-->

sábado, 17 de setembro de 2016

Reação da economia freia o desemprego no Ceará

O desemprego, uma das faces mais cruéis da atual crise, já dá sinais de que vai arrefecer. Ainda são pouquíssimos os setores da economia que estão voltando a gerar postos de trabalho, mas eles existem. Se não voltaram a contratar, ao menos pararam de demitir. Outros segmentos apostam no tradicional aquecimento econômico do último trimestre para impulsionar a retomada das contratações, na tentativa de repor os postos de trabalho perdidos nos meses anteriores.

No Interior do Ceará, uma das apostas para a retomada na geração de postos de trabalho é a indústria calçadista do Cariri, que já parou de demitir e espera retomar contratações no próximo mês de outubro. A agropecuária, que conseguir admitir empregados formais em quantidade superior às demissões em maio, junho e julho, dependerá das condições climáticas para se manter na crista da onda.

No Brasil, o setor da indústria têxtil e confecções voltou a registrar um número maior de contratações do que demissões em julho. No Ceará, o segmento da indústria têxtil no Ceará registrou saldo positivo de empregos no período de janeiro a julho (403 postos de trabalho), embora o número ainda não seja suficiente para repor as perdas de postos de trabalho registrada nos anos anteriores.

"A retomada do emprego tende a ser gradual, mas deverá acompanhar o desempenho econômico de nosso país. Como a expectativa para a economia é de baixo crescimento, isso se reflete também no nosso setor. De qualquer forma, a perda ocorrida nos últimos dois anos no Estado do Ceará, em torno de 2.500 empregos, não será retomada rapidamente", ressalta a presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado do Ceará (Sinditêxtil), Kelly Whitehurst.

Instrumentos

Já o analista de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita pensa diferente quanto à relação direta entre melhoria na economia e geração de empregos.

"Você pode ter uma melhoria na economia e isso não repercutir logo no mercado de trabalho. Os empregadores podem acabar se valendo dos instrumentos que têm. Nós já temos desde os anos 1990 instrumentos que as empresas acabam utilizando (para não criar novos postos), como banco de horas, horas extras e contratação temporárias", defende o analista.

O setor produtivo entoa em coro praticamente uníssono o aumento da confiança para investimentos após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas conjuntura atual ainda é de dificuldades. "As pessoas estão consumido estritamente o necessário. Você tem alto endividamento e uma inflação ainda elevada que não consegue ceder", defende Erle Mesquita.

Além disso, a reforma trabalhista pautada atualmente pelo presidente Michel Temer, que incluindo a legalização de jornadas de trabalho de até 12 horas por dia, pode acabar atrasando ainda mais a retomada da economia e da geração de empregos, segundo o analista.

"Novas alterações trabalhistas só vão acirrar o problema. É uma alternativa que não vai trazer a retomada do crescimento", defende ele.

Longo caminho

No Ceará, foram fechadas 28.793 vagas de emprego formal nos primeiros sete meses deste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em todo o Brasil, o saldo negativo é de 644.267 vagas. Isso mostra que o caminho é longo até o mercado de trabalho voltar a esbanjar criação de empregos, mas há empresários que já vislumbram o início desse processo.

Diário do Nordeste