 mil do suspeito para que ele não fosse preso. Como não realizou o pagamento, ele recebeu voz de prisão. O colaborador ainda relatou que a quantidade de ilícito apreendida e divulgada pela DCTD formalmente era inferior ao número correto.
O português passou sete meses na prisão. Em 2 de junho de 2016, ele voltou a ser preso pela Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas pelo comércio de anabolizantes. O suspeito afirmou ao MPF que os policiais forjaram o flagrante, atribuindo o material que já havia sido apreendido - mas não havia sido registrado - a ele novamente. A prova é que o material retido tanto na primeira como na segunda prisão pertenciam ao mesmo lote.
Ao efetuar a segunda detenção, a Especializada apontou que Carlos Miguel faturava até R$ 600 mil por ano com a venda dos anabolizantes em academias de luxo de Fortaleza.
Investigações
Diante da delação premiada, o MPF encaminhou a investigação do caso à Polícia Federal, que realizou interceptações telefônicas e acompanhou as negociações do esquema criminoso.
"Segundo o acordo de delação premiada, havia, em princípio, uma tratativa entre os envolvidos e aquele criminoso, no sentido de livrar a situação flagrancial, onde era feito pagamento de valores, para que não houvesse prisão ou inquérito. Durante as investigações, nós verificamos que, da mesma forma como houve com esse colaborador no caso dos anabolizantes, estava acontecendo também com entorpecentes", afirmou o delegado federal Gilmar Santos Lima.
A partir das apreensões durante a Operação, a PF espera coletar provas sobre essa e outras práticas criminosas em que o grupo pode estar envolvido.

Policiais podem ser demitidos, diz CGD

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou, ainda ontem, que instaurou procedimentos disciplinares para apurar a conduta dos 16 policiais civis que são investigados por uma série de crimes na DCTD.
"Foi solicitado, à Polícia Federal, cópia do inquérito policial e o compartilhamento das investigações para a devida apuração na seara disciplinar. Se comprovado o envolvimento dos policiais, a punição poderá culminar até com a demissão dos mesmos", afirmou a CGD em nota.
Defesa
O advogado Leandro Vasques, que representa os três delegados investigados, afirmou que a delação premiada do português Carlos Miguel de Oliveira Pinheiro não cita nenhum de seus clientes e que a Operação foi deflagrada apenas para buscar elementos indiciários, que ainda não podem individualizar condutas.
"Preocupo-me com esse estardalhaço. Reputações e biografias construídas por anos a fio desmoronam diante do festival de 'denuncismos'. Isso é muito sério. Com todo respeito que elevo à operosa Polícia Federal, bem como à Justiça Federal, mas discordo totalmente dessa metodologia de trabalho, onde se realiza uma Operação para fins de ainda se buscar dados indiciários', pontuou Vasques.
O coordenador do corpo jurídico do Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Ceará (Sinpol-CE), advogado Marcos Costa, informou que terá acesso ao inquérito da PF apenas hoje, para elaborar a defesa dos inspetores. "Vou analisar a cópia e, na sexta-feira (8), já teremos condições de entender tod