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sábado, 20 de agosto de 2016

Trio é preso por falsificar documentos da Polícia Cearense


Um esquema de falsificação e comercialização de documentos policiais no Ceará foi desarticulado pela Polícia Civil. Na última semana, três homens com mais de 500 carteiras funcionais, além de distintivos e uniformes falsos foram presos na Capital. Os primeiros resultados da operação foram divulgados ontem em coletiva de imprensa no 30º DP (São Cristóvão), com a presença dos delegados Márcio Gutierrez e Tereza Cristina.

A investigação dos inspetores do 30º DP começou em julho deste ano, quando cinco pessoas foram presas e aproximadamente 46 mil comprimidos de ‘artane’, apreendidos. O medicamento de uso controlado era utilizado pelo grupo criminoso para dopar vítimas no golpe popularmente conhecido como “Boa-noite-Cinderela”.

Com os presos naquela ocasião, a Polícia encontrou também documentos policiais falsos e decidiu investigar qual a origem das réplicas. Um mês depois, foi descoberto um esquema estruturado que atua em Fortaleza há pelo menos dez anos e que pode ter se disseminado por todo o Estado.

A investigação encaminhou a Polícia diretamente a um dos “cabeças” do esquema e apontado como um dos mais antigos na prática criminosa no Ceará. Ítalo Wagner Honorato da Silva, 33, foi autuado em flagrante na última quarta-feira (17), com o material falsificado. O suspeito, que já havia sido detido por porte ilegal de arma de fogo, obtinha sua única fonte de renda da venda ilegal dos produtos. 

Entre os documentos falsos apreendidos com Ítalo, os inspetores encontraram a cópia de uma carteira policial emitida em nome de um dos membros da quadrilha preso no mês passado.

Na última quinta-feira (18), dando sequência à operação, a Polícia efetuou mais duas prisões: Antônio Emerson Bezerra Barros, 22, candidato a vereador para o município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF); e William Braga Magalhães Lima. Ambos não tinham antecedentes criminais.

Parte do material apreendido estava em um escritório no Centro da Capital, onde um dos presos recebia os contratantes. O delegado Márcio Gutierrez não revelou os outros locais das prisões para preservar o andamento da investigação que, segundo ele, “está apenas no início”. 

Na Delegacia, os presos negaram se conhecer, apesar das provas mostrarem a ligação entre eles no esquema. “Eles afirmam não se conhecer, mas as carteiras funcionais (falsas) deles são uma assinada pelo outro”, apontou Tereza Cristina.

Segundo o delegado, a estrutura vista nas primeiras prisões o faz acreditar que o esquema é ainda muito maior. “A gente sabe que tem muita carteira circulando aqui no Estado do Ceará. Não é de hoje, há alguns anos eu já percebo que um ou outro criminoso é preso e com ele é apreendida carteira semelhante a essa”, completou.

Comercialização

Os materiais apreendidos incluíam carteiras funcionais de investigador e detetive de Polícia e de agente do Poder Judiciário, brasões das polícias Civil e Militar, distintivos policiais e uniformes da categoria. Gutierrez definiu as réplicas como “quase perfeitas” e apontou os detalhes que diferenciam a falsificação da original: papel de qualidade inferior, plastificação (que não é permitida) e informações equivocadas como o poder de um investigador, que era exacerbado na carteiras falsas.

Para vender as carteiras funcionais ao preço de R$ 300, os criminosos enalteciam as regalias policiais, como utilizar transporte público e entrar em eventos sem pagar. A Polícia investiga também quais compradores dos materiais falsificados eram participantes da prática criminosa e adquiriram o material com má-fé e quais foram enganados pelo bando com promessas de que estavam pagando para exercer as funções legalmente.

“Eles (suspeitos) diziam que eram uma instituição que promovia cursos de investigador. E diziam que, após o curso, as pessoas receberiam um certificado e uma carteira de investigador. A gente sabe que muitas pessoas foram enganadas, mas a gente sabe também que eles vendiam para pessoas que queriam cometer crimes”, pontuou o delegado do 30º DP. 

Gutierrez e Tereza Cristina reforçaram a importância das pessoas que adquiriram o material falso procurarem a Delegacia para prestar esclarecimentos. Os delegados alertaram aos interessados nos cursos dessas categorias que se informem nos conselhos profissionais ou com as autoridades policiais sobre a idoneidade das instituições.

Os presos vão ser indiciados por falsidade ideológica, estelionato, usurpação de função pública e falsificação e utilização de sinal público e podem pegar até 15 anos de prisão. “Vamos direcionar as investigações para levantar o alcance do grupo no Estado”, concluiu Gutierrez.

Diário do Nordeste